Inferno?

Era inverno e estava fazendo um frio fora do normal, parecia ser mais um rigoroso inverno, talvez o mais intenso dos últimos anos, detesto esta estação, os dias ficam tristes, escurece mais cedo e fora que a cidade fica morta. O Ruim era criar coragem de entrar no banho pra ir a faculdade alias, faculdade que eu odiava com todas as minhas forças, aquela gente me deixava com náuseas os professores mais ainda, odiava tudo aquilo.

- Amanda me dar uma carona hoje?

- Aff, lá vem a aproveitadora. Pensei.

- Não posso, hoje vou passar na casa de uma amiga.

- Amanda se você não quer dar é só falar.

- Não é isto é que realmente vou para outro lugar, boa noite querida até amanhã.

- Nojenta.

- Como é que é?

- Nojenta, é isso mesmo você é uma nojenta.

- Escuta fofa, não vou discutir com você pois estamos em níveis diferentes e dane-se o que você pensa de mim, isso não é nada, me poupe de seus comentários inúteis, guarde para outro pobre coitado igualzinho a você amor, agora deixa eu ir, sua cara de bunda me incomoda, beijinhooooo.

Dei as costas e sai, fui andando pegar o meu carro que estava estacionado a alguns metros da faculdade, quando estava quase chegando fui surpreendida por um homem esquisito todo sujo e fedendo muito.

- Me dar sua bolsa. Gritou ele.

- Aff, claro que não seu vagabundo, vai trabalhar em vez de assaltar os outros.

- Me dar sua bolsa, e cala boca.

Nisso ele tentou tirar a força da minha mão e ficamos os dois puxando a bolsa um de cada lado, eu gritava por socorro mas não havia ninguém por perto no momento para meu azar. E ele insistia e eu não desistia de forma alguma.

- Soltaaaaaaa ou eu vou te furar sua ordinária.

- Eu não vou soltar coisa nenhuma seu mendigo asqueroso.

Depois de um tempo lutando ele se cansou e mandou um chute com toda a força no meu estomago que voei longe, cai no chão violentamente sem ar e tonta e ainda por cima dentro de uma poça d’agua. Demorei uns minutos para me recompor, levantei com dificuldade. O Cara levou tudo, meu dinheiro, as chaves do carro, celular estava tudo dentro da bolsa. O jeito foi ir caminhando para casa, mesmo sendo 6 quarteirões e toda suja de lama. Mas antes fui até uma delegacia de policia fazer uma ocorrência não queria deixar aquele safado se dar bem. Quando cheguei na delegacia a porta estava fechada, bati, chamei mas ninguém apareceu. Achei muito estranho uma delegacia fechada, aonde esses caras se enfiam na hora que a gente mais precisa, eles devem estar fazendo qualquer coisa menos prendendo gente safada, que rouba, mata, estupra os outros por ai. Decidir fazer a ocorrência depois, melhor era ir para casa. Fui caminhando pela cidade e notei que ela estava vazia demais, vazia mesmo, nenhum carro passando nas ruas, os bares e lanchonetes fechados, tudo bem que era inverno mas ficar desse jeito era muito esquisito, não se ouvia um barulho. Continuei andando até que avistei alguém vindo em minha direção, conforme foi se aproximando percebi que era uma conhecida da faculdade não lembrava o nome mas sabia quem era, e ela estava bem esquisitona, alias esquisita ela sempre foi mas agora ela estava bem fora do normal, toda descabela e andando estranho, ela veio me encarando e passou por mim, alguns passos depois ela gritou:

- Favelada.

Virei para ela e perguntei:

- Foi comigo?

- Sim, sua favelada.

- Você tá louca garota?

- Faveladaaaaaaa.

- Favelada eu? Se enxerga olha para mim e olha para você.

- Estou olhando, está suja, fedida e descalça como uma favelada, aonde estão as suas botas caríssimas?

-Descalça?

Olhei para meus pés e realmente estava descalça, eu nem tinha percebido que aquele ladrão safado também levou minhas botas que custaram 600 paus.

- Eu fui assaltada, noiva do chucky. Vem cá diz uma coisa para mim, como está sendo o seu inverno? Aposto que deve está passando muito frio né? Já que sua casa fica lá no alto do morrão.

- Moro no morro e não tenho vergonha.

- Tá bom então, se precisar de um casaco eu posso te doar um, eu iria dar para minha cachorrinha mas não serviu , ela anda muito gordinha, está muito bem alimentada, só que em você acho que servi direitinho.

