A Maldição do Visitante
O olhar do cavaleiro fitou o castelo no alto da colina; estava exausto, há dias sem pouso nem comida.
A sentinela gritou, ordenando que o cavaleiro se identificasse.
— Um peregrino, rumo a Terra Santa. — o portão se lhe abriu.
O Duque, senhor daquela herdade, o recebeu. Bom anfitrião, deu-lhe farta ceia e alojamento. O cavaleiro recuperou suas forças.
Nesta época, chegaram aos ouvidos do Duque relatos de estranhos acontecimentos na cidadela — concubinas assassinando amantes; idosos morrendo de tosse sanguinolenta; crianças levadas por tumores fatais; bebês que dormiram pacíficos mas que não despertaram mais; meninas se jogando de torres; coroinhas, de campanários; assassínios; enfermidades; morte.
Quando seu primogênito sucumbiu a uma praga desconhecida, o Duque constatou que deveria tomar uma resolução e descobrir qual a causa destas misteriosas tragédias. Convocou escolásticos, astrólogos, cirurgiões, chefes-da-guarda, alquimistas, todos que pudessem oferecem algum vislumbre sobre a maldição pairando sobre eles.
— São os sinais do Apocalipse, Senhor Duque.
— Saturno na Sexta Casa de Escorpião, Senhor Duque.
— Enfermidades trazidas por cruzados retornando do Oriente, Senhor Duque.
— Baderneiros recém-libertados da prisão, Senhor Duque.
— Humores malignos, Senhor Duque.
— O cavaleiro que vós hospedais, Senhor Duque.
— Quem é este? — o Duque indagou seu assessor.
— Um necromante, meu Senhor, um louco.
Mas a resposta do necromante intrigou o suserano.
— Como descobristes isto?
— Ele mesmo mo disse, Senhor Duque.
O soberano refletiu sobre o que deveria fazer. Chamou o cavaleiro até sua câmara:
— Reuni vossos pertences e deixai minhas terras. Desde que chegastes, desgraças pousaram sobre nós. Não sois mais bem-vindo.
— Só vou aonde me enviam, meu Senhor. Mas tendes razão, nada mais tenho para fazer aqui.
A Morte colocou o elmo e vestiu a capa, montou no cavalo e o esporeou. Mais vidas para ceifar a uma noite de viagem.
Desde então, a Morte não entrou mais naquele ducado, tornando-se uma diferente maldição: o Duque, hoje com quase mil anos, já tentou suicídio trezes vezes, desesperado por se livrar da vida.