Sangue por sangue

Eu estava estirada no sofá, com o celular pressionando a orelha, meu rosto queimava exalando ódio em meio a uma discussão com meu namorado, sua voz explodia em meus ouvidos.

- Eu preciso de espaço Dani. Não aguento mais me sentir sufocado.

- Não existe está historia de espaço Ian - gritei ainda mais alto - quer terminar, então faz isso de uma vez.

Antes que ele dissesse qualquer palavra, desliguei o telefone. Tomei um banho demorado, vesti roupas confortáveis, peguei o ônibus e fui ao shopping encontrar com algumas amigas. A tarde passou rapidamente, vimos um filme sobre apocalipse zumbi, comemos lanches gordurosos, sorvetes e vinhos. Aproximadamente as 23 horas peguei o ônibus para retornar para casa, me acomodei no banco, encostei a cabeça no vidro e por alguns minutos - acredito eu - estive fora da realidade, longe do Ian, longe de tudo.

De repente senti uma forte dor na testa, quando dei por mim o ônibus estava ao contrario, com os pneus voltados para cima, eu estava no chão - ou teto - totalmente torta, a janela ao meu lado se despedaçou contra meu rosto, sentia o sangue escorrer até explodir no chão. Alguém me puxou para fora do ônibus, e foi a ultima coisa que lembro.

Retomei a consciência em um quarto silencioso, paredes e móveis brancos, uma grande porta a minha direita e uma pequena janela no lado oposto, acima de mim o teto envelhecido destorcia a visão moderna do restante do quarto. Por alguns segundos tive certeza que estava morta, mais as dores por meu corpo me mostrara o contrário. Um homem entrou no quarto, ele vestia uma calça jeans de cor preta, uma camiseta também da cor preta e um cinto com dois coldres, cada um com uma arma calibre 40. O homem se aproximou de mim silenciosamente, sentou-se ao meu lado em uma poltrona e me lançou uma proposta.

- Meu nome é David, sou líder de um grupo que tem por objetivo encontrar e salvar vítimas de acidentes causados por zumbis, e também lutamos contra a resistência. Você tem uma escolha, ou luta conosco, ou vai para o abrigo viver com o peso na consciência de todas as pessoas que você poderia ter salvo.

- Zumbi? - sussurrei - resistência? Você enlouqueceu?

O homem se levantou, se aproximou da janela e puxou a cortina, diante de mim surgiu uma avenida esburacada, casas destruídas, postes derrubados, carros amassados e enfiados em arvores, cadáveres despedaçados. De repente vi ao longe uma silhueta se arrastar em nossa direção, agarrou na grade e foi eletrocutado, seu corpo explodiu jogando pedaços de carne humana apodrecida para todos os lados.

- Então, o que me diz? Vai lutar conosco?

- sim - respondi - Eu acho.

Demorei cerca de 6 meses para me recuperar, depois comecei um treinamento pesado de artes marciais, domínio de armas frias e de fogo, e ataques contra zumbi. Mais 6 meses depois eu já estava pronta para as ruas, precisava encontrar meus pais e meu namorado. Saí com um pequeno grupo, atravessamos os portões, seguimos uma pequena rua esburacada, depois nos separamos, eu e Gabi seguimos uma direção que nos levaria a resistência, o que não demorou muito.

A resistência acreditavam que mesmo se tornando zumbi, continuavam sendo pessoas e mereciam continuar vivos, mesmo que matando outras pessoas. Por esse motivo não conseguíamos libertar os grupo de sobreviventes encurralados por zumbis atras da resistência.

Adentramos o forte da resistência, uma casa antiga que dava fundo ao mar de zumbis e fomos recebidos por facas voadoras e balas.

- Viemos negociar - gritei - viemos em paz.

- Vocês nunca vem em paz - disse uma voz conhecida.

Voltei meu rosto para trás e lá estava Ian abraçado com outra garota. Ele não pareceu me reconhecer.

- Ian? - sussurrei.

- Dani - ele fez uma pausa dramática - não acredito que esteja viva, nem que esteja do lado deles.

- Meus pais estão lá, não vou deixar que vocês os matem.

- Não estamos matando ninguém Dani, estamos evitando que vocês o façam.

Me aproximei de Ian, coloquei meu dedo indicador no peito dele.

- Eu te juro - gritei - que se os zumbis matarem eles, você também morre.

Me afastei e fui seguida por ele.

- Me desculpa - disse Ian - eu não sabia que você estava viva, se soubesse eu não teria me envolvido com a Josi.

- Dane-se você e essa Josi - gritei - eu vim buscar meus pais.

- Eu ainda te amo Dani.

- Não é mais problema meu - reagi.

Senti seus olhos percorrerem por meus rosto a procura de qualquer sinal de que eu ainda me importava, mais eu deixei morrer qualquer sentimento que eu tinha, e ele não admitia isso.

- Eu não te trai Dani.

- Eu não me importo mais - sussurrei - seja feliz, e eu vou procurar meus pais.

Saquei minhas armas e me dirigi ao encontro dos zumbis, eles rosnavam, gritavam, choravam, cuspiam sangue, tudo ao mesmo tempo. Coloquei o cano da minha arma na cabeça de uma criança zumbi e apertei o gatilho, vi a bala abrir um buraco no crânio, jorrar pela nuca qualquer resto de cérebro que ela ainda tinha, e seu corpo tombou sobre seu próprio sangue diante de mim. Ian berrou e correu até mim.

- Você enlouqueceu? É uma criança.

- Não é uma criança Ian, é um zumbi, vai comer qualquer pessoa que passar por ela. Se quer o seu povo vivo, vai ter que abrir mão dos zumbis.

Gabi passou por mim atirando nos zumbis e abrindo caminho para mim, eram muitos, eles agarravam em mim, tentavam me morder, arrancavam sua própria carne e jogava em mim, eles se devoravam. Finalmente cheguei ao fim do mar de zumbis e encontrei minha família, lancei meu olhar para o chão, apertei os punhos, uma raiva subiu por minha espinha, o odor da decomposição de meus pais me cousava náuseas, e ao mesmo tempo esquentava meu sangue. Retornei ao mar de zumbis e saltei por eles, confesso que não me lembro de ter tocado em nenhum. Ian ao longe me observava, e tentou se afastar quando me viu voltar. Eu saltei sobre ele e arranquei uma pequena faca que ele tinha em sua cintura.

- Estão mortos - gritei - mortos.

- E o que você espera que eu faça? Um milagre?

- Não - respondi - apenas diga a eles o quão inútil você foi para a vida deles.

Enfiei a faca em sua boca e a cortei nas laterais para a deixar maior, depois cortei seu pescoço e puxei a língua para fora enquanto ainda o ouvia agonizar, penetrei a lâmina em seus olhos diversas vezes, senti o corpo de Ian esfriar. De repente um tiro, meu corpo desmoronou, senti o sangue escorrer por meu peito. Fiquei estirada enquanto meus olhos escureciam, mais eu não estava com medo, eu estava em paz, afinal, ninguém mais morreria por causa de Ian. E eu encontraria minha família.

Ashira
Enviado por Ashira em 05/08/2014
Reeditado em 05/08/2014
Código do texto: T4910114
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