Ela fez cara feia se virou e continuou seu caminho, estava muito diferente, com um olhar sério e uma expressão de zangada parecia perturbada, fiquei até com calafrio da maneira que me olhou. Isso que dar estudar em faculdade pública, a gente é obrigado a conviver com tudo quando é tipo de gentinha. Quando cheguei em casa não conseguia entrar pois estava sem as chaves, não sabia o que fazer, até tentei arrombar a porta mas não conseguir . Foi quando eu vi o carinha que trabalha no mercadinho que sempre entrega minhas compras passando na rua e resolvi chamar para me ajudar, afinal ele sabia fazer de tudo. Quando cheguei perto dele, ele estava agindo estranho também.

- Oi tudo bom? Você pode me ajudar?

- Não, isso não é problema meu.

- Como?

- NÃO, ISSO NÃO É MEU PROBLEMAAA..gritou.

- Nossa cara, não é seu problema? Ou melhor qual é o seu problema?

- NÃO, ISSOO NÃO É MEU PROBLEMAAAAAAAA....

Ele disse isso mais alto e continuo andando repetindo essas mesmas palavras até virar a esquina enquanto eu fiquei parada igual estátua olhando sem entender nada.

- Que droga o que tá acontecendo? Tá tudo dando errado hoje para mim, todo mundo resolveu tirar o dia para me xingar me tratar mal. Pensei.

Depois de uns minutos resolvi pedi a ajuda paro os vizinhos, toquei a campainha e o filho caçula atendeu, pedi para chamar a mãe ou pai e ele disse que não iria, pedi por favor ele disse que não de novo, então eu disse que se não chamasse eu iria arrancar o piruzinho dele e colocar no lugar do nariz e iria arrancar o nariz e colocar no lugar do piruzinho, o garoto fez uma cara de assustado depois abriu o barreiro começou a chorar sem parar, foi ai que apareceram o pai a mãe e a filha mais velha todos com cara de enterro.

- Oi, gente boa noite, eu posso usar o telefone de vocês por um instante?

- Não, você não pode usar. Disse o pai.

- Gente eu fui assaltada e...

- Você não é bem vinda nessa casa. Disse a mãe.

- Você é uma péssima vizinha. Disse a filha.

- Você fez nosso filho chorar, agora suma daqui.

Bateram a porta na minha cara. Sai de lá revoltada, também não gostava deles sempre achei uma família de loucos agora tive certeza que eram mesmo. Lembrei que sempre deixo a porta da varanda de cima aberta o problema era subir lá, então vi que no quintal da família de loucos tinha uma escada que alcançava perfeitamente, eu sabia que um dia eles iriam pedir desculpas pela grosseria, então peguei a escada sem avisar e conseguir entrar em casa. A primeira coisa que fiz foi ligar para um chaveiro que chegou rapidinho, pedi para ele trocar as duas fechaduras. Quando acabou ele veio cobrar o serviço.

- Como assim não tem dinheiro?

- Moço eu fui assaltada desculpa achei que tivesse dinheiro em casa.

- E como eu fico? Preciso desse dinheiro meu patrão não vai gostar disso.

- Tá eu vou resolver isso amanhã, agora não dá são quase nove da noite.

- Não saio daqui sem meu pagamento, se vira.

- Moço me entende, você vem aqui amanhã que te pago.

- Escuta dona, estou perdendo a paciência se eu não ver meu dinheiro em 5 minutos vou chamar a policia.

- Aff, que exagero , tudo bem espera um minuto que vou fazer uma ligação.

- Alô mãe, tudo bem? Escuta a senhora pode me...

- Amanda??? É você mesmo?

- Sim mãe, escuta eu fui assaltada levaram tudo e eu to precisando de uma grana emprestada para agora, eu te pago amanhã sem falta.

- Claro né? Sabe quanto tempo que você não dá noticias? Só procura quando tá precisando, se não nem liga, some a gente fica aqui, como se nem tivesse filha e agora você quer jogar para cima de mim seus problemas?

- Mãe não é hora de sermão, por favor.

- Sermão? Você acha que a gente não se preocupa? Você vive como se a gente nem existisse, por isso eu digo a partir de hoje nós morremos para você.

Desligou o telefone.

- Olha moço não consegui o seu dinheiro hoje, mas amanhã você pode vir aqui que com certeza eu vou te pagar.

- Amanhã? De jeito nenhum quero agora se você não pagar vai acertar contas com a policia.

- Escuta aqui eu já te expliquei a situação, mas você não quer entender, se retire da minha casa agora e fique a vontade para tomar as medidas que melhor achar, entendeu?

- Pode ter certeza dona, que vou tomar.

- A vontade, agora tire esse seu traseiro imenso do meu sofá e saia.

Passado uns vinte minutos bateram na minha porta, quando abri era a policia.

- Senhorita Amanda?

- Sim.

- Está presa.

- Presa?

- Sim por estelionato.

- Estelionato? Não exagera.

