O SUMIÇO DE LARA - Parte 2

O sumiço de Lara causou comoção na vizinhança, na escola e na família. Os pais de Claudia ficaram atordoados com o desaparecimento da caçula. Em vão, Claudia tentou falar para os pais e para a polícia sobre o carro negro que havia parado em frente ao prédio duas noites atrás, mas aquilo não pareceu ser um ponto relevante para ninguém.

A vida da família virou um inferno. Desesperada para ter alguma notícia de Lara, Claudia pendurou cartazes pelo bairro, postou fotos da irmã nas redes sociais, implorou ajuda até de quem não conhecia. Tudo em vão. Lara simplesmente havia se evaporado no ar. Ninguém tinha a menor ideia de onde Lara estava.

O carro negro não saia da cabeça de Claudia. Ele era a chave de tudo. Passados os primeiros dois dias, a garota decidiu entrar em ação. Na primeira noite novamente se postou na janela do quarto esperando que o carro retornasse. Nada aconteceu. Durante toda aquela semana Claudia fez tocaia, na vã esperança de que algo acontecesse. Mas na verdade, mesmo que o automóvel estacionasse na frente do seu prédio, ela também não tinha a menor ideia do que iria fazer.

Os pais viviam abaixo de calmantes e a casa estava sempre cheia de amigos e parentes tentando trazer algum consolo. Aos poucos, Claudia tentou retomar sua vida normal do jeito que podia. Era difícil ver os pais naquele estado, sem falar no temor que eles tinham de que algo acontecesse à filha mais velha. O carro nunca mais passara pela sua rua, esfriando todas as esperanças dela. Mas… e se fosse atrás dele?

Sim, ela tinha certeza de que era como procurar uma agulha em um palheiro um carro daquele tipo em uma cidade grande como a que vivia. Só que precisava fazer alguma coisa. Até agora não haviam surgido pistas de Lara. O motorista daquele carro maldito levara Lara e certamente rodava a cidade procurando novas vítimas. Quem sabe nestes bares da moda... Claro! Era lá que ele circulava!

Animada, Claudia esperou que a sexta-feira chegasse. Os pais foram dormir cedo, logo depois da novela, já sentindo os efeitos dos remédios. Claudia se trancou no quarto, passou maquiagem, prendeu o cabelo e colocou uma roupa sexy. Sua intenção era passar pelos locais de maior movimento e procurar o carro negro. Caso o encontrasse, daria um jeito de atrair o motorista. Dentro da bolsa ela levava um pequeno canivete, caso precisasse usar. Claudia sentia tanta raiva que seu medo se evaporara.

Ela pegou um táxi e rumou para a zona nobre da cidade. Pediu para descer uma quadra antes e foi caminhando lentamente até onde o movimento de pessoas era maior. Sua concentração era tanta que não percebeu os olhares masculinos de admiração. Ela deu duas voltas na quadra, com os olhos fixos nos carros. Seu esforço até então estava sendo inútil. Mas Claudia não estava disposta a desanimar.

Lá estava ele. Um carro negro, potente e igual àquele que passara na frente da sua casa no dia que Lara sumiu. Estava estacionado junto à calçada defronte um bar. Claudia ficou com as pernas trêmulas e precisou se apoiar em uma árvore para respirar fundo. “Que sorte”, pensou ela enquanto criava coragem e ía até lá. Parou ao lado do automóvel. Olhou-o bem e mentalizou a placa. Quando pegou o celular para ligar para a polícia, escutou uma voz atrás de si.

- Oi? Tudo bem?

Claudia levou um susto e deixou o celular caiu no chão. Antes que o juntasse, alguém foi mais rápido que ela. Um jovem um pouco mais velho que Claudia lhe estendeu o telefone com um sorriso aberto. Não parecia nem um pouco ameaçador.

- Tudo bem com você?

Claudia sabia que estava pálida. Com a mão tremendo ela pegou o celular que o rapaz lhe estendia e jogou dentro da bolsa.

- Sim. Eu… sim, estou bem.

- Meu nome é Flávio. E o seu?

Flavio era louro e alto. Devia ter uns 23 anos e trazia no rosto um sorriso amigável.

- Claudia - respondeu ela. Será que… Será que ele era o homem que levara Lara?

- Você está bem? - tornou ele a perguntar. Parecia preocupado com Claudia.

- Sim. Eu… me perdi de uma amiga. E... bem vou pegar um táxi e voltar para casa.

- Eu posso levar você.

Claudia levou um susto. Embora Flávio parecesse ser um cara normal, ele era um total desconhecido. Havia ao redor muitas pessoas, talvez observando a conversa dos dois. Ou não dando a mínima para eles.

- Não tenha medo - sorriu ele. - Não vou fazer nada contra você. É que… Bem, você está pálida e parece estar passando mal. Só estou tentando ajudar.

