Oração Materna DTRL18
- Oh, ele está ardendo em febre...
Corria o ano de 1889. Numa pequena cidade perdida entre a fronteira da Áustria e da Alemanha, uma jovem mãe velava junto ao berço de seu filhinho de poucos meses de vida. Lágrimas de aflição escorriam de seus lindos olhos azuis, caindo sobre a face do bebê. Aquilo não podia estar acontecendo de novo! Ela já perdera seus três filhos mais velhos para a maldita difteria, e seu marido a acusava de ser incapaz de criar uma criança saudável. Como se ela tivesse alguma culpa.
A difteria, naquela época, juntamente com a varíola e outras doenças infecciosas, ceifava a vida de um grande número de crianças. Até mesmo a grande Imperatriz Maria Teresa de Habsburgo, a mulher mais poderosa da Europa em seu tempo, perdera vários de seus filhos para essas pragas, pensou Clara, chegando um instante até a janela. A neve caía lá fora em flocos macios e silenciosos, atapetando de branco o caminho que se perdia ao longe. Aliás, o silêncio era total e enervante aquela noite, cortado somente pelo estalar das achas de lenhas no fogão e a respiração arfante do bebê.
Clara relembrava como fora sua vida de casada até ali... um marido frio, que a deixara sozinha logo após a cerimônia e fora trabalhar. Que começo! Depois se tornara violento, bebia e agredia e a acusava de ser uma incompetente. A jovem mulher estremeceu ao lembrar que logo ele chegaria, naquela noite gelada... certamente alcoolizado. Que a jogaria sobre a cama, a estupraria, como sempre... gerando em suas entranhas talvez um outro filho fadado à morte... estaria ela por acaso no lugar de Deus, para evitar que suas crianças morressem? Seria para isso que ela os carregava no ventre durante nove meses, que enfrentava as dores dilacerantes de um parto, para depois entregá-los à terra congelada do cemitério? O bebê, no berço pobre, já estava ficando roxo, agonizava... já havia perdido três. aquele não podia morrer, de jeito nenhum!
Tomada por uma súbita inspiração, ou um assomo de desespero, Clara correu até o berço e tomou o filho nos braços. Foi até a janela e o ergueu em direção à noite tenebrosa, onde o vento uivava soprando os capuchos de neve, e exclamou com toda a fé de que era capaz:
- Por favor, por misericórdia de Deus ou do Diabo, alguém me socorra nesse momento e salve o meu filho! Eu já perdi todos os outros, se este também se for, não vou ter mais motivos para viver! Eu juro que ele será consagrado Àquele que salvar sua vida, pelos poderes do Céu ou do Inferno! Alguém escute a minha prece, alguém se compadeça da minha dor!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
A oração blasfema de Clara se perdeu no silêncio da noite... mas de repente, uma rajada de vento mais forte soprou pela janela e um sinistro anjo, de sorriso perverso e asas negras como ébano, materializou-se no meio do aposento, em meio a um clarão vermelho. E disse, com uma risada cínica:
- Salve Clara, mãe do Anticristo, Lúcifer é contigo! Eis que tua súplica foi ouvida nos abismos infernais e teu filho Adolph viverá. Ele será o portador do Mal na Terra e fará a desgraça de muitos povos e nações... e tu...tu serás sempre lembrada como a que trouxe o Mal ao mundo!
FIM
Temas: Desejos e Profecias.