HISTÓRIA DE MORTE CONTADA NO HORÁRIO DE VISITA
Hoje ela vai autorizar. Não aguentou a pressão. Nunca aguenta a pressão por muito tempo. Está falando ao celular, baixinho para que eu não escute. É claro que não vou escutar; o que acontece no mundo dos vivos não me interessa mais. Esse maldito apego dos vivos! Devia ter autorizado logo, assim todos estaríamos bem... bem fudidos, como sempre! Só que livres... O médico chegou, ela se joga nos seus braços, chorando sua perda. Ele a ajuda a se sentar, gesticula e fala baixo, estende a caneta e mostra onde assinar. Ela chora mais, ele abraça mais. Desaba no desespero; se assinar é um caminho sem volta. Isso não me interessa; só quero que assine logo! Quero ir embora logo! Ele segura sua mão, fala baixo perto do seu ouvido. Ele não tem aliança; espero que ela seja o seu tipo. Ela se levanta e os dois saem. O papel e a caneta ficam esquecidos. Paciência... paciência... paciência... Já tive muita, porra! Me deixa ir embora! Autoriza logo essa merda! Não aguento mais... não aguento mais...