A sombra na Floresta
A Sombra na floresta
Escutamos apenas um grito fino e breve distanciando rapidamente; logo ficou tudo em silêncio. Meu corpo arrepiou dos pés à cabeça, e todos os pelos, até os que tinham dentro do meu nariz. Ficamos ali paralisados durante um bom tempo, não nos mexemos, a respiração curta e silenciosa. Medo nos tomava. Já era meia-noite. Nem mesmo os grilos cricrilavam. Carlos nos olhou no clarão da lamparina; fez-nos um sinal de que iria abrir o zíper da barraca bem devagar. Vimos as mãos de Carlos deslizando pelo fecho a erguer o pano. Esticamos a cabeça para olharmos para fora, com cuidado sem fazer barulho. Vimos os demais, em suas barracas, espantados; suas cabeças também esticadas para fora. Queríamos saber o que tinha acontecido. Uma barraca virada um pouco distante de todas as outras; do lado dela um rastro floresta adentro. Pasmados e congelados, quedamos numa observação patética, imóvel; sequer uns palmos a mais nos moveram. Finalmente o professor Kleber disse-nos em voz baixa.
- Fiquem calmos e dentro de suas barracas. Eu e Tomas vamos ver o que aconteceu; aquela barraca é da aluna Clarice, eu vi quando ela montou sua barrara longe de todos.
Tomas era o motorista do ônibus que tinha nos levado para acampar no fim de semana com o professor; ele nunca tinha medo de nada e sempre contava histórias de arrepiar. Mas nunca vi seus olhos tão arregalados como naquele dia. Com um bastão de basebol e uma lanterna os dois saíram das suas em direção à barraca da aluna; Tomas sentiu algo felpudo em suas costas, passando rápido, sutil; paralisou; professor o viu congelado de medo, aproximou-se a questionar.
- Que houve?Viu um fantasma?
A gaguejar, trêmulo, Tomas pôs-se a responder, quase sem voz.
- Ach... Ach... Algum... Alguma co... Coisa passou atrás de mim pro... Professor.
Professor olhou em volta. Sensação ruim sentiu que estavam sendo observados; pediu a Tomas que o ajudasse a recolher galhos de modo a fazerem uma fogueira a iluminar o lugar. Tão logo ela foi acesa, constataram o ambiente em derredor não havia mudado. Salvo a barraca de Clarice – ela não estava mais lá. Nervosos, na mesma medida espavoridos, mesmo que tentassem, não conseguiam entender o porquê daquilo, tampouco com o que estavam lidando. Tomas segurou firme o bastão de basebol; olhou a sua volta; disse ao professor:
- Vamos sair daqui. Não podemos continuar acampados. Viu só o que aconteceu? Nem ao menos escutamos o barulho da barraca sendo arrastada. Vamos todos sofrer das consequências.
- Calma Tomas. Primeiro. Temos que encontrar Clarice. Não podemos deixar o resto dos alunos assustados. Segundo. Vou deixar Carlos e mais alguns meninos vigiando o grupo; eu e você vamos seguir o rastro deixado para ver onde vai dar.
-Ficou maluco, professor? Eu não vou entrar nessa floresta escura. Não mesmo. Nãnãnã. Vai saber o que vamos encontrar.
- Fique calmo, eu já disse. Trouxe meu rifle, vou pegá-lo.
Professor Kleber andou até sua barraca, pegou seu rifle, pediu a Carlos e mais alguns garotos que cuidassem do grupo; foi-se em direção à trilha. No entretempo, Carlos pegou alguns galhos, fez algumas tochas, colocou todos ao redor das barracas formando um circulo para ajudar a clarear melhor. Clarice nunca foi de se misturar aos outros alunos, sempre distante da turma; era também a mais dedicada na sala; naquele dia ela não teve sorte; justamente a mais inteligente da classe havia sumido e ninguém sabia onde ela estava o que havia acontecido. Enquanto todos olhavam um para os outros apavorados, desprovidos de qualquer proteção, as tochas que Carlos havia colocado em volta do grupo foram se apagando uma por uma como quando alguém assopra uma vela. Ouviram-se os galhos dos eucaliptos que estavam perto estralarem; o grupo olhou; nada se podia enxergar. Muito escuro.
Tom sentiu algo puxando sua barraca; gritou; saiu desesperado até a barraca de Carlos. Charles não teve a mesma sorte; ali ele era o mais assustado da turma. Tudo ocorreu num piscar d’olhos. Uivo arrepiante, só deu tempo de ver o rastro e ouvi-lo sendo arrastado floresta adentro. Melissa, apavorada, chorava; não conseguia segurar as lágrimas. De minha barraca, olhei em direção dela, fiz sinal para que ficasse calma. De longe escutamos um disparo que nos deixou mais amedrontados ainda. Não sabia o que acontecera; apenas que professor disparara seu rifle. Mel correu até a minha barraca, não queria ficar sozinha. Resolvemos ficarmos todos juntos – seria melhor usar menos barracas. Em silêncio acomodamo-nos em umas cinco, e mesmo apertado, o único jeito que tínhamos para evitar que mais alguém desaparecesse. Respiração forte. Um gemido frio, maléfico; até parecia sonoplastia de filme de terror. Sensação pulsante de estarmos no foco de olhos observadores, perscrutantes. A andar a nossa volta. Lembrei-me de ter visto uma matéria em um jornal antigo que meu pai tinha guardado no porão – pegara para levar ao acampamento, achei interessante, queria assustar os garotos com a reportagem do periódico. Fomos assustados antes. Peguei minha mochila; tirei minha lanterna, junto dela o jornal; falei com Carlos.