Ela se lembrou do canivete que trazia na bolsa. Realmente Flávio não fazia o tipo assassino em série. Talvez fosse apenas uma coincidência. Bem, por que não aceitar? Afinal, ele tinha um carro igual ao da pessoa que levara Lara e talvez soubesse de alguma coisa.

- Tudo bem. Eu aceito.

- Certo. Onde você mora?

Claudia indicou o local e Flavio disse:

- Ok, então vamos até meu carro.

Para espanto de Claudia, Flavio passou reto pelo carro negro e levou a garota até uns 100 metros a frente. Sempre sorrindo, ele abriu a porta de um automóvel mais popular, branco e pequeno. Então ele não era o dono do automóvel negro? Claudia entrou decepcionada e tentou disfarçar quando Flávio se acomodou ao lado dela. A pessoa que sequestrara Lara devia estar em uma daquelas festas, provavelmente procurando a próxima vítima. E, para piorar tudo, Claudia havia se esquecido da placa do carro negro.

O trajeto foi feito calmamente até sua casa. Flavio era um cara bem agradável e nem por um momento tentou forçar a barra. Quando se despediram na frente do prédio, ele passou um cartãozinho para Claudia.

- Meu telefone está aí, caso você queira me ligar para a gente marcar uma saída.

- Certo, Flavio. Muito obrigada por ter me trazido até em casa - respondeu ela, um pouco constrangida. Na outra noite era certo que voltaria ao mesmo lugar. - Bem, até mais então.

Ela nem esperou a despedida de Flavio e desceu do carro. Ele ainda esperou Claudia abrir a porta do prédio e ambos se abanaram. O garoto partiu e Claudia se voltou para atravessar o jardim.

Uma freada forte chamou sua atenção. Claudia parou no meio do caminho, os músculos todos tensos. Ela respirou fundo. Não era Flavio, ela tinha certeza. Bem lentamente, a jovem virou a cabeça para trás.

O carro negro estava parado do outro lado da rua, exatamente como da outra vez. O motor estava ligado e de vez em quando o motorista dava uma leve acelerada, como se estivesse chamando Claudia. Então, tomada pela raiva e pela coragem que jamais soubera possuir, a garota foi até a calçada e pegou uma pedra de bom tamanho que estava próximo a uma árvore. Sem pensar duas vezes, mirou a janela do carona e jogou certeiramente a pedra. O vidro do carro era tão forte que mal trincou. Mesmo assim, Claudia atiçou a fúria de quem dirigia o automóvel. O motor foi desligado e a porta se abriu. Porém, ela não esperou para ver quem sairia lá de dentro. Apavorada, Claudia deu meia volta e entrou correndo no prédio.

A luz do corredor havia queimado e ela tropeçou no primeiro degrau. Lá atrás a porta se abriu e ela escutou passos no corredor. O joelho doía quando Claudia começou a subir as escadas até o terceiro andar. Dali para frente já havia luz. Os passos vinham atrás dela fortes e parecia que a alcançariam a qualquer momento. A chave custou um pouco a entrar na fechadura do apartamento. Claudia olhava a todo instante para o início do corredor. Finalmente, ela conseguiu abrir a porta, entrou em casa e a trancou. O apartamento permanecia em silêncio e no escuro.

O coração dela disparou enquanto tentava observar pelo olho mágico se o cara estava se aproximando ou não. O som dos passos cessaram de repente. Claudia tremia de medo, embora achasse que ele já tivesse ido embora. Depois de alguns minutos, ela chegou a conclusão que a pessoa apenas lhe quisera pregar um susto. Mas aquilo não ficaria assim. A polícia deveria saber tudo o que acontecera, pois era certo que quem sumira com Lara podia voltar e fazer o mesmo com ela.

Claudia juntou a bolsa que havia caído no chão. Talvez o carro ainda estivesse lá fora. Ela se encaminhou até a janela, disposta a tirar uma foto do automóvel e também do cretino para mostrar à polícia. Claudia segurou o celular firme e afastou as cortinas decidida. O desgraçado certamente não havia tido tempo de ter se mandado.

Havia alguém na grudado no vidro da janela da sala, do lado de fora. As garras dele eram afiadas, os cabelos longos balançavam mesmo que não houvesse vento nenhum naquela noite. Claudia tentou gritar, mas sua voz saiu fraquinha. O homem sorriu. Seus caninos brilharam sob a luz da lua. A beleza dele tonteou Claudia, que recuou alguns passos tropeçando nos móveis, sem poder afastar os olhos dele. Agora sabia por que Lara havia sumido.

Claudia desmaiou no segundo seguinte.

Patrícia da Fonseca
Enviado por Patrícia da Fonseca em 15/08/2014
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