O Doce e Macabro Segredo de Anna
- Pai, compra essa casa logo! - repetia Anna, linda jovem de 15 anos, enquanto ela e seus pais andavam pelo pátio arborizado da ampla residência.
Paulo e Luiza se entreolharam Era o quinto imóvel que visitavam, e por nenhum dos outros a filha demonstrara tamanho entusiasmo.
- O que você acha, Luiza? - ele questionou a esposa. - Por mim... gosto da casa, e o preço é razoável. - deu um sorriso vago. - A não ser que você seja supersticiosa...
Luiza riu.
- Não sou, querido, você me conhece... - ela respondeu, alongando o olhar para o arvoredo de ciprestes do outro lado da rua, que ocultava a entrada do cemitério. Creio que os mortos devem ser vizinhos excelentes, não incomodam em nada... e se Anna gostou tanto da casa... por mim, pode fechar o negócio!
Os olhos azuis de Anna brilharam. Uma semana depois já haviam se mudado, e a vida da família seguia sua rotina, trabalho dos pais, estudos da adolescente, organizando a nova moradia, cuidando dos dois cães da família, Mike e Toddy...
Certa noite Paulo acordou após ouvir o som de uma porta se fechando cautelosamente. Levantou-se,m ouviu som de pés descalços, ladrão não era, ou os cachorros dariam alarme...viu a silhueta de sua filha Anna que descia as escadas, abriu devagar a porta e saiu. Paulo ficou intrigado, onde ela estaria indo assim, descalça e de camisola, em plena madrugada? Resolveu segui-la. Viu Anna atravessar a rua deserta e entrar no cemitério, desaparecendo nas sombras... logo em seguida ela retornou e voltou para o seu quarto.
Paulo achou aquilo muito estranho, mas resolveu não comentar nada, nem com Luiza nem com a filha. Esse ritual se repetia todas as noites... o relógio marcava 3 horas da manhã, Anna se erguia, saía de casa, atravessava a rua, entrava no cemitério e retornava depois de alguns minutos.
Já preocupado com aquele estranho comportamento de sua filha, Paulo resolveu que na outra noite iria decifrar de uma vez por todas aquele mistério. O relógio marcou 3 horas da manhã, Anna sai de camisola e descalça, entra no cemitério, o pai a segue e desta vez entra atrás dela... segue Anna, que vai até uma sepultura antiga de granito, nos fundos da necrópole. Ela se debruça sobre a lápide, dá um beijo apaixonado, diz boa noite meu amor e volta para casa toda sorridente... quando o dia amanhece Paulo volta lá e descobre o que sua filha beija todas as noites... é a foto amarelada de um rapaz bonito, e no túmulo corroído pelo tempo lê-se o seguinte: "AQUI JAZ INÁCIO SILVEIRA PRATA, NASCIDO EM 1839 E FALECIDO EM 1860. ORAI POR ELE."
Paulo fica desconcertado, quer falar com Anna sobre aquilo, mas não sabe como... mas agora entende porque ela fez tanta questão de morar ali.Na noite seguinte Anna se levanta como de costume e vai para o cemitério, Paulo vai atrás, e vê uma sombra acinzentada envolver sua filha num abraço, e os dois trocarem um beijo apaixonado... reconhece no vulto os contornos de um jovem vestido à moda do século XIX... sente uma dor aguda no peito... e morre de um infarto fulminante.
FIM