À NOITE

Não houve barulho. Não houve qualquer movimentação. Mas de súbito, acordo. Meus olhos abrem tão repentinos quanto minha mente desperta. O coração não contém o salto, e a partir de então não para de palpitar, tão acelerado que quase dói; meu nariz suga e solta o ar quase na mesma velocidade em que o coração sacode. Porém, inexplicavelmente, meu corpo reage ao medo silenciosamente. O escuro é intenso, mas sei que projeto a visão para a parede branca do quarto. Meu corpo está inerte, os músculos recusando-se a relaxarem. Está lá. Não vejo, nem ouço, mas sinto a presença esmagadora. Sei que está lá. Estou de costas para o resto do cômodo e encaro a palidez da parede à frente, incapaz de virar a cabeça e me deparar com o que quer que esteja me observando. Não vejo, nem ouço, mas sei que agora se aproxima. O aperto no meu peito corroborando o que já sei. Tento vislumbrar de soslaio, mas é impossível ver além da palidez da parede. Aproxima-se. Meus dedos praticamente fundindo-se às palmas, de tão apertadas que minhas mãos estão. Chega ao lado da cama. A poucos centímetros das minhas costas. Suspende-se sobre mim. Não vejo, nem ouço, mas sinto o peso da sua voracidade calma por sobre meu corpo amedrontado. De repente, o colchão afunda em algum ponto. O silêncio quebrado pelo farfalhar da coberta. E, ridiculamente, a última coisa na qual tenho tempo de pensar é que - como às vezes gostamos de acreditar - nossas cobertas não nos protegem dos monstros quem vêm à noite.

DenpaDeh
Enviado por DenpaDeh em 04/11/2014
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