Os convidados de Milena
Estava deitada na rede com meu notebook quando a minha irmã chegou. Ela percebe que eu estou escrevendo um conto e perguntou:
--Esse conto é de terror?
--É. Vou publicar no recanto da letras.
-- Seus contos não me assustam.
--Por que não?
-- Não sei explicar, eles só não me assustam...
Minha irmã não se assusta fácil. É um verdadeiro desafio escrever algo que a deixe assustada. Eu resolvi aceitar essa desafio. Mesmo que meu terror seja um pouco diferente disso.
--Eu vou criar algo que lhe assuste. -- fechei meu notebook e a chamei para se sentar do meu lado na rede--Vou lhe contar uma nova história que vai ter como principal objetivo isso. O nome da história será: "Os convidados de...". Me diga um nome de uma menina que você não gosta.
--Milena
--O nome será:"Os convidados de Milena".
*
Milena era uma menina muito mimada . Seus pais nunca lhe negavam nada. Exatamente por causa disso, quando eles lhe disseram que a festa dela de aniversário não seria no tão sonhado Salão Diamante a menina surtou. Ela ficou com muita raiva, primeiro por ter ouvido um não pela primeira vez, segundo por que o aniversário de sua "inimiga" da escola havia sido lá, ela não queria ficar por baixo.
Seus pais tentaram lhe explicar que no mês de seu aniversário o local estava com a agenda cheia, só havia vaga para festa no próximo mês. Eles tentaram negociar com a filha, prometeram brinquedos, roupas e nada adiantou.
Milena gritou com os pais, disse que odiava eles e subiu batendo forte o pé para o seu quarto. Ela subiu planejando uma vingança, ela iria fazer algo para provocar os seus pais. Mas o que? Essa era a dúvida.
Quando passou pelo crucifixo na parede teve a ideia perfeita. Seus pais eram muito ligados a superstições e temiam o sobrenatural. Eles eram aquele tipo que pede licença ao passar por despacho para que nada de ruim ocorra. Cemitérios eram locais proibidos para eles, de manhã faziam o caminho mais longo só para não passar pela porta do local tão temido.Nenhuma vingança seria mais eficaz do que uma ligada ao sobrenatural.
No outro dia, pela manhã, Milena acordou toda animada. Ela desceu para tomar café com a família levando uns convites na mão. Seus pais e seu irmão Breno ficaram felizes e acharam que ela tinha superado o fato de não ter sua festa onde queria. Mero engano.
O pai ao ver a filha com os convites na mão perguntou:
--Decidiu fazer a festa em outro lugar, filhinha?
--Vou fazer aqui em casa.
--Que legal! Quem você irar convidar? Só seus amigos próximos?
--Eu tenho uns convidados especiais.
--Quem?
Milena falou com um sorrisinho:
--Os mortos.
Seus pais se benzeram e bateram na madeira três vezes.
Mesmo sob os protestos dos pais , a menina foi no cemitério levar os convites. Ela entrou e deixou em cada lápide um convite feito a mão que dizia:
"Você está convidado!
Aniversário da Milena
Amanhã as 17:00 na rua Green casa 01
Tragam amigos"
Nas horas que antecederam a festa, o estado da mãe dela era horrível, a pobre mulher ficava no sofá apertando o terço nas mãos até sangrar e murmurava umas orações antigas para espantar os maus espíritos. Milena se divertia com tudo isso,e não satisfeita, para torturar ela mais ainda, ficava dizendo:
--Faltam 8 horas para os meus convidados chegarem!
O seu pai ficou chocado com a crueldade da filhinha adorada. A filhinha para a qual havia feito tudo. A única vez que ele e a esposa falaram não á menina, esta se achou no direito de tocar na área mais sensível deles. Diante de tudo isso, quando faltavam só duas horas, ele pegou Breno e a esposa que já estava quase arrancando os cabelos e saíram . Eles iriam para a igreja e ficariam lá até passar a hora escrita no convite. Talvez, eles falassem com o padre para ele fazer um exorcismo em Milena. Eles sabiam que com mortos não se brinca.
Antes de sair, o pai ainda se virou para a filha e falou:
-- Ainda dá tempo de mudar de ideia. Venha para a igreja com a gente. Você fez uma besteira, porém dá tempo de ajeitar ainda.
--Vocês são uns covardes mesmo. Quem morre não volta. Na cova que foi enterrado fica.
-- Quem morre realmente não volta, mas entidades malignas, até demônios podem se passar pela pessoa e vim no lugar dela.
Milena riu e falou muitas coisas que acabaram irritando o pai que disse:
--Vamos embora. Se você mudar de ideia sabe onde estaremos.
--Não irei mudar! Irei aproveitar o meu aniversário com meus convidados!
Quando os pais saíram, a garota ficou rindo pensando em como seus pais eram covardes. Mas, no decorrer dos minutos, a alegria foi passando, o medo pousou sobre seus ombros de forma leve a principio, mas a cada minuto pesava mais. Uma pergunta se formou em sua mente: E se os mortos realmente viessem? Ela riu desse pensamento e falou para ela mesma que mortos não voltam.
Milena pensou em ir para a igreja, quando se levantou para ir começou a chover, não foi apenas uma chuva, foi uma tempestade que a obrigou a fechar todas as janelas e portas. A chuva começou cinco minutos antes da hora do convite.
Após fechar as portas e janelas, pegou a chave e estava pronta para sair, todavia viu algo que a fez gritar e ficar parada no lugar. O crucifixo da sala estava de cabeça para baixo. Ela não era supersticiosa, mas sabia que aquilo era um mal sinal, lembrou que seu pai sempre dizia que era o crucifixo que protegia a casa.
