Fúria Lupina - Sexo Predatório

Este é um trecho do livro "Fúria Lupina - América Central", lançado pela Editora Literata em 2012.

Mais informações no site do autor: www.AlferMedeiros.com.br

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Cícero chegou ao prostíbulo no início da noite, horário de pouco movimento. Homem robusto e rude, logo chamou a atenção dos presentes: dois seguranças, cinco prostitutas e o barman. Ele não gostava de ser percebido nos lugares aonde ia. Preferia viver no anonimato, como uma sombra.

Algumas vezes, porém, seus instintos falavam mais alto e ele precisava sair para caçar. Esta noite pretendia achar seu objeto de prazer no local de quinta categoria no centro da capital da Guatemala, um buraco de rato com letreiro de neon. Sweet Little Sixteen era o nome. Escolheu uma mesa do canto, onde poderia se acomodar com as costas contra a parede, tendo uma visão completa do lugar.

O salão de quarenta metros quadrados, banhado de luz vermelha e música alta, agredia seus sentidos, mas ele não se importava. Pediu uma cerveja barata e analisou as fêmeas que por ali desfilavam.

Uma garota de no máximo dezenove anos, com um vestido muito curto e apertado, veio conversar com ele. Ficou enjoado com o cheiro do perfume vagabundo e com seu hálito desagradável, um misto de cigarro, chiclete velho e fluidos masculinos. Dispensou-a rapidamente, dizendo não ser o seu tipo, magra demais para o seu gosto.

Mais um gole na cerveja, mais uma sequência de músicas ruins. Uma veterana veio tentar fisgá-lo, com seu top denunciando a presença de uma barriga protuberante e flácida, aliado a um short tão apertado que parecia prestes a explodir. Pernas repletas de varizes moviam-se em passos compassados, uma tentativa de sensualidade que somente conseguiu agredir mais ainda a visão de Cícero, expondo quilos a mais a escapar por entre roupas demasiadamente curtas para aquela forma física.

– E aí, grandão, vamo dá uma brincadinha hoje? – disse ela, puxando uma cadeira para perto do homem.

– Por enquanto eu tô só tomando uma cerveja – ele tentou não deixar transparecer o desgosto na sua voz.

– Ah, que é isso. Deixa eu te mostrar do que sou capaz – ela começou a alisar a coxa do cliente.

"Você é que não vai gostar de saber do que eu sou capaz", pensou ele, tentando afastar a perna. "Além disso, não vou de carne de segunda hoje". Ela agarrou repentinamente seu pênis por cima da calça jeans e Cícero pulou como um boneco de mola.

– Preciso mijar – foi apressado ao banheiro.

O cheiro era terrível. Tinha como opção um vaso sanitário imundo e entupido ou um mictório envolto por uma lagoa de urina com bitucas de cigarro boiando. Decidiu despejar a bexiga na pia mesmo, achando engraçada a cena no espelho trincado. Fechou a calça e ajustou o cinto. Tirou um dos sapatos e retirou um papelote de cocaína de dentro dele. Consumiu a droga meio sem jeito, com o pó na palma da mão, por não ter uma única superfície plana e seca disponível. Sentindo-se um pouco melhor, voltou para a mesa.

A velha meretriz que o atacou já lançava seus tentáculos hediondos sobre um moleque, integrante de um grupinho com outros três da mesma idade. Eles dançavam com as prostitutas do lugar em uma área com luzes piscantes próxima ao bar, que os donos tentaram conceber como uma pista de dança.

Cícero pensou consigo se aguentaria mais um pouco com a dose de "incentivo extra" consumida. Tinha esperança de ver outras funcionárias chegarem para o trabalho mais tarde. Precisava muito de uma fêmea grande e forte para com ela cometer algumas maldades. Depois disso, poderia seguir seu caminho.

Após duas cervejas, o grandalhão amaldiçoava sua falta de sorte. As mulheres eram horríveis, a bebida estava quente, novos clientes chegavam a todo o momento. Ambiente pouco propício para sua ação. Decidiu caçar em outro lugar, lamentando a má escolha do lugar.

Pagou a conta e saiu para a rua, sentindo o cheiro do gás expelido pelos escapamentos dos carros. A cacofonia de conversas, buzinas e motores o incomodava. Saiu da avenida e pegou uma ruela lateral, instintivamente buscando um lugar para achar a mulher que desejava.

Andou dois quarteirões até começar a ver profissionais das ruas, mulheres mais apresentáveis do que as do Sweet Little Sixteen. Diminuiu o passo e começou a analisar com mais calma cada uma, conforme ia passando por elas. Olhos de predador perscrutavam corpos femininos com roupas provocantes e anos de experiência na arte do meretrício.

A loura meio rechonchuda fumava, e o cheiro de cigarro sempre atrapalhou seus atos. A de cabelo tingido de vermelho berrante tinha marcas de picada de agulha nos braços, e de drogado bastava ele. A negra era magra demais, ele não apreciava esse tipo de compleição física. E assim seguiu na análise, um carnívoro voraz a examinar pedaços de carne expostos em um grande açougue a céu aberto.

