O Grito de Terror
Dos fatos daquele dia, jamais esquecerei...
Lá eu estava, junto de minha namorada, Ametista, na casa do meu melhor amigo, Pedro Henrique. Estávamos no quarto dele, tínhamos acabado de assistir a um filme de terror e nos encontrávamos mexendo na internet, de bobeira.
Lembro-me de que, em dado momento, começamos a procurar na internet sobre coisas ocultas. Crianças mortas, para ser mais exato. Ainda estávamos na cabeça mergulhada no horrendo crime que teve na cidade dias antes – um brutal assassinato de uma criança de nove anos, feita por suas coleguinhas de turma, que ainda a evisceram e comeram sua carne. A cidade inteira comentava o caso, e nós não seríamos diferentes. Só que queríamos mais: queríamos fotos do corpo da menina.
Procuramos na internet, rindo, se divertindo, enquanto não achávamos. E eis que surge no Google um estranho site chamado “SANGUE INOCENTE”, a qual o título da reportagem, em caixa alta, era “VEJA FOTOS DA GAROTA MORTA”. Abrimos.
O site era todo em preto, com o nome do site, no alto, em vermelho vivo. Em primeiro plano, se encontrava o título da reportagem, supramencionado. Em seguida, um pequeno texto escrito em branco. Estávamos vidrados na reportagem, não piscávamos os olhos por nem um segundo.
E eis que, logo abaixo do texto, chegou onde a gente queria: as fotos da garota morta. Olhamos, foto por foto. Ametista teve uma rápida náusea, mas logo voltou ao normal. Era macabro o cenário: uma criança de nove anos, dependurada por uma fina corda no pescoço, com a barriga aberta por um enorme talho e todo oco. Saindo do local, vísceras – intestino, estômago e pedaços de outros órgãos que não consegui identificar -, banhadas a sangue.
O horror estava estampado em nosso rosto. Porém, a curiosidade era maior: queríamos continuar vendo. Estávamos naquele site para isso. Queríamos ver sangue, tripas, pessoas mortas – no caso, aquela criança. Descemos a página e continuamos a ver as fotos. Algumas já eram após retirarem o corpo da corda. Dava para ver o sulco no pescoço, profundo, como se fosse um corte. Aquilo só tornava a situação ainda pior.
Já estávamos quase nas últimas fotos quando, ao depararmos com uma delas, sobressaltamos. Era uma foto em que tiraram ao lado do cadáver, que se encontrava deitado de lado, virado de costas para o fotógrafo. Seria a foto normal, se não fosse por um pequeno detalhe: a foto se mexeu! Exatamente. A garota da foto simplesmente virou-se, bruscamente, em direção à tela do computador, ficando frente a frente conosco, com aqueles olhares esbranquiçados, sem íris, vítreos. Demos um pulo, todos. E, como se não bastasse, logo após a virada, percebemos que o cadáver mexia a boca. Esprememos os olhos na tentativa de enxergamos o que ela dizia e percebemos a seguinte frase: “TODOS MORTOS AGORA!”. Em seguida, virou-se para o outro lado, rapidamente, ficando na mesma posição de outrora.
Ficamos ali, parados, estarrecidos, com os corações a mil dentro dos peitos. “O que foi aquilo?”, perguntou Ametista, visivelmente abalada. “Cara, que susto!”, disse Pedro. “Calma, gente, deve ser gif”, eu disse, para tentar aliviar a tensão de todos – e na tentativa de dar uma solução plausível para aquele fenômeno. Ametista e Pedro começaram a perceber de que, realmente, poderia se tratar de gif, afinal, são muitos comuns em internet. Exceto pelo fato de só virarem uma vez, pois a garota da foto já retornara ao seu lugar havia mais de um minuto, e nada de se virar novamente. “Esses gif cada vez mais modernos”, disse Pedro, antes de fechar a página da internet.
“Vamos procurar mais alguma coisa de terror, vamos?”, perguntou Ametista, a mais fanática em terror do grupo. “Vamos, vamos”, disse Pedro, que ficava logo atrás. Eu, que não sou tão entusiasmado assim com coisas macabras como aqueles dois, retirei-me momentaneamente do quarto, dizendo que – de fato, iria – beber mais um gole de refrigerante, que se encontrava na geladeira da cozinha. Disse, mas nenhum dos dois escutou, de tão entusiasmado que estavam.
Dei as costas a ambos e saí do quarto, adentrando no pequeno corredor da casa de Pedro, passando na frente de algumas portas. Chegando ao final do corredor, virei à esquerda, adentrando na cozinha. Virei à direita, ficando frente a frente com a geladeira – e parte da cozinha – e tendo corredor e quarto de Pedro à minha direita, logo atrás da parede.
Fiquei frontalmente à geladeira e pus a mão para abrir sua porta. Entretanto, eis que, repentinamente, sobressaltei-me, ao ouvir a porta do quarto se fechando em um único baque e, em seguida, nem um segundo depois, um sonoro grito de pavor oriundo do quarto onde eu estava. Era um grito com vozes misturadas de um homem e de mulher, na qual reconheci, de imediato serem as vozes de Pedro e Ametista. O grito continuou no ar, como se o motivo que lhe deu causa não houvesse cessado. Corri a toda velocidade, quase caindo na entrada do corredor, em direção ao quarto.
Cheguei de frente à porta e tentei abri-la. Trancada. Fiquei surpreso. Eu a deixei aberta, poderia ter batido por causa do vento, mas trancado não. Continuei forçando, aos gritos pavorosos de Pedro e Ametista, sem êxito. Repentinamente, no momento em que os gritos cessaram, a porta se abriu – em uma facilidade inestimável, como se estivesse alguém forçando do outro lado e, de repente, de lá saísse. Como eu estava escorado na porta, ao abri-la, quase caí do outro lado, mas consegui firmar-me de pé. Olhei para o interior do quarto. Na tela do computador, a foto, aberta em tela inteira, da garota morta, que virou e nos assustou minutos atrás. No resto, tudo normal, exceto pelo detalhe de que Pedro e Ametista não mais se encontravam no interior do quarto. Não havia sinal algum de que ambos estavam presentes até segundos antes no local. De repente, para minha surpresa, vagarosamente dessa vez, a garota da foto vira em direção à tela novamente. Fui recuando, até ficar do lado de fora do quarto, com a porta escancarada à minha frente. Da mesma forma que antes, a garota falou, mas, dessa vez, disse: “EU NÃO DISSE QUE ERAM TODOS MORTOS AGORA?”. E, repentinamente, a porta do quarto se fechou à minha porta, em um único estrondo. Eu poderia tentar abrir aquela porta, mas sabia que ali se encontrava minha morte.