- Contratou serviço e se recusou a pagar, é crime.

- Ei calma ai, eu tenho direito de me explicar.

- Sim, mas não aqui, explica na delegacia, e é melhor não resistir a prisão.

- Nossa, desde de quando isso é motivo para prisão? Com tanta gente fazendo coisa pior.

- Ah é, sua acusação também é de furto.

- Furto? Você tá louco.

- Louco? Seus vizinhos ligaram ainda pouco fizeram uma queixa dizendo que você invadiu a propriedade deles e furtou uma escada, isso é verdade?

- Não. Sim.

- Sim ou não?

- Sim, mas eu não furtei foi uma emergência, eu vou devolver.

- Então confessa que pegou sem autorização?

- Peguei mas vou devolver, se quiser faço isso agora.

- Vire de costa e não resista.

Ele me algemou e foi me conduzindo até a viatura, a vizinhança inteira estava assistindo eu ser levada algemada, nunca me sentir tão humilhada. Chegando na delegacia ele me jogou dentro de uma cela trancou e ficou sentado do lado de fora em um banquinho.

- Cadê meu advogado?

- Que advogado o quê? Isso é só depois.

- Aonde vocês estavam mais cedo? Eu fui assaltada hoje sabia?

- Querida ver se dormi um pouco ai, que eu vou fazer o mesmo.

- Olha tem muita coisa errada acontecendo sabia?

- Cala essa boca patricinha.

- Eu não acredito que me prenderam por algo tão insignificante, com uma penca de bandidos, assassinos, ladrões por ai e vocês prendem pessoas inocentes.

- Garota fala com minha unha do pé, por favor.

- Aff, mas vocês policiais não servem para nada mesmo, só pioram a situação, você é um belo exemplo disso, um lixo.

- O que você falou ai garota?

- É isso mesmo que você ouviu, são um lixo, uma bosta são a desgraça da sociedade.

O policial ficou vermelho, parece que irritei ele pra valer. Ele abriu a cela e disse:

- Ah é né? Então vem cá sua patricinha metida, você se acha esperta, mas vai ter a lição que todo mundo igual a você merece.

Ele me tirou da cela e foi me levando para os fundos da delegacia.

- Eu ia deixar você ali numa cela legal, mas por você ser assim, vai ficar no seu devido lugar agora, você disse que tem que prender ladrão safado, então é isso o que eu tô fazendo prendendo uma ladra.

Ele abriu uma minúscula cela e me jogou lá dentro.

- E agora? Eu estou fazendo meu trabalho direito?

Então ele bateu a porta e me trancou naquela sala minúscula sem janelas e luz completamente escura. Não sei quanto tempo fiquei ali mas para mim foi muito tempo, muito tempo mesmo passando frio, fome, cheguei a ponto de pedir para morrer. Quando pensei em morrer, no meio da escuridão da sala surgiu um feixe de luz que foi crescendo e crescendo cada vez mais até aparecer um ser um todo iluminado dotado de um lindo par de asas douradas não conseguia ver seu rosto nem seu corpo direito devido a forte luz mas parecia ser do formato de um humano, então com uma voz suave ele disse:

- Olá Amanda?

- Você é um anjo?

- Não

- O Que você é então?

- Eu sou muitas coisas, mas não vamos falar sobre mim e sim sobre você.

- Eu morri?

- Sim, mas não foi aqui.

Então na minha frente começou um flashback parecia até uma sala de cinema.

Então o ser disse:

- Você morreu neste instante.

E eu comecei a ver as cenas, a cena que o mendigo me assalta.

- Ele te acertou um chute que te arremessou violentamente no chão, fazendo com que você batesse a cabeça em um pedra sofrendo uma gravíssima lesão te matando instantaneamente.

- Como não percebi que já estava morta?

- Algumas pessoas não se dão conta que morreram, e são enviadas para um lugar aonde seguem até se derem conta disso.

- Foi por isso que passei por tudo isso?

- Normalmente isso acontece com pessoas que precisam se redimir de seus maus. É como se fosse uma prova.

- Uma prova?

- Sim todo o mal que você praticou em vida, foi praticado em você mesma quando morreu. O seu preconceito, a sua arrogância o seu egoísmo e muitas outras coisas, por todas aquelas pessoas que você fez mal. Você viveu na pele tudo isso.

- Entendi, foram coisas horríveis.

- Sim coisas que jamais devem acontecer na vida de alguém.

- E agora que eu já sei que estou morta?

- Bom agora acontece aquilo que acontece quando uma pessoa morre. Ela é enviada para um lugar.

- Vou para o céu?

- Não, você não se redimiu, você vai para um lugar aonde tem tudo aquilo que você sempre praticou, onde a dor a tristeza, o sofrimento são eternos.