Futebol Entre Amigos
Era quase meia-noite de uma tranquila sexta feira, na pequena cidade do interior de São Paulo. Seis garotos de aproximadamente treze anos de idade se divertiam na quadra da escola, jogando bola.
- A gente não devia ta aqui - disse Lucas, um menino gordinho e dentuço, o mais medroso de todos.
- Ah, deixa de ser viado, porra - disse Rafael, o líder da turma - Já foi um sacrifício conseguir fazer você pular o muro com essa barrigona e ainda ta reclamando.
- Sem contar que menti pra sua mãe que você ia dormir lá em casa, Lucas - disse outro garoto, Matheus - Pare de reclamar!
Lucas calou-se enquanto o resto da turma conversava. Fazia frio e ele sempre ficava como goleiro. Observava as folhas caindo das árvores do outro lado da quadra. Ninguém se atrevia a ir daquele lado, pois recebiam ordens dos professores e superiores para não se aproximarem.
- Ta decidido, vamos voltar pro jogo - disse Rafael - Lucas, você vem pro meu time. Fica no gol.
- Por que eu sempre tenho que ficar no gol? - perguntou, emburrado.
- Porque você é gordo e tampa ele direitinho - os colegas riram. Percebendo que Lucas não gostara da resposta, Rafael consertou: - É brincadeira. Mas você é muito bom no gol. Da última vez que entrou pro ataque você quase quebrou o nariz do Vitor, lembra?
Lucas nada respondeu, apenas encaminhou-se para o gol. Bola vai, bola vem, Lucas não deixara passar uma. Eis que Vitor, do time adversário chuta a bola tão alto, que ela ultrapassa as grades da quadra e cai do outro lado, em meio às árvores.
Todos ficaram em silêncio, olhando para o outro lado. Rafael então berrou:
- Seu inútil! Como vamos enxergar a bola agora?
- Foi mal! - respondeu Vitor.
- Agora vai pegar! - disse outro garoto.
- Eu? - Vitor indignou-se - O goleiro é o Lucas, a área é dele! Ele que vá pegar!
- A área atrás da quadra não é minha, ta? - respondeu Lucas, irritado - Além disso, a gente não tem permissão de entrar ai no matagal.
- A gente também não tem permissão de invadir a escola à noite, mas estamos aqui! - disse Vitor
- Mas aqui eu sei que é seguro. Do outro lado eu não s...
- Ah, calem a boca! - Rafael interrompeu-os. Vamos todos lá procurar a bola.
- Do outro lado? - Lucas tremeu - Não acho boa ideia...
Como todas as escolas, esta também tinha suas lendas. Funcionários e professores ordenavam que não entrassem na área atrás da quadra, pois segundo eles, cobras e outros animais perigosos habitavam lá. Já os alunos diziam que era mentira, e que não podiam entrar pois o local era mal assombrado. Contavam historias de pessoas que se aventuravam no local e desapareciam misteriosamente, mas claro, sem citar nomes.
- Pare de viadagem e vamos logo - disse Rafael.
Todos juntos atravessaram então a cerca com a placa "área proibida" e se aventuraram em meio às árvores. Rafael ia na frente e dava as ordens:
- Não dá pra enxergar direito. Quem conseguir avistar primeiro ou tropeçar na bola antes, avise.
Eles andavam juntos entre as árvores. A floresta era grande e mal podia-se avistar a lua dentre os galhos. Rafael, de longe, avistou algo brilhante e redondo no chão.
- Pessoal, encontrei! - disse animado - E vocês com medo de entrar aqui, grande merda...
Rafael caminhou em direção à bola e os outros o seguiram. Reuniram-se atrás dele e o luar refletiu-se dentre os galhos. Lucas olhou ao seu redor, e percebeu que não havia só uma bola, mas várias delas espalhadas pelo chão. Antes que pudesse dizer algo, foi interrompido por um grito de horror, vindo de Rafael. Ele chutou a bola que foi parar aos pés de Matheus. Em seguida, gritos de pânico podiam ser ouvidos vindos de todos eles: o que pensavam ser a bola, era na verdade a cabeça de um esqueleto humano.
Correram em pânico, entre os vários outros ossos espalhados pelo chão, numa tentativa frustrada de sair da floresta. Seus gritos foram abafados por algo que ninguém da pequena cidade poderia, nem iria jamais saber o que era.