CAÇADOR DE DEMÔNIOS
Dizem que não existe o bem ou o mal. Que Satanás não existe. Bem, e se eu falasse para você que eu estive cara a cara com ele? Bem, isso foi há dois anos atrás. Na verdade isso faz parte do meu trabalho. Mas que tipo doido de trabalho é esse? Você me pergunta. Bem, é um pouco complicado de entender. Sou o Último Paladino. Minha profissão se resume em caçar e matar demônios, nada de mais, nada de menos. “Pois não é contra homens de carne e sangue que temos de lutar, mas contra os principados e potestades, contra os príncipes deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal (espalhadas) nos ares (Efésios 6, 12)”. Eu fiz meu juramento sobre estas palavras. Agora eu tenho um serviço a fazer.
Bem, tudo começa quando a Igreja recebe muitos relatos sobre a manifestação destas criaturas tenebrosas. Como são muitas, selecionamos sempre as mais arriscadas, as mais complicadas onde um padre teria dificuldades extremas de realizar o ritual de expulsão. É aí que eu entro...
Semana passada, numa tarde quente de quarta feira, eu havia acabado de chegar à Venezuela, quase perto da minha terra natal, México.
Ah, antes de realizar a missão, como sempre, eu tenho que ir num putero saciar minha carne... droga, os padres odeiam ouvir esta parte na hora da minha confissão. Dizem que perderei meu dom de ver além do véu da realidade, que irei para inferno. Bem, seu for mesmo pra lá, Satanás estará ferrado.
Saciado meu prazer, acendi um cigarro, me dirigi para um bairro pequeno de Araure.
Eu não tenho poder de expulsar demônios, ainda. Mas meu trabalho nem é esse, eu caço demônios, ou às vezes eles me caçam. É um negócio meio maluco de explicar.
A rua estava escura. Eles estavam ali, a minha espera. Você não sabe, mas os demônios são bem informados, no que se trata de pessoas que possam incomoda-los.
Aos olhos normais, era só mais uma rua escura, com um monte de moleques se drogando e se prostituindo em cada beco. Ajeitei meus cabelos para trás da orelha. Fechei os olhos. Concentrei-me. Segundos depois abri novamente. Era a parte que eu gostava de ser Paladino. “Eu não sou normal”. Então meus olhos ficam brancos, todo o globo ocular. Aí eu posso ver os malditos.
Eles estavam em todos os lugares, em cima das casas, nas encruzilhadas, nos becos, nas calçadas. Cerca de uns 30 demônios só naquela rua. Não é atoa que apelidaram de “Rua do Diabo”, pois aquele era um lugar infernal
- Ora, ora, se não é o grande senhor Martín – disse o demônio que estava em cima de um poste, as asas abertas como um morcego.
- Sim, o mui famoso Gary Martín – disse outro, mais perto de mim – o último paladino.
- O que queres aqui – disse uma legião ao mesmo tempo – viestes nos incomodar antes da ora?
- Não – eu disse pausadamente – vim pedir que se retirassem deste lugar pacificamente...
Eles riram. Era mesmo uma piada.
- Não é assim que se pede! – gritou o de cima do poste pulando e voando na minha direção.
- Então, que comece o show! – deixei escapar um sorriso no canto dos lábios.
Desembainhei minha Esmeralda, uma espada abençoada de lamina longa. Deixei que se aproximassem. Outros vinham pelos flancos. Então girei a espada. Cortei as asas de um. A cabeça de outro. Pulei para o lado, cortando outros tantos. O grito deles de dor é que me faz se sentir mais vivo. Oh, Tão agudo, tão frenético.
Eu estava cercado. Eles mostravam suas garras enormes, os olhos, grandes órbitas de fogo infernal, asas de morcego. Eles eram magros ou gordos, chifrudos ou nem tanto. Uns tinham tantos chifres que era difícil contar. Corri para um paredão. “Sem saída”.
Os drogados que me viam, deviam pensar que estavam numa onda muito louca, pois olhavam uma cara com jaqueta de couro negra, cabelo longo, óculos negro redondo, com um cigarro na boca, lutando sozinho com uma espada enorme. Eles não podiam ver os demônios, talvez sentir, ouvir, mas só eu posso vê-los.
Eles ainda eram muitos. Tirei as pistolas 9mm da coxa e comecei a descarregar as balas. Cinco caíram, outros tanto ficaram feridos. Mesmo sendo balas bentas, armas de fogo possuem pouco dano contra demônios. Somente uma espada abençoada pode feri-los de verdade. Mas eu queria ganhar espaço, lutar de longe, diminuir meus oponentes. Mas eram muitos. Descarreguei os dois pentes.
Restaram três demônios.
Eram os mais fortes, deixei as pistolas de lado, pois eles tinham se armado de espadas e chicotes de espinhos. Peguei novamente Esmeralda.
Vieram na minha direção. O chicote prendeu minha perna, a espada rasgou minha jaqueta. “Droga”, eu estava apanhando. Eu esquivava, rolava no chão, pulava, mas eles sempre estavam perto, me atingindo de algum modo.
Fiquei nervoso.
- Vamos lutar de verdade!
- Mas era apenas aquecimento...
Amassei o cigarro com a sola da bota e coloquei meu coração e minha alma naquela espada. “Eu sou um pecador, como qualquer outro”, mesmo assim, não deixo de ter fé.
Corri na direção dos malditos descrevendo arcos, cortando seus membros, suas asas, e chifres. Eles tentaram correr, voltar para o Abismo. Antes disso eu os eliminei.
- Menos alguns demônios – suspirei ao ver que minha missão tinha terminado.
Uma garota de pele morena se aproximou. Estava rindo de forma muito sacana.
- Hey tío, tiene un encendedor de cigarrillos que pedir prestado?
- Si.
Eu fiquei em Aurare mais um dia, só para confirmar de que os demônios não retornariam. Sabe como é. Depois voltei para Roma. Para onde vão me mandar agora?