As lembranças de Amanda- DTRL 20

Temas:Hipnose , e um pouco de Lá em casa numa Noite de Tempestade, Ex-namorado/namorada

As lembranças daquela noite não passavam de vultos na mente de Amanda. Estava tudo muito confuso. Mesmo uma semana depois os fatos que ocorreram eram um mistério para ela e para seus familiares.

Os pais de Amanda haviam contado para ela que quando eles voltaram do casamento a acharam desacordada no quintal, ela estava caída no meio da lama que se formou por causa da chuva, talvez ela tivesse escorregado e caído. Isso justificava o fato dela está desmaiada, mas não justificava os objetos quebrados pelo chão e o carro de Juliano que era o ex namorado de Amanda na garagem, mas nem sinal de Juliano.

Como os dias passaram e a filha não lembrava de nada e os pais de Juliano estavam muito preocupados com o desaparecimento do filho, eles começaram a desconfiar que a moça tivesse algo a ver e até falaram que caso ela não falasse o que houve logo iriam na policia.

Por causa desse fato,eles resolveram fazer o uso da hipnoterapia na filha. Talvez com a hipnose a moça lembrasse dos fatos.

Carlos,o hipnoterapeuta, veio atender a moça em casa. Em seus anos de trabalho nessa area ele já havia atendido vários casos semelhantes e sabia que o mais importante nesses casos é o laço de confiança entre o paciente e o hipnoterapeuta, por isso era bom a consulta ocorrer em um lugar seguro para o paciente. No caso da moça a sua casa.

A consulta ocorreu na sala. Amanda estava sentada no sofá e seus pais estavam do lado dela. Seu Mauro, pai de Amanda, segurava a mão da filha e dona Dora perguntava para Carlos :

-- O que realmente é a hipnose?

--Hipnose é um estado da mente que todos nós experimentamos, naturalmente, ao longo do dia. Por exemplo, ao dirigir o carro, você pode não se lembrar que está dirigindo, como se estivesse no piloto automático. Alguém pode conversar com você e você pode não escutá-lo.

-- Então nesse momento é como se estivesse hipnotizada pela ação?

--Exatamente. Em qualquer circunstância onde seja necessária uma grande concentração, automaticamente você se transfere para um estado hipnótico natural.

-- Entendi.

-- Só que no caso da sua filha eu vou fazer a mente regressar para o dia em questão. Ela vai falar tudo em um estado de Hipermnésia.

--Hipermnésia?-- perguntou Amanda curiosa

-- Hipermnésia é um estado em que há um aumento da capacidade de lembrar fatos do passado próximo ou remoto. Vamos começar, Amanda. Olhe para esse relógio... Se concentre só nesse relógio... Você está entrando em um sono profundo... Você está em um lugar escuro e ver uma luz na sua frente. Entre nessa luz Amanda... Essa luz e a porta da lembrança que procuramos... Entre e nos diga o que ver...

-- A luz tem um formato de uma porta. Eu entro por ela e vejo uma outra eu sentada no sofá.--começou Amanda a dizer com os olhos fechado-- Meus pais estão vestidos de forma chique, em trajes de festa. Eles vão para um casamento. A outra Amanda sentada no sofá diz que não quer ir, ela diz que vai ficar um tempo lendo ou vendo filmes. Meus pais aceitam e vão embora dizendo um bando de recomendações. Eu fico no sofá...

-- Disso nós lembramos...--disse a mãe de Amanda-- O problema é o que ocorreu desse momento até o momento que nós a encontramos desmaiada no quintal.

-- Muita calma, senhora. Ela vai chegar nesse ponto. É melhor ficarem em silencio para não me atrapalharem. Continue, Amanda... Você está no sofá...

-- Eu estava no sofá e peguei um livro para ler.É um dos meus favoritos. Começa a chover muito. Eu pareço ficar agitada. Como se estivesse com medo.

--A Amanda sempre teve medo ficar sozinha em de dias de tempestade. Talvez tenha sido isso que causou o desmaio... Quando ela tinha 6 anos...

--Senhora... Continue Amanda...

--Esse meu outro eu se levanta e vai para a cozinha. Me vejo fazendo um chocolate quente. Tento cantar uma música para afastar o medo talvez. O único barulho é da chaleira e da chuva que acabou de virar uma tempestade. Alguém entra pela porta da sala. É o Juliano, meu ex namorado. Ele entra na ponta dos pés. Eu me viro bruscamente e o vejo...

Nesse momento a moça para de falar e começa a tremer.

Carlos fala:

-- Amanda, como é a sua relação com esse Juliano?

-- Ele é abusivo... Muito ciumento mesmo. Meus pais não podem saber disso. Eles acham que o Juliano é uma boa pessoa... Foi por causa do ciume que terminamos. Só que ele nunca aceitou a ideia... Ele dizia que nunca seria o meu ex...

-- Nossa filha não sabe que estamos aqui?

-- Não. A Amanda está em um estado de transe. Ela está fechada dentro dela e das lembranças. A única voz que ela escuta e obedece é a minha.

