A Sombra e o Sino

Experiências insólitas sempre nos trazem questionamentos acerca da realidade que nos cerca. Percebemos de fato tudo ao nosso redor, temos consciência do que nos cerca? De acordo com a ciência oficial, não! Afinal, não enxergamos todas as cores, e sequer ouvimos todos os sons que há para se ouvir. E mesmo os nossos olhos são enganados o tempo todo, e basta para isso que um inexperiente mágico faça um simples truque de carta na nossa frente, para compreendermos embasbacados que os olhos não são tão confiáveis assim. O que mais nos escapa?

Era uma terça-feira, aquele dia. Eu tinha saído para jogar bola com uns amigos meus, aproximadamente até umas quatro da tarde. Cheguei em casa tão cansado da diversão, que fui direto para a sala me deitar no tapete. Estava fazendo calor, e eu me sentia suado demais para ir pro quarto, e cansado demais para ir para o chuveiro tomar banho. Eu precisava primeiro deitar naquele chão fresco e relaxar um pouco os músculos.

Mal pousei a cabeça no chão duro, com o pescoço virado pra porta em direção a cozinha, e um estranho som estalado, feito sino, ecoou dentro da minha cabeça, como se viesse lá do meio do crânio. Era um barulho quase físico! Imediatamente fiquei paralisado. Todos os membros enrijeceram, ficaram como pedras, sequer eu conseguia piscar os olhos. Pronto, morri! Imaginei em meio a surpresa. Mas, mal sabia eu que o pior estava por vir!

Lá na frente, bem na cozinha para onde eu estava olhando, uma sombra entra na porta com tudo. Exatamente como faria uma pessoa normal! Aliás, era em tudo uma pessoa normal, só que em forma de sombra! E ainda dava para perceber que era uma mulher, pois que tinha cabelos muito compridos, e parecia, ainda que estranhamente, usar um chapéu de abas muito longas!

Era dia ainda, mais exatamente quatro da tarde, e o sol estava alto e quente. A sombra era exatamente uma sombra, dessas que se formam no chão. Era como se ela tivesse se levantado e ido passear por ai. Inclusive era transparente, e eu via toda a cozinha através dela!

Ela veio andando na direção da sala onde eu estava. Pacientemente passou pela cozinha, depois pela copa e pelo corredor, e veio dar na porta, bem na minha frente! Até ali eu não acreditava no que via, mas teria corrido muito e pulado a janela, se os meus membros paralisados deixassem.

A sombra veio, passou por cima de mim e sentou-se no sofá. Eu não podia virar o pescoço, mas eu sei que ela se sentou, porque os pés dela ficaram do lado da minha cabeça. Como se ela ao se sentar, esticasse as pernas!

Sim, claro, eu fiz o que qualquer cristão faria. E nesse caso, penso eu, até um ateu. Rezei muito! Na verdade não tanto, mas pedi com o coração! Foi mais ou menos assim: "Meu Deus o que é isso aqui?! Tira isso daqui!!" Foi meio que um pensamento gritado, se é que pode me entender...

Na mesma hora eu vi que ela se levantou. Passou de novo por cima de mim, e foi "andando" em direção a cozinha outra vez. Quando a sombra saiu pela porta, ouvi novamente o mesmo som de sino: "teiiinnnn........" no fundo da cabeça. Todos os meus movimentos voltaram. Corri pro quarto e contei à minha mãe que estava debulhando milho em cima da cama. Claro, assim como quem vai ler está história, ela disse não acreditar. Mas eu vi nos olhos dela que ela acreditou sim, só não queria aceitar. Negamos tudo que não compreendemos.

Antes, na minha inocência de menino, eu tinha medo do escuro. Agora eu sei, que até mesmo no claro, em pleno dia, coisas insólitas podem nos fazer uma visita!

London
Enviado por London em 23/01/2015
Reeditado em 23/01/2015
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