O Doce E Macabro Segredo de Anna- O Início
Um ano antes...A algazarra era total dentro da van escolar lotada de adolescentes fantasiados. Era Halloween e a festa na classe fora muito animada. Alguns garotos vestidos de vampiro, outros de zumbi, as meninas em sua maioria trajadas como bruxas. A única que estava com um traje um tanto diferente era Anna. Ela usava um vestido de brocado roxo com enfeites dourados, que vira num brechó e não dera sossego à sua mãe até que ela o comprasse. Nos longos cabelos louros o único adorno era uma rosa de cetim roxo. Ela não tinha consciência do quanto estava linda, mesmo assim sentia a inveja das outras colegas, menos de Laura e Isabela, suas melhores amigas.
Anna tinha 14 anos e considerava seus colegas de escola, pelos menos os da sua classe, uns perfeitos retardados mentais. Ela tinha admiração pelos mais velhos das outras turmas, de 17 ou 18 anos, que já se encaminhavam para o vestibular. Agora os débeis mentais começaram uma guerra com os doces que haviam sobrado da festa. Trick or Treat, pensou Anna com desprezo, jogando de volta um brigadeiro que acabara de atingir seu lindo vestido.
- Ei, vocês querem parar com isso, seus idiotas? - reclamou furiosa.
- Ah, Anna, deixa de ser chata! - respondeu Timóteo, o líder da gang dos retardados, um menino de 15 anos com aparelho nos dentes. - até parece que você tem 80 anos! Hoje é Halloween!
Laura e Isabela riam muito. Elas também são meio infantis, apesar de serem minhas melhores amigas, pensou Anna de mau humor. Tomou nas mãos uma bexiga preta que sobrara da festa, ficou a rodá-la entre os dedos, pensativa...
De repente um estouro, gritos dentro da van, gritaria geral e o veículo pára.
O motorista sai para ver o que acontecera e os avisa:
- Desce todo mundo que o pneu furou!
- Porra, não acredito! - gritaram os garotos em coro.
- Quanto tempo vai demorar? - quis saber Anna.
- Vou ter de chamar ajuda, uma hora mais ou menos. - respondeu o motorista.
A menina bufou de mau humor e desceu da van em companhia dos outros. Eram cerca de vinte adolescentes fantasiados. Olhou em volta; o pneu da van furara justamente perto daquela sombria alameda de cirprestes, que ocultava um cemitério antigo. Laura e Isabela a cercaram.
- Está escurecendo! - disse a primeira. - Quero ver se vocês duas tem coragem de entrar no cemitério numa hora dessas!
- Boa idéia! - respondeu Anna entusiasmando-se de repente. - Sempre tive vontade de entrar nesse cemitério... - seguiu em direção à entrada. - Vamos nessa, vamos!
Laura e Isabela a seguiram, já um pouco arrependidas da brincadeira. Tinham certeza que Anna morreria de medo e não toparia entrar ali... bem, o jeito era continuar. As três meninas atravessaram o portão de ferro centenário, que o vento fazia rangir lugubremente. Silêncio total lá dentro... era de fato um cemitério muito antigo e estava desativado havia pelo menos 100 anos, ou seja, nenhuma das lápides possuía data mais recente. Elas andavam silenciosas. Os ciprestes ciciavam algo semelhante a um lamento... Anna sentou-se numa tumba, muito consciente de sua beleza e coragem.
- Estão vendo? - disse às amigas. - Não tem nada demais aqui dentro, só gente morta há muito tempo... melhor estar com eles que com aqueles idiotas lá fora...
Isabela fez o sinal da cruz.
- Credo, Anna, não diz isso! Esse lugar me dá arrepios... eu quero sair daqui!
- Eu também. - emendou Laura, e as duas foram se afastando. - Vem com a gente, Anna, vem...
- Eu não tenho medo dos mortos! - respondeu Anna com ar superior. - Vão embora vocês, suas medrosas... - e seguiu andando por entre as alamedas sombrias e totalmente desertas, arrastando seu longo vestido roxo, a bexiga preta ainda enrolada em seus dedos. De repente sentiu uma presença atrás dela.
- Boa noite, senhorita. - soou uma voz profunda e sensual. - Não se assuste, não lhe farei mal... meu nome é Inácio. E a senhorita, como se chama?
Anna se voltou assustada, e deu com rapaz um vestido de uma forma estranha. Talvez estivesse também fantasiado para o Halloween... mas o que chamou a atenção da menina foi a beleza dele. Era moreno, cerca de 1.80 de altura, cabelos escuros um pouco encaracolados, grandes olhos negros, uma boca carnuda guarnecida de lindos e alvos dentes...
- Anna. - ela respondeu como que em transe. - Meu nome é Anna...