Ela deixou as chaves em cima do sofá e foi ajeita-lo, não queria que a casa ficasse desprotegida em sua ausência. Ao toca-lo, todas as luzes se apagaram. Eram cinco horas em ponto.
Devido as portas e janelas fechadas, quando as luzes se apagaram a casa ficou sem nenhuma fonte de luz, para desespero da garota.
Não tem como descrever o estado de medo em que ficou. Era tanto medo que ela não conseguiu sair do lugar até as luzes se acenderem novamente. As luzes se acenderam mais não com toda potencia, a casa ficou toda só com meia luz. Mesmo com a casa meio escura, ela conseguiu ver algo tão assustador que a fez gritar e desmaiar, no canto da sala, uma criatura sem forma definida a encarava segurando as chaves da casa na mão.
Quando acordou, percebeu que a casa estava na total escuridão. Não era uma escuridão comum, ela parecia ter garras que queriam lhe agarrar.Foi impossível controlar os tremores de seu corpo, quando começou a ouvir passos cada vez mais próximos.
Um cheiro podre de peixe começou a dominar o ambiente e a escuridão parecia ficar mais densa a cada segundo. A pobre menina gritou quando algo parecido com uma serpente passou por sua perna, as escamas lhe machucaram e o cheiro que saia da criatura pareceu queimar seu olfato. Não demorou para garras agarrarem em seus cabelos, cabelos que eram seu motivo de orgulho. Usando suas últimas forças, a garota tentou soltar a garra de seus cabelos, mas suas mãos só encontraram o nada.
Ao ocorrer isso, o pouco de controle que havia nela lhe deixou, começou a espernear e a socar a escuridão. Sua roupa estava grudada em seu corpo por causa do suor e ela sentiu o calor da urina que descia por suas pernas. Sua garganta queimava e ela só conseguiu ordenar:
--Vão embora! Me deixem em paz!
Várias vozes macabras responderam da escuridão:
--Ir embora? --a voz parecia de serpente
--Você nos convidou.
--Somos seus convidados.
--Não é educado manda os convidados embora tão cedo, ainda nem comemos.
-- A festa está só no começo! Os convidados só vão embora quando a festa termina! A nossa festa estava só no começo!
Milena gritou e tentou se levantar. Tudo em vão. Ela gritou mais ainda quando sentiu garras lhe agarrarem e dentes afiados começarem a lhe devorar ainda viva.
*
Após terminar a narrativa, olho para a minha irmã e pergunto:
-- O que achou ?
--Faltou dizer o que ocorreu com os pais e o irmão dela.
-- Ok. Vou continuar
*
Os pais de Milena e seu irmão Breno voltaram para casa durante a noite. Eles não voltaram sozinhos. Voltaram na companhia de um padre conhecido, o religioso veio com o objetivo de espantar qualquer mal espírito que estivesse na casa.
A mãe da menina ainda estava assustada, então ela ficou no carro com Breno enquanto o marido e o padre iam até a casa, ela iria voltar só depois da casa ter sido exorcizada.
Ao chegar na casa , o pai de Milena estranhou o silêncio e a escuridão da casa, além da porta entre aberta. Ele pensou que poderia ser mais uma das armações da filha e por isso começou a chama-la com raiva:
--Milena, já me cansei dessas suas brincadeiras!
Ao não obter resposta, ele e o padre entraram, o padre ficou parado na porte enquanto ele tentou ligar as luzes, a principio calmo, mas depois de um tempo já em desespero, por causa desse desespero ele acabou apertando o interruptor do ventilador de teto sem querer.
Logo após ligar o ventilador, ele sentiu que algo gosmento e com cheiro ruim voou do ventilador em sua direção e na direção do padre. Essa massa gosmenta os atingiu em cheio no rosto.
Como por mágica, após essa gosma voar neles, todas as luzes se acenderam revelando um cenário assustador. No claro, para horror deles, viram que o que lhes atingiu foram pedaços de intestinos humanos. Alguns desses pedaços ainda se encontravam pendurados no ventilador que estava perdendo força, quase parando, e espalhados pelo chão.
O pai de Milena entrou em desespero e subiu as escadas chamando pela filha. Ele temia que algo de ruim tivesse ocorrido com ela. O desespero aumentou quando ele constatou um rastro de sangue na escada, era como se algo houvesse sido arrastado por lá.
O padre ficou com medo, parecia que algo muito maligno estava naquele local. Ao ver o pai de Milena subindo as escadas, percebeu que era a oportunidade perfeita para ir embora. Todavia ele não teve tempo, alguma força lhe agarrou antes que pudesse sair. Essa força lhe jogou com força contra a parede. Quando ele bateu na parede as luzes se apagaram.
O padre tentou fazer todas as suas orações para expulsar os demônios da casa. Porém, elas não surtiram efeito. A casa parecia está cheia. Ele podia sentir olhos do mal lhe encarando. No meio de uma dessas orações, ele sentiu uma entidade em forma de cobra subindo pelo seu corpo, as escamas dela eram dolorosas, quando atingiu seu pescoço enroscou nele lhe levando a morte.
O pai de Milena estava no corredor quando as luzes se apagaram, enquanto elas estavam apagadas ele podia ouvir as orações do padre no andar de baixo, elas pareciam cada vez mais fervorosas.
Quando as luzes voltaram, ele gritou de medo ao ver pelas paredes os convites que Milena havia deixado no cemitério. Os convites estavam todos grudados com sangue nas paredes e formavam alguma mensagem que o homem não conseguia entender.
O medo lhe paralisou de tal forma que ele não conseguiu correr. Logo as luzes se apagaram e os convidados de Milena puderam continuar a sua festa.
*
Este conto é dedicado a Isabela, minha irmã mais nova, que pediu para mim escrever algo que a assuste. Te amo Isa, sem sua ajuda nunca teria escrito esse conto.