O Plastificador

Ele atendia pelo nome de James F. Stuart, e construiu uma vida de glórias no mundo da moda. Era respeitado, admirado, imitado... Por muitos anos o seu talento não fora reconhecido. Mas um dia a sua estrela brilhou. De aluno insignificante em todo o segundo grau, transformou-se num empresário de sucesso. Os seus manequins eram invejados, não apenas pela realidade que transpassavam em seus olhos vívidos e brilhantes, mas também pela singeleza das formas e poses, e pela realidade de suas cútis, ditas de cera.

Claro, o que ninguém sabia era que James era um profanador de túmulos dos piores que já existiram! E também, um artista recolhido no fundo de su'alma - um Rembrandt, para muitos - mas não para mim...

James lia todas as semanas os obituários da cidade, e às vezes, do Estado, em busca das pessoas mais belas que haviam falecido. A sua única exigência: pessoas jovens, bonitas, e desconhecidas!

Geralmente, quando a madrugada ia alta, James Stuart caminhava sorrateiramente pelos meandros escuros dos cemitérios mais imundos, carregando a tiracolo as suas infames ferramentas de trabalho: pá, enxada, rastelo, martelos, fotos do obituário, etc...

As suas mãos calejadas rompiam o solo que deveria ser sagrado, na busca dos corpos frescos que a sua vil intenção de poder, e a sua índole psicótica, cobiçavam. Às vezes, e não eram raras, abria e violava a sepultura errada, encontrando corpos em adiantado estado de putrefação ou em liquefação, vindo a borrar os seus pés e braços com o chorume escuro e fétido dos cadáveres, quando do abrir dos caixões... Mas nada disso o desanimava.

Por anos, de cidade em cidade, desenterrou as moças mais belas que haviam morrido, e carregando os seus corpos às costas, soterrados em sacos escuros, os levavam até o porão de sua casa, e lá, com a técnica que aprendera enquanto trabalhava numa indústria química, os plastificava!

E assim fora, por anos e anos. Pessoas que frequentavam os seus pavilhões da moda, em busca de vestidos e roupas das mais caras, sequer suspeitavam que aqueles manequins que tanto apalpavam, beijavam, e que os deixavam maravilhados - e dos quais extraiam as roupas que os iriam vestir - nada mais eram que cadáveres, outrora enterrados, embalsamados em PLÁSTICO!

Mas as suas práticas levantavam suspeitas, e todas as polícias do Estado já procuravam o profanador de túmulos. O cerco estava se fechando...

James F. Stuart era inteligente, como bom psicopata, não se deixaria capturar tão facilmente. Logo, as suas práticas de simples violador de sepulturas, o transformariam num assassino cruel e meditabundo. Escolhia as suas vítimas pacientemente, entre as mais belas pessoas que achava em suas andanças traiçoeiras, como uma cobra que se arrasta em busca de um calcanhar. Como era um homem belo, rico e de boas maneiras, atraia com facilidade as suas presas até um lugar afastado e reservado... E lá, extraia com um estilete, o sangue delas por um único orifício atrás das orelhas, pois não podia se imaginar maculando a sua futura obra de arte.

E assim, depois de um tempo não muito longo, fundou uma agência de modelos para captar ainda com mais facilidade, e num ritmo quase industrial, as pessoas mais belas do país.

Migrou para a televisão, num programa de sucesso autointitulado - "garota espetacular" - que busca as meninas mais bonitas e desconhecidas da nação, explorando os sonhos delas de se tornarem mulheres famosas e requisitadas, para depois extrair-lhes o sangue pela carótida, enquanto amarradas, se debatem até se tornarem alvas como uma estátua de mármore. Para logo depois, injetar-lhes plástico pelas veias, boca e orifícios, e expô-las aos olhos do mundo como um objeto inanimado e eterno. Realizando de vez, o sonho de todas elas... de tornarem-se eternos modelos e MANEQUINS!

London
Enviado por London em 08/01/2015
Código do texto: T5095150
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