-- O que acontece depois que você ver o Juliano?

-- Ele está segurando uma faca e vem na direção da cozinha. Eu tento manter a calma e pergunto como ele entrou. Ele diz que tem uma cópia da chave e sabia que eu estaria sozinha... Ele diz que me ama e que me perdoa por ter terminado com ele. Ele diz que me quer de volta e diz que se eu não voltar vai me matar... Eu consigo fugir para a sala e tento lhe jogar muitos objetos. Eu jogo os vasos tudo na esperança de lhe fazer recuar, mas ele avança na minha direção com um sorriso no rosto. Estou com medo... Não quero ver o resto... Me tire desse lugar!

-- O que acontece depois disso? Seja forte! São só lembranças... Elas não podem lhe fazer mal.

-- Ele me agarra pelos cabelos e coloca a faca no meu pescoço... Para lhe enganar eu digo que o amo. Que quero ficar com ele. Ele parece que acredita , mas não abaixa a faca . A ameaça continuava no ar mesmo quando ele me beija a força. Durante o beijo vejo que a mão dele está apertando ainda mais o cabo da faca. Se preparava para o golpe final. Naquele momento era minha vida ou a dele. Usando toda força que ainda restava em mim tento tirar a faca dele e no meio da briga a faça o acerta em cheio. Não era minha intenção. O sangue mancha todo o chão da sala.

O choque dos pais de Amanda e de Carlos é aparente, mas ele manda a menina continuar

-- Eu fico em desespero e me visto com roupas limpas e limpo o sangue o mais rápido possivel... Uso os produtos de limpeza da minha mãe e fica tudo limpo... Mas as coisas continuam quebradas pelo chão... Arrasto o corpo para o quintal e o enterro, juntamente com a faca e as roupas dele... Está chovendo muito e isso atrapalha. Começo a me sentir mal e a chuva me dá vontade de desmaiar, mas mesmo assim continuo até enterrar tudo. Jogo a pá atrás do mato alto e volto para casa, tenho que me livrar de alguns objetos sujos de sangue, então isso significa mais voltas ao quintal... Pareço surtada. Eu começo a pular em cima de onde ele está enterrado... Parece que espero ele voltar a vida e me matar! Jogo os objetos onde joguei a pá e corro para casa! Corro como se ele tentasse me pegar e caio... Eu caio e a chuva me molha e começo a me debater... Debater e debater...

Amanda não falou mais nada. Só ficava se tremendo e se debatendo. Foi naquele momento que ela caiu no chão se debatendo que tudo se apagou de sua mente. Era como se a chuva tivesse lavado toda culpa.

--Está bem, Amanda. Já temos o que precisamos. Agora está sentindo muito sono... Essa conversa nunca ocorreu... Quando eu estalar os dedos você vai dormir profundamente e quando acordar não vai lembrar de mim e nem dessa noite traumatizante e muito menos desse seu ex namorado que morreu...

Amanda caiu dormindo no colo do pai no sofá. O pai viu que a filha dormia profundamente e perguntou:

--Não tem o risco dela ficar presa ao transe?

--Não há riscos. O transe profundo leva ao sono denominado terapêutico que, como qualquer sono fisiológico, dura até o momento de acordar, que é natural a cada indivíduo. Quando sua filha acordar ela será outra pessoa. Totalmente sem traumas e sem lembranças do ex namorado.

--Como o senhor sabe que ela não mentiu?

--Durante a hipnose não é possivel mentir.

--Está dizendo que ela realmente matou o Juliano?

--Creio que sim... Mas só há um jeito de saber! Vamos ao quintal. A senhora fica com a moça aqui e eu vou com o seu marido no quintal.

Chegando no quintal, seu Mauro estava com o coração na mão, ele achava doloroso acreditar que a sua filhinha havia matado uma pessoa, mesmo que sem intenção e como forma de defesa ainda era uma vida que se foi.

Ele mostrou para Carlos o matagal que a filha falou. Carlos revirou um bom tempo e saiu de lá com uma pá e um pedaço de vaso. Mauro olhou para aquilo sem surpresa, no fundo ele já esperava. Ele tomou a pá da mão de Carlos e se colocou a cavar. Depois de um tempo ele achou o corpo já em decomposição de Juliano e não conteve o impacto.

-- Minha filha só fez se defender! Se ela não tivesse feito isso estaria morta! Nós iriamos voltar e achar nossa filhinha morta! Ela foi a vítima!

Dizendo isso ele encarou o hipnotizador.

--Eu concordo com o senhor! Foi alto defesa! Mas não sei se o juiz iria acreditar em você.

-- Daria pro senhor usar a hipnose que fez nela como prova.

-- Não creio que eles acreditariam.As pessoas, uma maioria, não conhece os poderes da hipnose. Eles associam hipnose aqueles truques de mágica baratos.

-- Vamos fugir! Vamos abandonar essa casa! A próxima pessoa que comprar essa casa vai achar um corpo no quintal só que já será tarde, eu, minha filha e esposa estaremos longe.

