A Rebelião das Baratas
A casa até que não era tão velha, quer dizer, dava até pro gasto. O problema todo era a ligação de esgoto, mal feita e mal projetada. Isso não dava boa coisa! Fora o cheiro que baixava de vez em quando, tinhas as malditas baratas que apareciam a toda hora, e em todo lugar. Ora vinham do ralo, bem na hora do banho. Ora dos canos da pia, bem na hora de se lavar os talheres, e ora vinham do vaso sanitário, bem na hora... bem... essa parte deixa pra lá.
O fato é que já era uma infestação! E Maurício já tinha declarado guerra a todas. Nem tinha mais asco delas. Com a mão mesmo costumava esmagá-las, além do elementar, como: pisoteá-las, queimá-las, achatá-las, assassiná-las, borrifá-las, jogar bomba atômica sobre elas, e disparar nelas com armas de fogo de grosso calibre... Enfim, o básico mesmo.
Um belo dia chega em casa. Tudo numa boa! É recebido de braços abertos pelos familiares, jamais havia sido tão bem tratado... Jantar levado na cama, o quarto arrumado pela irmã que sempre só atazanava, os trabalhos escolares feitos pelo próprio pai, além do tapinha amistoso nas costas do irmão mais velho, que apenas um dia antes, só sabia dar cascudos.
Que dia perfeito! - pensou ao se deitar.
Só não tardou a maçaneta da porta girar, e os parentes entrarem com sorrisos estranhos no rosto - é... sempre tem alguma coisa...
-Caraca velho! - disse pro irmão - Assim você me pega com as calças na mão, estava acabando de me vestir, pô!
Um silêncio demorado...
-Que cara são essas? - Nem bem Maurício terminou a pergunta, e milhares de baratas imundas, da casca grossa e brilhante, abandonaram o couro vazio dos seus hospedeiros. Saiam pela boca, pelos olhos e por outros lugares que não vale a pena mencionar.
Eram muitas... e voavam... não poderia ser pior! Barata voadora!
Mauricio corria feito gazela manca. Porta, escada, parede de concreto? Que é isso, nem tomou conhecimento... O problema é que pra onde corria tinha barata.
Uma lagartixa comedora de inseto apareceu para ajudá-lo, achando que ia se banquetear. Mas foi devorada pelas baratas! Mauricio seria o próximo.
Quando estamos apertados, passando por uma dificuldade muito premente, costumamos ter lampejos de genialidade. Mas com Maurício não era assim, por isso se lembrou da magno 44 que ele guardava debaixo da pia,para detonar as baratas que apareciam, e deu um tiro certeiro no botijão de gás!
É... o quarteirão todo foi pelos ares. Pelo menos, as baratas também.
Mauricio foi preso... Pasmem!... Não por ter mandado todo o quarteirão pro inferno, junto com duas escolas próximas, um hospital, e um asilo de velhinhos. Mas por portar arma sem autorização ( lembrem-se, essa história se passa no Brasil, né ).
Já na cela, cercado por quatro homens, gabava-se por estar em cela especial por ter curso superior. Esses companheiros de cela eram políticos, uma observação.
De repente, os quatro homens murcharam como balões que se esvaziam, e adivinhem.... isso mesmo... Baratas!