NO QUARTO DAS CRIANÇAS

Ela puxou a cortina e visualizou por detrás da janela o céu: nuvens carregadas de água, relâmpagos faiscantes e um vento brutal que chacoalhavam as árvores e deixavam em evidência que a qualquer momento cairia uma terrível tempestade.

Não seria nada mal, pensou Bruna, coçando o queixo e apoiando seu joelho direito sobre o sofá. Amarrou seus cabelos louros para evitar que a sua nuca suasse. O dia foi quente e preguiçoso. Nem uma brisa apareceu para dar aquela apaziguada no clima escaldante.

As crianças – Pedro e Adriana - brincavam no chão da sala. Haviam espalhado suas bugigangas.

Ainda bem que Bruna era uma jovem babá paciente, sabia suportar a maioria das situações estressantes com magistral resignação.

Olhou para o relógio. Eram dez horas da noite e deveria colocar as crianças na cama. Bruna ordenou para que elas subissem para o quarto, mas ambos continuaram a brincar, sem dar suas orelhas ao pedido.

A ordem foi emitida pela segunda vez e num tom menos delicado. As crianças ficaram emburradas, protestaram, mas acataram a ordem e subiram para a escuridão do quarto que ficava no segundo andar do sobrado.

Depois de acomodar as crianças na cama, Bruna desceu para a sala e ligou a televisão. Uma notícia de cara intrigou a garota.

“Um maníaco extremamente perigoso escapara da prisão e a polícia suspeitava de que o homem fugiu para o bairro Jardim Monte Alegre”

Ela sentiu um leve medo, afinal a notícia citava o bairro em que se encontrava e no qual o maluco veio se esconder. De repente...

Adriana começou a gritar do quarto por socorro. Bruna sentiu seu coração bater forte em seu peito, largou o controle ao chão e correu para acudir os gritos de desespero da garotinha.

- O que foi? – perguntou abrindo a porta e, em seguida, acendendo a luz.

- Tem um homem na varanda, tia. – disse Adriana olhando com extremo medo para a janela que dá acesso à varanda.

E acrescentou apontando o dedo para a janela.

-Ele tentou entrar por ali, ele tentou entrar por ali!

Pedro estava mudo, mas seu olhar demonstrava intenso medo e concordava, meneando a cabeça positivamente, com tudo o que a irmã havia dito.

Um galho de uma árvore arranhava a janela. Bruna agarrou uma vassoura e seguiu a passos curtos até a varanda, puxou devagar a cortina branca da janela e viu que não tinha nada, apenas a tempestade violenta que caia.

- Não tem nada aqui, Dri. – disse para a garotinha – São os galhos dessa árvore que ficam batendo aqui na janela. Agora, dorme e fica tranquilinha.

- Mas eu vi! – protestou Adriana.

Bruna se aproximou da garota e colocou o lençol sobre o corpo dela.

- São os galhos da árvore que fizeram uma sombra dando a impressão de que era um homem. Durma! Qualquer coisa, grita! Estarei lá embaixo.

Depois do susto, a babá desceu as escadas e foi pegar um copo de leite. Em seguida, certificou se as janelas e as portas da casa estavam bem fechadas. Tudo em ordem.

Pulou no sofá, abaixou o volume da televisão e ligou para o seu namorado Ricardo. No momento em que Ricardo disse alô, a luz da casa piscou e tudo ficou no breu.

Bruna olhou para a janela e os relâmpagos clareavam o ambiente. A chuva continuava forte. Resmungou com um palavrão.

- Puta merda!

Jogou o telefone sobre o sofá, calçou as sandálias e caminhou em direção ao banheiro. Mas antes de entrar, ouviu gritos abafados vindos do quarto das crianças.

Correu para lá.

A janela estava escancarada e Pedro e Adriana não estavam na cama. Bruna entrou em desespero e gritava pelos dois. Apenas os barulhos da chuva e dos raios eram escutados.

Começou a tremer, sentiu um frio assassino percorrer todo o seu corpo, gotas de suor salgadas deslizavam pelo seu rosto. Suas mãos se tornaram rígidas.

- Crianças, parem já com essa brincadeira! – disse fechando a janela – Voltem para a cama!

Nenhuma resposta.

Aquela situação começou deixá-la em pânico. As crianças não brincavam dessa maneira. Agarrou a vassoura que estava atrás da porta e ouviu alguns passos no corredor.

Correu para detrás do guarda roupas e ficou ali sem se mover. Alguém se aproximava do quarto. Tinha as pegadas pesadas como chumbo, parecia um elefante que invadira a casa.

A respiração era ofegante e parecia que esse alguém arranhava a garganta como um monstro. Ela deu uma espiada em direção a porta e paralisou!

Era um homem vestido de palhaço com uma foice enorme na mão. Da boca dele saia uma baba branca e gosmenta. Seus olhos eram desvairados, sem controle e sem direção.

Bruna se lembrou do maníaco noticiado na televisão. Tudo estava perdido. As crianças desapareceram.

O palhaço maníaco entrou no quarto e começou a quebrar tudo com a sua foice. Bruna sabia que seria encontrada a qualquer instante. Ele destruiu a cama, as vidraças e gritava ensandecido.

- Sinto seu cheiro, sua cadela!

Ele foi em direção ao guarda roupas e começou a destruí-lo. Bruna não teve outra solução: empurrou o guarda roupas e tentou com a sua desprezível vassoura abater o maníaco. Porém, ele era enorme e tomou facilmente a vassoura das mãos dela.

O palhaço maníaco começou a rir como um doido e empurrou a pobre babá para a cama. Ela caiu de bruços pressentindo o seu fim trágico. Ele levantou a foice e um estalido seco rompeu o ar.

A foice caiu ao chão e os joelhos do palhaço se dobraram. Em poucos segundos, o seu corpo sem vida caiu com tudo no chão, derramando o sangue e encharcando a foice de líquido vermelho.

Bruna se levantou. Olhou para a porta e viu Pedro estático com uma arma na mão ainda apontada. Ele salvou a vida da sua babá.

Bruna correu junto as crianças e abraçou-as.

Graciliano Alves de Azevedo
Enviado por Graciliano Alves de Azevedo em 27/12/2014
Reeditado em 24/03/2015
Código do texto: T5082758
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