A Torre de Nacar
Depois do topo mais alto, da mais alta montanha, e para além ainda dos limites do horizonte, longe, muito longe de tudo o que se possa imaginar, mas suficientemente perto dos olhos, levanta-se, imponente, a mais bela de todas as torres do mundo. Retorcida em torno de si mesma, como um imenso chifre de unicórnio caprichosamente esquecido ali, ela reflete a luz do sol e da lua em seu corpo de nácar brilhante, como se tivesse luz própria.
A sua beleza seduz quem passar por ela, e nunca, jamais um olhar despretensioso lhe será dirigido, pois secretamente roga ao coração dos homens por uma atenção. E aquele que sucumbir aos seus encantos nunca mais será o mesmo. Pois que a torre de Nacar reclamará para ela o coração e as mentes, de todos os seres que para ela se dirigirem de boa vontade. Pois ela só vive se um coração humano bater dentro dela.
Um dia, uma inocente jovem foi em busca de um presente para o seu amado. E em sua inexperiência, concluiu não haver lugar melhor para encontrá-lo, do que próximo, ou mesmo, dentro da torre reluzente. A torre era sedutora, as suas portas abertas tragaram Sarah e ela jamais retornaria lá de dentro.
Mas o seu amado não era qualquer um, e com isso a torre não contava. Farael jamais a abandonaria! E pelas estradas mais nefastas e execráveis, andou em busca dela.
Vá Farael, vá! Jamais abandone-a... salve o seu amor.
E a torre acendeu-se com uma chama reveladora, e brilhou com ódio indescritível, pois o coração de Farael não se dobrava a ela! Jamais, tão calejado e poderoso guerreiro se dobraria aos encantos e ilusões projetados pela antiga torre. Uma vez que todos os seus truques de sedução falharam diante dele.
Mas a vítrea porta se abrira, quando Farael prometeu entregar o seu coração à maldita enganadora, em troca do coração de seu amor.
A torre não poderia recusar semelhante oferta! O que era a alma de uma pobre mulher, frente à alma e ao coração de Farael? A satisfação de separá-los para sempre animava os cantos mais escuros do espírito da torre sem coração.
E como a torre ainda não tinha consumido Sarah como fizera com os outros, ela aceitou a proposta de Farael. A torre abriu a sua porta... E Farael libertou a sua amada das suas garras de madrepérola...
E depois que a viu partir, segura e em paz, ele mesmo se atou aos nós indestrutíveis da pérfida enganadora, que como braços alvos e compridos, abraçou-o num aperto mortal, para ali sugar-lhe corpo, alma e coração, até que a sua energia vital se esvaia e ela, novamente, necessitando de um novo coração, abra as suas portas para uma nova vítima!
E quando as portas se fecharam pela última vez nas noites do tempo, escurecendo a face de nosso herói e retendo para sempre o coração dele. Tornando-se um só com Farael, ele desembainhou a sua antiga espada, e atravessou o seu próprio coração com ela!
A torre desabou sobre si mesma, e naquele dia o chão tremeu como jamais havia tremido, ou haverá de tremer. E as aves no céu abandonaram os seus ninhos sobre a torre enquanto ela caia sobre si mesma, e até mesmo as árvores abandonaram os jardins que a cercavam e tudo em redor tornou-se vazio, desolado e livre.
A torre se chamava Nacar...
Que na língua dos homens daquele mundo, significava, Esperança.