O Assassino da Avenida 26
A noite fria soprava uivos altos pela Avenida 26, enquanto o vento gélido queimava fortemente o rosto de Jenny. Ela caminhava rapidamente pelas sujas calçadas de concreto, marcadas ainda pelos porcos panfletos políticos, que ajudavam cada vez mais a poluir visualmente o local.
Avenida era extensa, e por ela encontravam-se imensos calçamentos que se espalhavam a todo canto. Naquela noite Jeniffer ou mesmo Jenny, como a chamavam, ouvira boatos sobre um tal maníaco que agredia e tirava a vida de mulheres. Ela encaixava-se em seu perfil, jovem e sozinha, era a vítima perfeita para o assassino da Avenida 26.
Ela apertara seu cachecol rosa marfim, e apressou o passo. Olhava fixamente para o seu relógio esperando que as horas não passassem, mas para seu desespero o tempo voava. Sua casa estava a frente de 6 quarteirões, o medo era lúcido em sua face e como um mal presságio começou a ter a incrédula sensação de que estava sendo observada. Uma lágrima percorreu sua face.
O vento queimava-lhe cada vez mais as narinas, e temor tomou-lhe a alma. A avenida estava deserta e se algo acontecesse-lhe, ninguém saberia ou mesmo a ajudaria. Aquela maldita sensação voltara, Jenny suava enquanto apressava cada vez mais seu caminhar.
Coitada, em plena flor da pele mal podia imaginar o que lhe aconteceria. Começara a pensar nos planos que fizera com Marcos, seu noivo e em sua nova faculdade de medicina. Pensou em seus pais e em todos os seus amigos, nas doces manhãs de domingo com a família e nas formosas tortas de maçã da Dona Inês, mas era tarde demais, sentia que alguém estava ali, sua boca estava seca e seus olhos vidrados, seu coração batia forte enquanto suas mãos soavam, mas de nada adiantaria agora.
Ela via vultos e ao virar-se devagar para trás, viu uma robusta sombra acompanhar seus passos. Jenny morreu, caiu morta ali mesmo, na imunda calçada da Avenida 26. Morta em seus 26 anos, morreu de parada cardíaca, o medo foi tão absurdo que seu coração acelerou tanto que acabou parando e o que ela vira fora nada mais, nada menos que sua própria sombra. Mas quanto ao assassino da Avenida 26, é só mais uma história que o povo conta por aí.