O Doce E Macabro Segredo De Anna - Quer namorar Comigo?
Anna não era muito boa em Matemática, mas olhou a data na lápide e fez a conta imediatamente.
- Cento e cinquenta anos. - falou para si mesma balançando a cabeça. - Ele está morto há cento e cinquenta anos...
Passos leves atrás dela a fizeram-se voltar-se. Inácio aproximou-se dela sorrindo e mais uma vez tomou sua mão entre as suas e beijou-a.
- Então sempre voltou, D. Anna... - disse.
Anna pousou nele seus grandes olhos azuis e reteve a mão dele entre as suas.
- Engraçado... você está morto, mas sua mão não é gelada como a de um fantasma.
Inácio sacudiu os cabelos, bem humorado e com uma ponta de melancolia ao mesmo tempo.
- E quem disse que os fantasmas são gelados? - respondeu. - Isso é uma lenda que as pessoas criam enquanto vivas. Fantasmas têm tanta carne quanto os chamados vivos, D. Anna...
Anna sentou-se no túmulo dele. Inácio tomou o balão entre os dedos e começou a soprá-lo.
- Engraçado... você me chama de dona...
Como o perfil de Inácio era lindo e perfeito contra o céu crepuscular! Anna cada vez mais o achava bonito. Ele a encarou com seus olhos negros e doces.
- E como eu deveria chamá-la? - perguntou. - eu sei, eu já percebi que tudo mudou durante esse tempo todo em que estou morto, tudo mudou e muito...
- Muito... me chame apenas de Anna...
- Está bem... Anna.
O celular de Ana tilintou dentro da bolsa, ela o pegou, era um torpedo de sua mãe. Inácio inclinou-se, intrigado com aquele pequeno e vibrante aparelho luminoso.
- O que é isso? - perguntou.
Anna vacilou com o celular entre as mãos.
- Ah, isso aqui é... ah, deixa pra lá, você não vai entender... isso aqui é um aparelho que serve pra falar com as pessoas.
ele ergueu as sobrancelhas.
- Verdade?
- Sim... - ela respondeu. - E também para muitas outras coisas... jogar, ouvir música, por exemplo...
Anna pos a tocar a música do Charlie Brown Júnior, Uma Criança Com O seu Olhar.
- É a minha banda preferida... - explicou.
Inácio escutava a música atentamente.
- Deveras? É bastante diferente do que eu ouvia... eu gostava muito das peças de Chopin...
Anna sentia o hálito de Inácio bafejar seu rosto. Seu coração batia forte. Sem se conter mais ela passou a mão no rosto dele, sentiu seu calor, sua barba, tocou nos seus cabelos, e eram macios...
- Você parece vivo...
Inácio agora estava sério. A música continuava a tocar no silêncio sepulcral do cemitério.
- Eu estou vivo, Anna. - respondeu. - a vida continua sempre... nós somos seres eternos...
Uma lágrima rolou dos olhos dela.
- Eu acho... eu acho que estou gostando de você. - murmurou.
- Eu também. - ele respondeu, secando os olhos dela de leve. - Não chore... porque chora, Anna?
- Porque você está morto, Inácio... como eu vou ficar com você, se você está morto?
- Vai ficar, Anna... vamos ficar... o amor é mais forte que a morte.
Agora tocava outra música do CBJ, Vou Te Levar daqui. Aquela música parecia ter naquele momento um sentido novo, não parecia estar tocando à toa.
- Estou sozinho há tanto tempo... - disse Inácio baixinho no ouvido dela. - Preciso muito de você, Anna...
Anna o puxou para si e se beijaram.
Aos prezados leitores, recomendo que leiam as partes iniciais desse conto para melhor entendimento. Grata.