Pensamento Suicida - Parte 1
Cinco da tarde, Dona Antônia, uma dona de casa responsável e zelosa, encontra-se às voltas em suas obrigações domésticas. Uma tarde inteira dedicada ao seu lar, e como resultado, ao final, tudo estava um brinco, enchendo sua dona de orgulho e o sentimento de dever cumprido.
Cansada devido a atividade vespertina, recosta-se no sofá da sala, o corpo moído denuncia a exaustão. Durante o seu cochilo, a campainha de som alto e estridente toca, anunciando a chegada de alguém. Ela, um pouco sonolenta, levanta-se a fim de atender a porta.
Ao abri-la, depara-se com uma surpresa desagradável envolvendo um de seus filhos. Mauro, o mais velho, tivera um acidente escolar. O socorro foi rápido e competente, como consequência disso, os ferimentos foram bem tratados. Depois de explicar todo o ocorrido, o funcionário da escola retorna ao seu local de trabalho.
Fazendo companhia ao rapaz, tendo que ouvir todo o sermão de uma mãe preocupada, temos Luciana, a irmã mais nova, sempre alegre, descontraída e extrovertida, em contraste ao seu irmão, um ser humano mais fechado, de semblante sisudo e às vezes triste.
Passada a repreensão, os jovens se recolhem ao quarto mais aliviados. Ali, sozinhos, a garota, consciente dos problemas por que passa o seu irmão, o pressiona, ameaçando em não apoiá-lo novamente em suas falsas histórias. Mauro, que outrora, era uma pessoa feliz, tornara-se um ser amargurado. A cada dificuldade em seu dia a dia, manifestava-se em sua mente, o desejo de dar cabo de sua própria vida.
Sentimento este, que, involuntariamente, transformava-se em euforia no momento em que a adversidade ficava para trás. De quando em quando, confundido até mesmo com alegria de fato.
Com o passar do tempo, Mauro adquire uma certa cumplicidade com essa sensação. Ela vinha, dava a impressão de morte e em seguida trazia vida, resolvendo aparentemente seus problemas. No auge dessas crises, a vontade de se esconder do mundo era tanta, que por vezes, superava o propósito de morte.