O rápido movimento dos olhos
Deitou-se. Virou para o lado esquerdo, cobriu os olhos. Apenas o zunir ventiladoresco reconfortante depois de tanta algazarra. Imaginou ouvir as folhas secas remexerem-se ao vento. É o medo, pensou. Era o medo. Tímido, mas era. Virou para o lado direito, encontrou nova posição de conforto e sua mente começou a brincar com a realidade, enviando as primeiras mensagens do sono e as formas, cores e sons dançaram suave e bruscamente até que tamborilou algo no quintal. Formas, cores e sons desvaneceram. Do lado de dentro da carne do peito, agitou-se o ritmo cardíaco. Não era nada, era o susto. O susto-nada, porém, estava acompanhado do medo que esperava nas folhas secas. Virou de bruços, pôs o travesseiro sobre a cabeça, pegou os fones de ouvido e colocou uma música celta, dessas que trazem imagens verdes e primaveris que logo transformaram-se num abismo vermelho e sombrio e de chamas escuras quando ouviu um tilintar no cadeado que o protegia da rua sinistra governada pela madrugada maléfica. Era a morte, pensou. A morte, que usou o susto que não era nada e o medo que insistia em dançar nas folhas secas. Um zumbido agudo como que de um caminhão estacionando se fez ouvir, mas não tinha certeza, passou rápido, mas foi um som tão real que pôde até discernir pelas notas dissonantes que se tratava de um veículo amarelado e enferrujado. O coração, frenético, estrugia tão forte que pensou sentir toda a cama tremer. Silêncio. ... Silêncio, ainda... No silêncio, o medo reina e a morte chega no susto, que atravessou a sala, dirigiu-se ao quarto e caiu sobre o corpo rijo como um manto negro.