Vindo do interior de um hotel e recostando-se na porta, uma mulher acabou chamando sua atenção, em primeiro lugar por ser a única a não tentar fisgá-lo como um marlim-azul. Parecia estar beirando os quarenta, mas tinha um corpo fenomenal e seu rosto, se não era belo, ao menos era agradável. Era outro nível de fêmea, dava para ver só pelo olhar.

– Oi, você tá disponível prum programa? – disse Cícero, parando ao lado dela.

– Olá, querido estrangeiro – ela chegou bem perto e quase tocou seu nariz no dele. Estava praticamente da altura do homem, por causa dos grandes saltos de seus sapatos. – Esse sotaque é do Brasil?

– Sem beijo, faz favor – afastou-se um pouco, passando as costas da mão sob o nariz. A droga de má qualidade já havia perdido o efeito. – Meu passado não interessa. O que importa é o presente, e agora quero um programa com você.

– Com certeza. Sou um pouco cara, mas verá que vale a pena. Você é exatamente o meu tipo, sabia?

– Porra, então faz de graça pra mim.

– Ai, amor... – ela riu. – Não posso, eu vivo disso. Você não quer me ver magra e fraquinha, quer?

– De jeito nenhum. Eu pago o seu preço. Só que o negócio é o seguinte: gosto de coisa intensa. Quero ir prum lugar onde ninguém venha bater na porta do quarto pra perguntar o que tá acontecendo. Também não gosto de altura, então o quarto tem que ficar no térreo ou no máximo primeiro andar – ele sempre imaginou todas as possibilidades, e não abria mão de ter pontos de fuga acessíveis.

– Uau, quantas exigências – ela tinha um ar descontraído. – Uma noite com você deve ser inesquecível. Isso me lembrou uma piada – apesar dele mostrar-se contrariado com o rumo da conversa, ela prosseguiu. – Um cara foi a um prostíbulo e abordou uma puta, oferecendo o equivalente a dez vezes o valor do programa, mas avisando que gostava de bater. A garota, seduzida pela quantia, foi até uma colega que tinha saído com o mesmo cara na semana anterior. "Ele bate muito?", perguntou. "Não", respondeu a amiga, "só até você devolver o dinheiro dele" – e riu da própria piada.

– Vamos ou não? – desconversou o homem, ainda sério.

– Claro, meu anjo. Neste hotel mesmo tem tudo o que você precisa.

Valores foram negociados – ela cobrou extra pela "intensidade" pretendida por ele – e os dois entraram no Hotel Maybelline.

***

"Nossa, que mulher apetitosa!", pensava Cícero, deitado na cama de casal que rangia levemente a qualquer movimento. "Não vou conseguir segurar a onda por muito tempo." Ela acabava de tirar suas meias, últimas peças de vestuário sobre o corpo do homem.

Com uma ereção sólida e dolorida, observava a mulher a ziguezaguear ao pé da cama, também ela livrando-se das suas roupas. A pele morena era perfeita, sem cicatrizes, estrias ou veias à mostra. Cabelos longos cacheados acariciavam costas e ombros de maneira suave. Pernas bem torneadas ostentavam em uma extremidade lindos pés com unhas pintadas de vermelho, e na outra uniam-se a um quadril largo, perfeitamente redondo, que ia afunilando-se até chegar à cintura finíssima. Seios rijos, grandes e belos apontavam seus mamilos negros para o macho hipnotizado. E o olhar? Aquele olhar meio de soslaio, transbordando luxúria, fazia o predador quase desistir de cometer maldades com a mulher. Porém, essa incerteza durou apenas alguns segundos.

– Estou prontinha, querido. Quer usar o afrodisíaco antes da gente começar? – ela apontava para o papelote de cocaína tirado por ele do sapato, repousado sobre o criado mudo.

– Você já é um afrodisíaco e tanto. Olha só como eu já tô – sentou-se na cama e segurou o próprio pênis.

– Ah, mas se você curte um estímulo a mais, tem que usar também. Quero te ver aproveitando ao máximo esta noite comigo.

– Porra, cê tá brincando com fogo, mas tudo bem. Vou dar uma cheirada nisso aqui. Cê pode ir tomando um banho rápido enquanto isso – ele odiava cheiro de suor.

– Tá bom.

Ela entrou no banheiro e encostou a porta. Cícero preparou duas carreiras de cocaína sobre o criado mudo, ajeitando-as com um cartão de crédito roubado. Pegou a nota de dinheiro mais nova que tinha no bolso e fez um canudo com ela. Uma narina aspirou a primeira fileira de pó, seu cérebro estalou. Outra narina entrou em ação, seu coração disparou.

