A Mulher Fantasma de Bishop Chapel
Bishop Chapel é uma pequena cidade ao leste de Magônia, um distrito de Arcádia, diminuto país do Leste Europeu perto da Romênia. Na verdade, é mais uma vila do que propriamente uma cidade, não mais do que quatro mil habitantes vivendo cravados no meio de um sinuoso e lindo vale entre duas altas montanhas. Lugares assim não são mais assombrados do que outros, o que os diferem dos demais é o número reduzido de moradores, que faz com que as histórias repercutam mais rápido e durem mais tempo na consciência popular do que em cidades maiores e mais ocupadas. Além também, da escassez de luz, tanto natural quanto artificial, privilegiando visões que normalmente uma claridade maior deixaria passar despercebidas. Chegou aos meus ouvidos, anos atrás, a notícia de um certo fenômeno que se traduzia numa certa figura furtiva e branca, que caminhava nas estradas ermas ao lado da vila, e que de vez em quando se aproximava das casas, sendo presenciada pelos moradores, inclusive crianças. Em geral, a descreviam como lembrando uma mulher de meia idade, muito magra, envolta em uma espécie de atadura semelhante às de múmias, deixando apenas o rosto de fora, e usando o que poderia ser comparado a um grande chapéu de abas largas, e que pulava ao invés de caminhar.
Na época, eu fazia pesquisas de campo referente a fenômenos sobrenaturais para um curso de pós em parapsicologia. Me interessei pela história, mais pela repercussão psicossocial entre os moradores do que propriamente por acreditar no fenômeno. Sendo assim, desembarquei lá num sábado de páscoa, tempestuoso e escuro, e me hospedei na estalagem, O Cipreste. Representantes dos moradores me receberam, já que era do interesse deles a minha presença ali. Dar uma resposta definitiva sobre os acontecimentos que assombravam aquele belo vale era do interesse geral de todos, como não poderia deixar de ser.
Saímos da cidade na manhã seguinte, ainda caia uma chuva fina, mas nada que pudesse atrapalhar, e seguimos pela estrada de chão Nurse, em direção ao velho hospital abandonado na beira do rodovia. Eram cinco quilômetros de caminhada atravessando um bosque de pinheiros até encarar a estrutura fantasmagórica do hospital que caia aos pedaços. Geralmente, as pessoas mais humildes e crentes costumam atribuir a lugares assim a culpa da existência de fantasmas, devido a aparência apavorante e ao sentimento de abandono que eles envergam. Raramente atribuem a visão a alucinações ou a problemas semelhantes.
Estávamos em cinco pessoas: Eu, o zelador da vila, e mais três moradores responsáveis pela segurança de Bishop Chapel. Irving, o zelador, apontou-me a estrada que levava diretamente à entrada principal do prédio.
-Bem, é lá - disse ele.
-Não vão comigo?
-De forma alguma!
Eu deveria ter desconfiado...
A estrada subia sinuosa por trezentos metros até a entrada, e vinte metros antes de chegar, uma enorme e horrorosa caixa d'água, tomada por musgos verdes, deixava vazar a água da chuva da noite anterior, como se fosse a cascata de um rio caudaloso. Nem bem havia começado a subida e os três homens atrás de mim desapareceram. Não havia como terem feito isso, nem mesmo se tivessem partido correndo, e se fosse esse o caso, eu os teria ouvido. Mas o engraçado é que eu não ouvia nada, nada! Apenas o roçar da água que batia violentamente no chão ao cair do reservatório. Uma sensação de solidão tão aterradora e opressiva tomou conta de mim que quase não consegui me conter. Eu não havia estudado sobre este sentimento na faculdade em Budapeste.
A portaria, destruída pelo tempo e tomada pelo mofo, abria-se para o corredor principal, largo e longo, que seguia sempre reto construção adentro. Lá na frente, não sei dizer bem se no final ou não do corredor, pois que havia muita penumbra, uma figura branca acenava para mim, à maneira de um amigo, tão fina quando uma vara. Parecia empolgada com a minha presença...
Ao virar-me para correr, já com todos os pêlos do corpo eriçados e carregados de eletricidade estática, o bosque atrás de mim, silencioso e fúnebre, parecia esconder atrás de seus troncos, rostos escusos que me espiavam e se escondiam por trás de cada árvore soprada pelo vento. Não estou falando sobre os quatro homens que desapareceram, mas de centenas de rostos estranhos que pareciam querer que eu voltasse para o bosque. Então, eu entrei no hospital...