Noite de Tempestade
Estava chovendo bastante já havia um tempo na pequena cidade. A menina saiu da velha casa de campo com uma capa e guarda-chuva. Chamou o pai e a irmã para irem junto.
— Aonde vai? – perguntou a irmã.
— Ao celeiro, estamos precisando de leite.
— Por quê?
— Ora, porque mamãe precisa de leite para fazer o bolo, certo pai? – disse um tanto irritada com o questionamento da irmãzinha.
Ele indicou que sim e sorriu levemente. A pequena apresentava medo, o pai entendeu, com todos aqueles relâmpagos e a tempestade fazia com que a fazenda tivesse um ar sombrio.
— Venha. – o pai pegou na mão da menina – Filha, dê sua mão também, o celeiro é longe.
Mas ela rejeitou a mão do pai demonstrando coragem.
Enfim, o celeiro estava á vista. A construção era velha, desgastada pelo tempo e a pintura azul já estava pálida.
O homem pegou a chave do cadeado e abriu rapidamente, a tempestade aumentara. Entraram e a porta bateu num solavanco, as meninas ficaram em choque e tremendo de medo, até o pai se assustou.
Ele foi tentar reabrir a porta do celeiro, mas o impacto foi tão forte que não conseguia abrí-la novamente.
— Filhas, peguem os jarros de leite do armazém.
— Por que não fomos ao outro celeiro pegar leite direto da vaca? – perguntou a mais nova.
A irmã pensou bem, respondeu:
— Mamãe precisa de leite já, se tivéssemos ido para lá, não teria bolo. Temos de nos apressar.
Enquanto as meninas pegavam os grandes jarros de leite desta manhã, o pai subiu numa escada antiga de madeira até a janela que não era muito alta, pulou. Disse que iria abrir a porta pelo lado de fora. A chuva apertando.
Os relâmpagos faziam muitos clarões no céu, a noite era de arrepiar.
Estranho...
O homem estava demorando muito, quase 10 minutos haviam se passado, um tempo muito longo para apenas se abrir uma porta fechada.
A menina inconformada resolveu subir na escada e olhar pela lateral do celeiro. Chamou o pai: sem resposta. Olhou para os lados com o coração acelerando, onde estaria ele?
— Onde está papai? – gritou a pequena lá de baixo.
A outra desceu e balançou a cabeça.
— Estamos sozinhas. – disse.
Foi então que um estrondo ocorreu na parede onde a escada se apoiava, parecia alguém subindo. As garotas abriram um sorriso pensando que fosse o pai que logo desapareceu.
Um homem estranho apareceu na janela, uma sombra iluminada pelos relâmpagos, usava um macacão e tinha barba comprida, não era seu pai definitivamente. Ele jogou algo pela janela.
Uma expressão de imenso horror cobriu o rosto das meninas, a cabeça de seu pai coberta de sangue havia sido jogada, os olhos estavam virados e a mais velha tapou os olhos da pequena depressa e começou a gritar sem parar.
Medo e horror transbordavam de seus olhos. O estranho sumiu. Corajosa, a garota esperou um tempo, largou a irmã e subiu desesperada para fechar a janela no trinco. Conseguiu.
As duas se abraçavam com força, choravam e soluçavam. A cabeça do pai ali, as fitando com imenso terror.
Ela correu, correu para a porta e empurrou, a porta se abriu, para alívio não tinha ninguém lá fora.
— Irmã! Volte! – gritou.
— Venha, vamos embora. – chamou-a estendendo-lhe a mão.
Mas, antes que a pequena pudesse dar um passo á frente, a irmã foi puxada abruptamente. A porta bateu novamente. A criança começou a chorar e ouviu-se um grito ensurdecedor na noite de tempestade.
O estranho homem assassino arrombou a janela, ele sorria, como um louco.
Algo estava em suas mãos: as chaves do celeiro.