Estava pronto para a ação. Pretendia, em primeiro lugar, transar loucamente com aquele monumento feminino, aliviar a tensão logo de cara. Depois, seria possível explorar aquele corpo da maneira que mais apreciava. Tentaria deixar o rosto intacto, em homenagem à beleza dela.

Finalmente, depois de tanto tempo fugindo das autoridades em meio à clandestinidade de países desconhecidos, sobrou tempo para dar uma relaxada e extravasar. Precisava muito disso, estava a ponto de explodir.

– Gata, cê vai ter uma trepada inesquecível hoje – disse ele, com uma voz rouca, pouco mais alta que um sussurro.

Caminhou lentamente até o banheiro, olhos vidrados, cabeça pulsando como um tambor, respiração ofegante. Mais uma vítima para o seu terrível currículo. Seu corpo inteiro doía, a ansiedade o dominava. Hora da ação!

Um filete de vapor escapou do banheiro quando a porta foi aberta lentamente pelo assassino ensandecido. Ele enxergava tudo em tons vibrantes, sua mente racional havia sido deixada para trás. Restou somente o predador, pronto para cometer atrocidades indizíveis com a mulher. Apenas uma cortina de plástico o separava da prostituta. A única coisa audível era o cair da água do chuveiro sobre o chão do banheiro. Passos silenciosos o deixaram próximo do local da carnificina. Alucinado, sentia sua cabeça quase tocando o teto, invencível, impune. Músculos poderosos se preparavam para o ataque.

A cortina foi afastada para o lado por uma mão inumana, com garras afiadíssimas e pelos acinzentados a cobrir o local onde, há poucos segundos, havia apenas pele humana. Em seus últimos instantes de vida, a vítima conseguiu ver em detalhes a palma negra, com uma espécie de superfície acolchoada repleta de rugas e calos, cada vez mais próxima de seus olhos.

Garras poderosas se fixaram dolorosamente sobre o rosto congelado em uma máscara de pavor, trazendo a presa para perto dos dentes mortíferos que facilmente dilaceraram o pescoço.

Sangue e água se misturaram em um insano gotejar sobre o chão de ladrilhos velhos. O licantropo segurou pelos braços a vítima espasmódica e agonizante, conduzindo-a para o quarto. Uma trilha macabra de sangue diluído em água marcou esse deslocamento. Sobre a cama, o tórax humano foi aberto com facilidade pela fera, como se fosse papel de presente rasgado por uma criança ansiosa na manhã de Natal. Mas, em vez de um brinquedo, o prêmio revelado foi um coração em inútil tentativa de prosseguir com sua pulsação vital.

A criatura fechou vagarosamente seus dedos sobre o órgão, apreciando seus últimos instantes de movimento. Repentinamente, arrancou-o e o levou à bocarra. Com imenso prazer, sentiu o coração explodir sob a força de suas presas, espalhando um gosto singular de sangue e fibras, uma textura lisa, rígida.

A fera ainda ficou alguns minutos sobre o cadáver, lambendo prazerosamente todo o sangue que se apresentava em profusão. Sangue delicioso, com um conteúdo alucinante. Saciada a sede macabra, era hora de sair dali. Não era bom demorar muito. Dores intensas e uma horrível sensação de encolher marcaram a transição da forma lupina para a humana. Tomar banho, vestir as roupas, olhar no espelho se algum detalhe denunciava seus atos. Olhos arregalados, efeito da cocaína. Tudo perfeito. Antes de sair, uma última olhada no corpo dilacerado e uma ligação telefônica.

– Pablo, mande a equipe de limpeza para o quarto treze, por favor – falou Maria, com a naturalidade de quem pede toalhas limpas. – Providencie remoção completa de tapetes, jogo de cama e colchão. Pelo menos uma semana de interdição do quarto.

Saiu do hotel, uma de suas muitas propriedades, e entrou no carro com motorista. Já podia mudar de cenário.

***

Um homem extasiado descansava sobre a cama king size, em uma das diversas suítes do prostíbulo de luxo. Era um empresário chileno velho, obeso e cheio de dinheiro, em uma viagem de negócios pelo país. Somente pessoas com esse perfil financeiro são capazes de ter a honra de contratar os serviços de Nadine, a imperatriz do prazer na Guatemala.

Ele nunca pensou que uma mulher poderia proporcionar tantas sensações prazerosas a um homem como ela fez. Foi intenso, incomum, insano. E que corpo! Nunca se esqueceria daqueles momentos.

Mal sabia ele que, uma hora antes dela escolhê-lo como o privilegiado que a possuiria naquela noite – mesmo tendo de pagar uma pequena fortuna por isso – ela havia rasgado um homem robusto como se fosse feito de papel. A mão forte que dominava um império, ora dilacerando carne humana com garras lupinas, ora acariciando corpos suados e sedentos de prazer com pele de veludo. Um caminhar no fio da navalha que resume muito bem o que era a vida de Maria Chavez.

Alfer Medeiros
Enviado por Alfer Medeiros em 14/09/2014
Código do texto: T4961376
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