A MENINA DA VELA PRETA

Segunda Feira

O relógio tocou as cinco da manhã. Erick levantou irritadiço. Dormira muito mal naquela noite. Sonhos estranhos permearam a sua mente. Não conseguia se lembrar, mas se sentia incomodado.

Precisava trabalhar. Tomou um banho, abocanhou algumas torradas, agarrou a pasta e foi para a garagem. Chegando lá, teve uma surpresa! Havia um bilhete no para-brisa do carro.

“Respeite e compreenda o próximo – Faltam 4 dias “

Erick riu com desprezo, amassou o papel e jogou no lixo. Ao sair com o carro, quase atropelou uma senhora que passeava com um cachorrinho. Erick xingou alucinadamente a pobre senhora. Atravessou o sinal vermelho. Estacionou em vaga de deficiente.

Não deu bom dia a sua secretária. Humilhou seu subordinado. Ofendeu três clientes. Chegou em casa estressado.

Terça Feira

Dez da manhã. Erick estava parado no sinal. Um homem velho e maltrapilho se aproximou com uma placa e parou na frente do carro de Erick com as seguintes palavras:

“Ame de Verdade – Faltam 3 dias”

Erick enlouqueceu com tal ousadia. Buzinou e fez menção de jogar o carro contra o pobre homem. O semáforo abriu e o senhor conseguiu pular para a calçada.

Erick ficou intrigado com aquela placa, mas não deu muita importância. Tinha mais o que fazer, pensara. Na fila do banco, recebe um recado apaixonado da sua esposa no whatsap, ele leu e guardou o iphone. Se sentiu irritado.

Ele não é de melodrama. Porém, mais uma nova mensagem. Era da Amante Carlinha dizendo que esperava por ele no motel. Erick se empolgou e respondeu que estaria com ela em torno de quinze minutos.

Quarta Feira

Erick acordou as duas da manhã com uma nova mensagem no iphone de um número desconhecido.

“Perdoe para ser perdoado – Faltam 2 dias”

Sem titubear, ele manda uma mensagem agressiva. Mas começa a ficar intrigado. Afinal, faltam dois dias para quê? Se sentiu ameaçado. Será que era seu irmão Ricardo procurando por vingança? Não se sabe. Afinal,

Erick tinha motivos para se sentir com medo. Aplicou um golpe em seu irmão, deixando-o na miséria. Decide que a partir daquele momento irá andar armado e também conclui que o irmão merecia viver na penumbra.

Quinta-Feira

No trabalho, Erick abre a sua gaveta e encontra um memorando. Pega-o e abre. Há uma frase grande que o deixa enraivecido.

“Aproveite o agora – Falta 1 dia”

Erick começa a gritar desesperado nos corredores da empresa questionando quem fez aquela brincadeira de mal gosto. Ninguém compreende.

Ele mostra o bilhete para o seu sócio Valter. O sócio lê e não vê a frase que Erick leu, mas um memorando normal como qualquer outro. Erick agarra da mão e procura pela frase, mas não a encontra.

Começa a pensar que está louco ou muito estressado. Após tal episódio, o dia corre normalmente.

Sexta Feira

Erick esquece daquelas frases idiotas e combina com Claudinha uma saída à noite. Ela topa.

Ele precisa relaxar e vai inventar para a mulher que haverá uma reunião na empresa e que ficará lá até tarde. A mulher acredita e diz que irá visitar os pais, mas voltará cedo para a casa.

Ambos tem seus carros próprios. Alguém bate na porta da sala e Erick vai verificar quem é. Ao abrir a porta, ele olha assustado para o que encontra : uma vela no chão e uma frase na porta.

“ Velarei, amanhã, o seu corpo”.

Erick fecha a porta com violência. Começa a suar frio. Mas se recompõe quando a esposa pergunta a ele quem era. Ele responde que não é ninguém.

À noite, Erick pega Claudinha em casa e parte para o restaurante que fica na zona sul de São Paulo. Ele pega a marginal para chegar mais rápido. Olha no retrovisor e sente que alguém está o seguindo. Ele acelera o carro e começa a ultrapassar todos os carros.

Numa curva, seu carro encontra com o outro e...bate violentamente.

Erick abre os olhos e sente seu corpo doer como nunca doeu antes. Olha para o lado e vê que Claudinha não reage.

Ela está morta. A ambulância chega. Há muitos curiosos ao redor. Os bombeiros conseguem retirar Erick das ferragens e ele é colocado na maca. Ainda respira.

Consegue verificar o rosto do seu irmão que virara médico. Tenta pedir perdão, mas não consegue. No outro carro, estava a sua esposa morta. Erick é colocado na ambulância. O barulho externo parece diminuir e ele sente as suas forças exaurirem.

Uma menina de camisola branca carregando uma vela preta....fecha a porta da ambulância e diz : É hora de ir, Erick.

Erick morre duas horas depois.

Graciliano Alves de Azevedo
Enviado por Graciliano Alves de Azevedo em 26/12/2014
Código do texto: T5081185
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