As Portas Do Inferno
Se os mortos não mentem, talvez se possa dar a esta lenda impressionante alguma facticidade. Uma história escondida por muito tempo, revelada agora através da minha palavra, que permanecerá nestas páginas.
A história de Richard Taylor, um homem sábio, honesto, humilde e trabalhador. Porém, apesar das diversas qualidades que detém, seria a sua enorme curiosidade a traçar-lhe um fim trágico que lhe custaria a vida.
Em 1937, o professor Taylor procura o golpe final que provaria a sua teoria. Taylor era um aclamado teólogo, mas isso não evitou que os seus contemporâneos o chamassem de louco. Como poderia um homem de enormes conhecimentos gastar a sua vida à procura de um mito? A sua obsessão consistia em encontrar as portas do abismo. Sim, as portas do inferno têm sido, ao longo dos tempos, um grande mistério, nomeadamente quanto à sua localização. Uns indicavam para o interior de vulcões, outros apontavam para o fundo das mais profundas cavernas e dos locais mais assustadores da Terra. Mas para Taylor, tudo se resumia a um ritual de magia negra.
O professor instala-se na Península Ibérica, procurando a ajuda que necessita: um grupo de seguidoras wiccanas. Alguém que estivesse envolvido com certo tipo de magia negra seria aquilo que procurava.
Richard Taylor encontrava-se a norte, nas Astúrias, onde secretamente se iria encontrar com uma respeitada dominadora de magia negra. O seu nome se dava por Rosario Escobar, nunca se sabendo de sua validade.
Era uma gelada noite de inverno, quando o professor chega ao cimo do monte e bate à porta. O professor é bem-vindo a entrar, mas examina aquele ambiente desconfortante. Era uma sala negra, pintada de negro, mobilada de negro e enfeitada de negro. Mesmo o corvo de estimação se camuflava naquelas paredes, o que esta mulher terá de bom? Ela era uma mulher de poucas e arrepiantes palavras, tinha uma aparência horrível, retirada dos piores pesadelos, com uma verruga num lado da face. Ela senta-se e escuta aquilo que o estranho lhe trazia para dizer.
O professor apresentava-lhe as suas intenções de abrir a porta do abismo como o culminar dos seus mais de trinta anos de pesquisa. A mulher observa-o. É sincera ao revelar-lhe que sim, era possível, mas devido ao risco e à inexperiência, recusava-se a colaborar com este lunático plano. Obviamente que o professor não se deixa ficar, porque depois de tantos anos de trabalho, não poderia desistir quando está tão perto de provar que a razão se encontra do seu lado. A única maneira que parecia mudar a vontade daquela pobre mulher era o dinheiro. Sim, dinheiro, isso certamente não irá recusar.
A mulher suspira. Olha-o nos olhos. Inclina a cabeça, como se aceitasse e disse:
-Amanhã, estaremos do outro lado do vale pelo anoitecer, sem testemunhas. Aviso-o, isto será a última coisa que irá fazer na sua vida, peço-lhe que não cometa tal estupidez.
Estupidez essa que na mente de Richard Taylor iria mudar a sua vida, consolidando assim um homem genial e que marcaria o mundo.
Apesar disso, Taylor sentia medo daquilo que lhe poderia acontecer. Seria aquela a grande descoberta da História ou o fim da sua?
Na noite seguinte, as temperaturas decaíam e a demência do luar formavam um ambiente pesado. Numa cabana abandonada no cimo da montanha, parecia o local perfeito para a realização do ritual. O professor esperava. Tremia intensamente. Tremia de frio e, sobretudo de medo, consciente do possível horripilante destino da sua vida.
À meia-noite, aproximadamente, o professor avista a mulher caminhando na sua direcção, acompanhada com outras seis mulheres encapuzadas de negro que não lhes conseguia distinguir a face. A mulher pára, fixa o olhar no homem e sem pronunciar uma única palavra, segura um pedaço de madeira e desenha aquilo que parecia ser um pentagrama invertido. Sem o professor reparar nas suas intenções, a mulher desfere um golpe no pulso, soltando um grito de dor. Ela recolhe o sangue que lhe escorre das veias, junta-o a um recipiente e acende algumas velas encarnadas que trazia consigo. A mulher cita palavras latinas lidas de um velho livro revestido a couro negro misturadas com o dialecto originário daquelas terras. Enquanto isso, as outras criaturas cantam e dançam macabramente como se obtivessem prazer daquele ritual bizarro.
O chão começava a tremer, criando o pânico naqueles infelizes que viram a cabana desmoronando, primeiro a mobília e papeis voavam pela janela e depois as paredes acabaram por ceder. Nessa altura um buraco começa a abrir-se no chão e um enorme clarão cega os presentes, morrendo de medo e terror, ateando fogo à madeira. O intenso barulho que saía do abismo junto com os gritos gerava um ambiente perturbador, até que o clarão se apagou.
No dia seguinte, a polícia testemunhou um suicídio em massa de sete mulheres, carbonizadas. Esta foi a única explicação para o sucedido. Em lugar nenhum se encontra o nome ou o corpo de Richard Taylor e, provavelmente nunca se saberá.