A Maçã - DTRL18

Então o último míssil passou zunindo no ar. Seu destino era uma base inimiga que já estava vazia. Não havia mais ninguém lá, todos mortos. O míssil, escultor do caos, destruiu o lugar: um "gran finale" para a obra de arte mais colossal já feita pelo ser humano, a ruína de todo o planeta.

Os remetentes do míssil, sim, estavam vivos — meia dúzia de homens perambulando, vitoriosos, no quartel. Estes foram os únicos sobreviventes do conflito global, mas sem água e comida não duraram mais de cinco dias. Honra e Glória não alimentam o corpo, só o ego.

As previsões estavam certas: uma Terceira Guerra Mundial iria assolar de vez o planeta. Foi o que aconteceu.

Agora a Terra é uma vastidão cinza, desolada. O silêncio absoluto do vazio que afugenta até a morte. O vento, bardo errante, canta solitário por entre as ruínas do que um dia foi tudo, e então ergue-se junto a poeira cinza que já foi a névoa alva das manhãs, entre as montanhas. Um líquido marrom corre pelos rios — ninguém pode afirmar que seja água — o que se pode afirmar é que os peixes boiam inertes carregados pela correnteza.

Mas eis que num lugar qualquer do globo, desce rolando um globo menor por uma pilha de entulho — caos. O globo para, vermelho, absoluto, em meio ao cinza. Curioso contraste. É uma maçã, sim, uma maçã! A maçã é a Terra, sua mãe, como já foi há tempos.

O vento brinca com a maçã, ela rola para lá e para cá em meio ao caos. Pobre maçã, a Terra também já teve seus momentos de turbulência para que você pudesse nascer.

Mas não adianta. Não adianta a cor, a beleza, a vida. Existe a Guerra, que sempre começa e nunca chega ao fim. Pobre fruto, apodrecerá como a sua mãe apodreceu. Mas uma coisa é certa: na guerra não existem inimigos, eles lutam por motivos fúteis: glória, dinheiro, poder... No fundo, mesmo sem saberem, todos são aliados, todos erguem juntos o troféu de sua vitória: a destruição, a discórdia e o ódio entre as pessoas.

Tema: Guerra