Dalmiskka
Tudo o que existe no mundo tem uma fantástica capacidade de adaptação. Ninguém melhor para ilustrar isso do que o ser humano. Vejam, como até mesmo os contos criados décadas atrás se adaptam às respectivas épocas. Hoje, os vampiros são seres camaradas, nem de longe lembram os demônios que outrora mostraram ser, e se forçar um pouquinho mais ... poderemos encontrá-los nos "Shopping centers", nos cinemas, nas lojas de conveniência, ali no supermercado e até mesmo nas ruas mais movimentadas, em plena luz do dia! Graças à adaptação de nossa literatura do século XXI, e do cinema atual. Estranhamente acho que estamos é nos adaptando às trevas que nos rodeiam, e isso é mais um joguete da escuridão para que a aceitemos gradualmente, enfim, isso é uma opinião pessoal. Mas vamos aos fatos:
O meu primeiro encontro com Dalmiskka aconteceu numa festa, no dia dos namorados europeu. No dia 14 de fevereiro, de 1216. Muito tempo atrás... Eu estava com uma jovem amiga, sentado embaixo de um antigo quiosque renascentista cravado elegantemente no meio de um pequeno jardim perdido no bosque, por onde se chegava através de uma discreta e pequena alameda cercada de olmos e trepadeiras, quando Dalmiskka se apresentou a mim, violentamente!... Senti quando um vento rápido e frio lampejou próximo aos meus cabelos, deixando que salpicos quentes de sangue caíssem em meu rosto. Para logo depois, horrorizado, contemplar o corpo da jovem dama que me acompanhava, deitar ao chão morto, como uma árvore muito alta que cai ao golpe de um machado. Não sei se a paralisia que me atingiu de repente, fora obra e efeito de Dalmiskka, ou do simples horror que me acometera ao ver a cabeça de Vivilini rolar, perdendo-se nos arbustos. Seja como for, eu não podia esboçar nenhuma reação que não fosse observar ali, sob a luz das estrelas e da lua, Dalmiskka ostentar o que sobrara do pescoço da jovem donzela, contra um céu tão negro, quanto o fumo do inferno. Dalmiskka aspirava o hálito do sangue que vertia, como se este fosse o caramelo quente de uma doce maçã do amor.
Dalmiskka é sim, uma mulher linda. Mais alta do que a maioria das mulheres daquela época, e mesmo dos dias de hoje. Traços finos, parcialmente escondidos atrás de uma vasta cabeleira ondulante, quase crespa, variando de um dourado a pardo, como os ciganos de sua estirpe. Os olhos de um azul tão hipnótico, que me pergunto se pertenceram realmente a ela num passado ainda humano, ou se fora presente do demônio, para que pudesse seduzir os desavisados. Mas, estranhamente, a sua pele era rude e áspera, e a sua roupa trazia terra negra de sua sepultura. Ela se aproximou e me tocou - julguei que seria o meu fim - mas ela não o fez, apenas jogou-me nas costas, como se eu não pesasse mais do que cinco quilos, e andou comigo pacientemente, pela floresta.
Chegamos a um velho cemitério abandonado no meio das árvores, esquecido pelos humanos, cujos túmulos já haviam sido tomados, há tempos, pela vegetação e pelos escombros. Ali ela me jogou numa cova, cujo caixão aberto me aguardava, e dentro dele deitou-se comigo, e o fechou! Ela não podia ficar muito tempo longe da terra que a cobria, e precisava de sangue vivo para sobreviver. Sangue de gente, nunca de animais.
Ela não me matou naquele dia, nem me transformou num ser condenado. Ao invés disso, enfiou a mão em sua boca, desceu com ela até a garganta, chegando a enfiar o braço todo pela boca, e trouxe o seu coração até mim. E m'o ofereceu. Ele não batia... na verdade era seco como uma semente de ipê, e as veias que ainda o ligavam àquele corpo, pareciam raízes de salgueiro retorcidas e duras. Eu tive uma profunda pena dela naquela instante...
Pois é... isso é ser um vampiro. Nada de bons mocinhos com uma vida glamourosa. A eternidade pesa sim, sobre os ombros deles. Dizem que eles não tem alma... Mas eles têm sim, mas a alma dela está condenada a não abandonar o corpo morto. E se ela não o irrigar com sangue vivo, vagará com ele em estado de putrefação eterna. Então, com uma voz engasgada, ela fez um pacto comigo... Também, há muito tempo...
Ela saciaria a sua sede em mim, sem nunca me matar... ao contrário... me dando longevidade sobrenatural, se eu fosse dela, e apenas dela! Um amor eterno, e real, através dos tempos imemoriais deste mundo. Eu me adaptei a ela, e a essa situação. Não tive muitas escolhas.
Assim, em determinados dias do mês, ela se arrasta furtivamente até mim, no forma de uma grande ratazana... ou voa... semelhante a uma coruja ou morcego... e me busca para aquecer aqueles braços frios e mortos.
Existe uma cripta subterrânea, num lugar secreto, onde ela erra por toda a eternidade, alimentando-se de terra e sangue... O meu sangue, e, às vezes... o de outras pessoas...
Se há alguém por ai, que realmente queira se tornar um vampiro... Um vampiro real! É só entrar em contato comigo, que os apresentarei a Dalmiskka.