Auschwitz

Inverno de 1943-1944, Polônia. O jovem oficial da SS Wolfang Krause observava com tédio outro vagão repleto de gado humano que se aproximava, transportando lixo humano para o abatedouro. A paisagem era branca e seus lindos olhos azuis eram frios como o gelo. A fumaça do trem quase congelava ao vento cortante, os subalternos começavam a descarregar a carga chorosa e desesperada, Wolfang sentia as mãos duras dentro das luvas pretas e seus olhos azuis viam aquelas criaturas desesperadas e famintas e esfarrapadas como se não as vissem. Aquilo eram sub humanos, não eram gente, eram lixo étnico...segundo haviam lhe informado, tratava-se de um carregamento de prisioneiros judeus oriundos da Hungria.

Deborah Stein já vira morrer em meio aos horrores da ocupação nazista toda a sua família. Seu mundo fora destruído, sua mãe e suas irmãs estupradas na sua frente e deixadas para morrer empaladas em baionetas...somente ela conseguira fugir, mas fora capturada e embarcara no trem da morte. Todos os passageiros sabiam que seu destino era o forno crematório, que ali era o grande lixão do lixo humano... seus olhos negros e cheios de lágrimas olharam para o céu indiferente e não encontraram anjos, nem Deus. Pairava sobre tudo o enorme silêncio de Deus.

Ela foi forçada a avançar com os demais, empurrada pelos guardas, mais do que nunca igual a uma rês que marcha para o abatedouro...ela, que apesar de toda esfarrapada, descalça e com os longos cabelos negros desgrenhados e sujos ainda era linda, esguia, rosto de porcelana... Deborah passou e viu o jovem oficial nazista, Wolfang Krause, entediado acendendo um cigarro junto à plataforma. Os cabelos dourados, os olhos cor do céu, o uniforme preto, a braçadeira com a suástica, a capa de lã esvoaçando ao vento cruel...dois olhos azuis que se cruzam com dois olhos negros. E Wolfang a encara e esquece de toda a ideologista racista com que foi doutrinado...

Alta noite, a neve cai sem piedade sobre as reses humanas marcadas para a morte. Wolfang sabe que Deborah será executada nas câmeras de gás ao anoitecer. Não pode tirá-la do pensamento...aquela judia húngara é a mulher que sempre entrevira em seus sonhos... na calada da noite suborna o sentinela para que acoberte sua fuga com a linda prisioneira. Os dois juntos, de mãos dadas, correm rumo aos portões em cuja entrada se lê ARBEIT MACHT FREI, Deborah envolta na capa de Wolfang, dois jovem que correm rumo ao sonho, à vida, à liberdade... mas ele foi delatado por seus companheiros... rajadas de metralhadora soam no silêncio gelado e a neve se tinge do sangue de dois corações que apenas queriam a liberdade de amar...e tombam sem vida no chão...

Nota: ARBEIT MACHT FREI : O trabalho liberta.

Embora esse conto narre uma história de amor, foi enquadrado na categoria Terror porque os campos de concentração nazistas foram um dos maiores horrores da história da humanidade).

Maryrosetudor
Enviado por Maryrosetudor em 10/11/2014
Reeditado em 12/11/2014
Código do texto: T5029762
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