O Dia Inesquecível

Quatro horas da manhã: aquele era um dia normal, como todos os outros. Dia de semana, dia de trabalhar. Mês de junho, um frio de cortar a pele. Só notei uma coisa estranha em tudo isso: minha família, todos acordados àquela hora, com cara triste de dar dó. Mas não quis entrar em detalhes sobre o assunto.

Quatro e meia da manhã: eu já estava na rua, e nela, havia transeuntes de todos os tipos. Pessoas como eu, você, que enfrentam o sol, a chuva, o frio, a madrugada e o cansaço pra ganhar a vida com dignidade. Só notei uma coisa estranha: ninguém falava comigo. E eu conhecia aquelas pessoas. Eram colegas de caminhada até o ponto de ônibus, eram companhia para longas viagens de trânsito assolador.

Cinco e meia da manhã: naquela altura do campeonato eu já estava no metrô, pra variar, lotado. Era quase impossível não esbarrar em alguém naquele horário, mas naquele dia estavam demais! Parece que não me viam ou não faziam questão de me ver. Mas não quis tirar satisfação!

Seis horas da manhã: agora eu havia acabado de chegar na empresa onde era um funcionário exemplar há mais de três anos. Li claramente a placa fixada na entrada da empresa, com letras garrafais escrito "FECHADO POR LUTO" ! Por instantes, permaneci paralisado, pensando em quem seria a pessoa morta, pensando em como estaria a família da pessoa. Lembrei do semblante matinal da minha família, aquela cara de velório, e sem motivo algum para isso.

Oito horas da manhã: estava eu subindo a rua de casa quando notei aquela aglomeração na porta da minha moradia. Apressei os passos para ver o que estava acontecendo. Temi por meus parentes. Saí perguntando pra um e outro o que estava acontecendo mas ninguém me ouvia naquele momento.

Oito horas da manhã e oito minutos: consegui alcançar a sala com muita dificuldade, pois a quantidade de pessoas presentes alí era muito grande! Foi exatamente nesse horário que vi a cena mais chocante de toda a minha vida: um caixão negro e frio, com meu corpo dentro!