A Catacumba

Um misterioso homem apareceu na porta da minha casa esses dias. Era alto e extremamente magro e tinha um sorriso constante e agradável no rosto, disse-me que sabia que eu tinha certo gosto pelo sobrenatural. Sem me dar nome ou outra satisfação qualquer, disse fazer parte de uma sociedade secreta, e que eu poderia achar interessante conhecê-la. Deixou-me então um envelope com um endereço, e me pediu par abri-lo apenas na manhã do dia seguinte.

Decidi fazer parte do jogo e seguir as suas instruções. No início fiquei incomodado com a sua face esquelética e com os seus olhos parados, mas entrei no espírito da coisa.

Claro que abri o envelope naquela noite mesmo... Exalava um aroma de flor morta e trazia um colar antigo dentro dele. Nada que eu pudesse identificar, talvez fosse egípcio ou sumério, não sei, tive essa impressão.

Lógico, o envelope trazia uma carta cujo conteúdo remetia ao endereço de um velho cemitério na cidade. Havia também a indicação da quadra, e imagino, o número da cripta ou sepultura. Dos três cemitérios, era o mais antigo. Se eu conhecia um pouco a história, a sua construção beirava a idade média, e alguns escritores famosos e vultos históricos estavam enterrados lá desde tempos imemoriais.

Como resolvei fazer parte daquilo, por diversão e curiosidade, apresentei a minha cara naquele dia no cemitério, na mesma hora e lugar que pedia no envelope. Era um pequeno mausoléu, semelhante a uma casa, muito antigo e apertado. A sua porta estava aberta, esperando-me. Achei aquilo criativo e interessante. Entrei, evidentemente!

Uma pequena escada descia, levando ao que eu imaginei ser uma catacumba ou algo assim. Nem bem desci os primeiros lances, eis que a porta desaparece como que por encanto, deixando apenas a escuridão atrás de mim! Uma escuridão muito profunda e aterradora. Já não estava achando mais graça.

Ouço um ranger e um estalar de ossos, mas não identifico de onde, se de cima, baixo, a frente...

Pego logo um fósforo que trago comigo no bolso do paletó. Na primeira riscada, antes da chama clarear qualquer coisa, tenho a impressão de um sopro ligeiro a apagar o fogo. Engulo seco. Mas ainda acho que é brincadeira.

Na segunda tentativa, a luz vem fraca e trêmula, e ao meu lado, seres estranhos semelhantes a velas humanas derretidas! O medo tomou conta de mim de tal forma que não conseguia mover um músculo. Vi apenas a boca de um dos seres abrir até que a sua mandíbula encostasse no solo, e ele vir na minha direção em espasmos sinistros.

Depois lembro-me de sentir alguma coisa quente descer do alto da minha cabeça até as minhas pernas, e um lampejo rodopiante de luz amarela.

Agora estou morto. Mas antes de ir, precisei passar aqui e te relatar essa história.

London
Enviado por London em 15/01/2015
Código do texto: T5102471
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