A Mulher Fantasma de Bishop Chapel - Final
.... E como visto na última ladainha:
...Não estou falando sobre os quatro homens que desapareceram, mas de centenas de rostos estranhos que pareciam querer que eu voltasse para o bosque. Então, eu entrei no hospital...
Não havia um lugar ali dentro que eu pudesse olhar e que não fosse apavorante até a raiz do cabelo! As paredes descascavam com a infiltração, o mofo azedo crescia por todos os lados, camas velhas de metal empilhavam-se em cima de cadeiras de rodas, jalecos velhos cobertos de sangue pendurados em todos os lugares que se possa imaginar, e armários e mais armários tombados sobre os outros naqueles saguões enormes e abandonados por Deus.
O que eu estava fazendo ali? Nem eu sei! Um belo dia deixei a minha bela e ensolarada cidade, para uma simples pesquisa de campo, e acabei ali, no meio de um vale sombrio, na beira de uma rodovia erma, dentro de um hospital de oitenta anos de idade e que deve ter "hospedado" doentes de todos os tipos e todas as qualidades de loucos. A montanha que cercava a cidade lançava uma sombra por sobre o vale que jamais o deixava, dando a ideia de ser eternamente seis horas da tarde!
Ao aproximar-me do fim do corredor, onde mirava a curva à esquerda, um psiu meio chiado chamou a minha atenção para a última porta que eu havia acabado de passar. Parei imediatamente, como se eu tivesse pisado numa quantidade enorme de super-cola, e olhei apenas com os olhos para o interior do quarto...
No seu interior, encurvada levemente sobre um berço, uma figura inacreditavelmente horrenda, que escapa a toda descrição possível olhava para mim num giro de pescoço de 350 graus, enrolada em esparadrapo dos pés a cabeça, que de tão apertados reduzira o seu volume a algo próximo de um galho muito fino de árvore! Uma espécie de chapéu descia-lhe da cabeça aos pés, envolvendo o seu corpo em ectoplasma espectral semelhante a gaze que o vento sopra enfurecidamente. Me faltaram forças para desmaiar...
Ela, ou aquilo, pegou algo no berço, e veio em minha direção deslizando no ar, e ninando algo com os braços, enquanto os meus olhos rodavam e vozes confusas e enroladas diziam palavrões aos pés dos meus ouvidos.
Só me lembro de perceber que se tratava de um pequeno esqueleto enrolado em pano, e de ela tocar em minha testa com aqueles dedos estranhos e diáfanos, e todo um rio de lembranças invadir a minha mente: Há setenta anos eu era um médico... ela era uma bela enfermeira apaixonada... Nas nossas aventuras nos corredores vazios do hospital ela ficou grávida. Eu não queria aquilo... Não podia ter acontecido... Mandei que ela guardasse segredo, e ela o fez. Mas ela mudou de ideia, e disse que assim que nascesse, revelaria a todos. A minha esposa não poderia saber! Então, no dia do parto, providenciei para que nenhum dos dois restassem vivos. Depois de tudo isso, vivi longos e felizes anos ao lado de minha mulher, sem nunca me arrepender de nada. Até hoje...
Uma vida inteira se passou desde então. Morri e nasci de novo. E agora encontrei o meu destino aqui, finalmente. Ao toque dela em minha testa, passei a compreender tudo!
O ambiente lá fora mudou completamente, voltou a ser 1944, como um filme envelhecido onde tudo ficou dourado esmaecido. Mas a figura fantasmagórica ao meu lado permaneceu a mesma, os fantasmas dos doentes e loucos do hospital voltaram a perambular, como uma turba sem rumo. Estou aprisionado agora, nesta dimensão paralela entre a morte e a eternidade, para criar aquele filho que rejeitei, que nos braços daquela sinistra aparição não passam de ossos retorcidos enrolados em pano, que insiste em me observar com aqueles olhos vazios!
Bishop Chapel encontrou um novo fantasma para assombrá-la. Eu!