O Fruto Do Pecado DTRL 19

Tema: Conventos religiosos

Irmã Rosaure já perdera a noção do tempo, do dia ou da noite... ali, naquela masmorra infernal onde jazia, a escuridão era eterna, assim, como o fedor, os ratos e outros bichos que ela nem se atrevia a imaginar quais fossem subindo por suas pernas. E a dor, a dor sem fim...ela já não sentia mais as mãos, tanto tempo fazia que estava pendurada pelos braços, que pareciam balões de tão inchados.

Em sua mente confusa e atordoada pelo sofrimento ecoava a voz terrível da Madre Superiora, cuja cara pavorosa era a única que via de vez em quando. "- Filha de deus, arrepende-te dos teus pecados!" E o crucifixo em sua testa, as água benta em seu rosto eram ainda assim um refrigério inesperado para sua febre de monja torturada e submetida ao máximo de dor que um ser humano pode aguentar...

O inferno...ah, Irmã Rosaure duvidava que se pudesse sofrer mais no inferno que naquele calabouço infecto onde estava para pagar seus pecados. Seus pecados... mas seriam somente seus? Um filho não se faz sozinha... ah, ela desejava o inferno com toda a força de sua alma desesperada, os gritos dos condenados seriam um cântico celeste aos seus ouvidos, que nada captavam além dos guinchos dos ratos e morcegos, e o ronco de seu estômago que clamava por alimento...havia uma tigela de cereal apodrecido ali perto, ela o sabia, e também uma bilha de água verde, mas quando as trevas eram menores a monja dependurada podia ver, mas não tocar... " - Filha de Deus, arrepende-te dos teus pecados!" Ah, a Madre Superiora voltaria, entraria por aquela porta de ferro a qualquer momento... e a cada vez que ela vinha apertava ainda mais as cordas ásperas que a elevavam do chão...

Irmã Rosaure pensava na vida que crescia dentro dela, e que apesar de tudo ela ainda sentia se mexer, ainda lutava por ver um dia a luz... que luz? Aos poucos a moça mergulhou numa espécie de desmaio, ou de sonho, a fronte orvalhada de suor caída para um lado, o corpo todo anestesiado pela falta de circulação, relembrando...

Ela pertencia a uma nobre família francesa, seu pai fora um herói das Cruzadas. Sua mãe aguardava seu nascimento na época, e fizera uma promessa. Se o marido voltasse são e salvo dos Lugares Santos, o filho que estava em seu ventre seria consagrado a Deus... ele regressara, e nascera Rosaure, linda, de olhos azuis e cabelos dourados, e os pais a prometeram a um convento de clausura, onde seria entregue assim que completasse 15 anos de idade, juntamente com um vultuoso dote. E assim foi feito... a menina atravessou os portões do austero mosteiro sem reclamar, já consciente do seu destino, e de que nunca mais veria o mundo ou sua família. Teve os lindos cabelos raspados, recebeu um véu negro e um grosseiro hábito de crina, e iniciou o noviciado.

Mas, o capelão do convento era também jovem e bonito, como um anjo, e logo notou a beleza da jovem noviça...durante as confissões ele lhe dizia que dois corpos consagrados poderiam se unir, que não havia nisso nenhum pecado, que o sacerdote é a figura de Cristo na Terra. E assim conseguiu seduzir a ingênua Rosaure, os encontros aconteciam tarde da noite, na sacristia deserta... logo a Madre Superiora percebeu que o ventre da noviça crescia, o capelão foi substituído por um velho e decrépito padre, que fora seu amante no passado, e Irmã Rosaure levada àquele medonho calabouço e atada àquelas cordas... quanto tempo fazia isso? Não sabia... só lembrava da voz terrível que a excomungava e dizia, " - Arrepende-te dos teus pecados, filha de Deus!"

Agora Irmã Rosaure não sentia mais nada, mergulhada num vazio abençoado de esquecimento... a Madre Superiora entrou com o crucifixo e o hissope, e percebeu que ela estava morta. Então pegou um facão enferrujado que ali havia e rasgou o ventre da jovem de cima a baixo, mergulhou as mãos na placenta ensanguentada e tirou o feto esquálido, mas ainda se movendo. Ela o joga no chão, corta a corda de onde pende o cadáver de Irmã Rosaure e os asperge com água benta, enquanto repete numa espécie de transe demoníaco, " - Arrepende-te filha de Deus!"