-- Mas, o rapaz não tinha pais, irmãos? Se vocês fugirem eles iram desconfiar e irão atrás.

Mauro viu a verdade. Os pais de Juliano já estavam na cola da filha. Eles tentaram enrolar eles dizendo que Juliano não havia estado ali e que a filha estava com problemas na memória. Mas no dia anterior os pais de Juliano falaram que eles iriam na polícia no dia de hoje se Amanda não falasse nada. Mauro falou com um ar triste:

-- O que o senhor sugere?

--O senhor sabe onde os pais desse rapaz moram?

-- Sei sim. O que o senhor sugere?

-- A hipnose pode ajudar com eles. Eu vou ajudar vocês. A minha irmã foi morta pelo ex namorado. Ela procurou a justiça várias vezes para denunciar as agressões e eles não fizeram nada! Eles esperaram o ex matar ela para fazer alguma coisa! Uma tristeza essa justiça, até hoje não o pegaram. Ele sumiu no mapa. Se um assassino tem o direito de sumir, vocês também tem o direito de um recomeço em outro lugar! Vamos dar um jeito nisso.

***

Dona Marta olhava para a foto do filho Juliano. Ela amava o filho, apesar dele as vezes ser agressivo com ela. Ele costumava agredir a mãe verbalmente, do mesmo jeito que agredia a namorada. O tratamento que o homem tem com a namorada é reflexo do tratamento que dá para a mãe.

Seu marido Alberto estava indo abrir a porta. Ele achava que era um detetive que eles tinham ligado, todavia não era, era o pai da ex namorada e um homem desconhecido.

Seu Alberto foi logo dizendo:

-- A garota falou alguma coisa do meu filho?

-- Ela não lembra de nada... Mas eu vim aqui por outro motivo. Eu trouxe um detetive especial que pode ajudar no caso.

-- Deixe eu me apresentar senhor-- disse Carlos estendendo a mão e inventando uma história--Eu me chamo Carlos. Sou do Laboratório de Hipnose Forense. Eu quero submeter vocês a uma sessão de hipnose para que eu tenha todas as informações necessarias para investigar o sumiço do seu filho.

--Não é necessario! Já chamamos um detetive! Podem ir embora!

Carlos tanto insistiu e pareceu tão profissional que dona Marta acabou aceitando. Ela aceitaria qualquer coisa para ter o filho de volta.

Carlos se posicionou na frente deles e balançou o relógio e disse:

-- Olhem para o relógio... Se concentrem no relógio... Vocês vão falar só a verdade para mim. Vocês estão na cidade a quanto tempo?

--4 meses...

-- Seus parentes tem noticias de vocês de quanto e quanto tempo?

--Há 4 meses eles não tem noticias. Estamos esperando arrumar um emprego melhor.

--Isso vai ser mais fácil do que pensei.--pensou Carlos

--Me escutem bem! Quando vocês acordarem vão arrumar as malas e se mudar para a casa de algum parente. Farão isso por que o filho de vocês morreu em um acidente nessa cidade e ela trás más lembranças para vocês. Vocês não conhecem ninguém com o nome de Amanda. Quando o detetive chegar o senhor irá se desculpar e falará que a sua mulher não consegue superar a morte do filho e por isso o chamou, mas ele será pago por ter vindo e logo após irão se mudar! Agora vocês irão dormir e só acordaram quando o detetive que chamaram bater na porta!

**

Do lado de fora, Seu Mauro perguntou para Carlos:

-- Isso vai funcionar?

-- Vai sim. Eu tenho certeza que vai. A hipnose pode fazer a pessoa acreditar em algo que não é verdade, tipo o subconsciente da pessoa aceita e o consciente reproduz essa aceitação. Eu já hipnotizei uma menina que tinha problemas com cigarros, eu fiz ela acreditar que ela não podia fumar pois o pai dela tinha morrido por causa do cigarro, como ela não conhecia o pai quando ela acordou acreditou nisso e até hoje não fuma.

-- Bem bizarro isso. Não sabia que a hipnose podia tanta coisa!

-- Como eu disse, a maioria não conhece os poderes dela! Agora sua família está em paz. Podem tanto ficar na cidade como irem embora.

**

Seu Alberto acordou com o barulho de alguém na porta. Ele se levantou e a abriu. Pela porta entrou um senhor bem arrumado que se apresentou como detetive Tavares. Ele disse que estava lá para investigar o sumiço do filho deles.

Seu Alberto fez uma cara triste e confessou:

-- Meu filho Juliano morreu em um acidente há algum tempo. Só que minha esposa não aceita isso bem e por isso lhe chamou. Mas, eu peço desculpas pelo incomodo e vou lhe pagar pelo trabalho de ter vindo até aqui... Eu e minha esposa vamos deixar essa cidade, as lembranças estão acabando com minha esposa...

No sofá, dona Marta olhava a foto do filho.

Ana Carol Machado
Enviado por Ana Carol Machado em 26/01/2015
Reeditado em 20/06/2020
Código do texto: T5114819
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