- Veja Carlos essa matéria no jornal antigo que encontrei no porão de casa, ele mostra justamente este lugar e fala de alguns desaparecimentos que nunca foram desvendados.
-Deixe me ver isto Jim, bem aqui disse que isso aconteceu em 1989, e vinte e quatro anos se passaram e nunca mais ninguém veio mais acampar neste lugar, aqui dizem que esta floresta foi amaldiçoada por uns primitivos porque não havia mais o que comer então eles teria que deixar a floresta para achar comida em outro lugar, mas um deles com tanta fome matou seu próprio filho e comeu,mas o restante pegaram e o amarraram em uma arvore aqui e deixaram para morrer de fome e então ele agonizou por dias e dizem aqui que no ultimo suspiro ele vendeu sua alma e disse que se as trevas o deixassem viver ele protegeria a floresta como a sombra da noite e se alimentaria de tudo que não fosse da floresta e a invadisse.
Todos estavam de olhos fixo em Carlos, e eu pedi o jornal para Carlos para ver direito a matéria e o que li em seguida foi apavorante:
- Escute pessoal aqui diz que por vingança ele resolveu comer primeiro aqueles que tinham amarrado ele na arvore, então quando ele os encontrou já estavam fracos por ficarem dias sem comer, mas ele não teve piedade e em uma fome de vingança insaciável como uma sombra devorou um a um.
Então ficamos mais apavorados ainda, pois agora sabíamos que estávamos invadindo um lugar proibido e protegido pelas forças das trevas e não podíamos enfrentar. Só nos restava torcer para que aquela noite acabasse e chegasse logo o dia, mas aquele pesadelo estava longe de acabar avistamos alguma coisa vindo correndo em nossa direção, espantados e com alguns pedaços de pau nas mãos nós esperamos pelo pior e vimos Thomas cansado de tanto correr e todo machucado com suas roupas rasgadas e ensangüentadas quando ele nos viu pela última vez e gritou:
- Entrem no ônibus e não saiam de lá até o dia clarear só ai vão estar a salvos, cuidem para a lareira não apagar garotos, o professor está morto, algo sem forma e sem cor o arrastou e quando eu corri atrás para ajudá-lo ele disparou a arma sem querer e mim tentando acertar a coisa que estava nos caçando, ele foi morto, aquela coisa quebrou todos os seus ossos e o espremeu como se fosse uma laranja, e depois mastigou o seu corpo, foi horrível, corram para o ônibus e na...
Mal Thomas terminou de falar e aquela coisa veio e o pegou, vimo-lo sendo quebrado e sua pele sendo arrancado numa rapidez que não tinha explicação, peguei duas tochas dei uma para Carlos, corremos para dentro do ônibus e fechamos a porta, e lá de dentro enquanto Thomas era mastigado cruelmente escutávamos seu gemido de dor, com uma mão puxei Melissa e tampei seus ouvido e apoiei sua cabeça sobre meu peito, ela estava apavorada e não conseguia para de chorar e gritar, foi a única maneira de fazer com que ela se acalmasse. Então quando tudo parecia estar em silêncio o vidro da última janela quebrou e tortuosamente Isabela foi puxada e seu corpo rasgou em cima da navalha do vidro que havia restado na janela neste momento todos gritaram e eu e Carlos tentamos acalmar a todos e disse:
- Fiquem todos abaixados liguem suas lanternas e celulares, escutaram que Thomas disse que era pra esperar o dia clarear, é sinal que se estiver claro aquela coisa não vai poder chegar perto, então acendam tudo que tiverem e deitem no chão do ônibus.
- Tom sabe ligar os faróis?
- Si... Sim, se... Sei, meu pai tem um ônibus!
- Então vá La e ligue os faróis você está mais perto!
Tom arrastou se até o painel girou as chaves e apertou o botão dos faróis, ele olhou para trás e num passe inesperado ele bateu a mãos na alavanca da porta que abriu e como se aquela coisa estivesse adivinhando que Tom iria fazer aquilo o pegou, Tom segurou na porta e os outros garotos que estavam perto tentaram puxar ele de volta, mas o que conseguiram foi ter a infelicidade de serem arrastados para fora do ônibus, corri até o painel e fechei rapidamente a porta, agora estávamos somente em cinco, eu, Carlos, Melissa, Júlia e Marcos, estávamos apavorados, olhei no relógio era cinco da manhã, mais uma hora e o dia iria clarear, angustiado olhei para o celular e nada de sinal, continuamos abaixados um olhando para o outro, Melissa ainda estava chorando, mas estava não estava gritando mais e Júlia estava abraçada com Carlos e o Marcos estava um metro de distância de nós atrás de Carlos e Júlia, mas esquecemos que marcos sofria de asma e então ele começou a ter ataque, Carlos tentou acalmá-lo, mas naquela altura do campeonato, parecia que Marcos iria morrer lhe faltava o ar, quando ele se levantou para tentar puxar o ar seu corpo atravessou junto com uma fumaça escura e felpuda de um lado para o outro do vidro junto com ela um cheiro de podre, Marcos não teve chance. Carlos enfureceu-se e começou a esbravejar de pé com a tocha nas mãos, Júlia viu sinal em seu celular e rapidamente passou uma mensagem para a sua mãe pedindo socorro, e neste instante Carlos que gritava enfurecido e com lagrimas nos olhos e em pânico correu até a porta abriu e gritou:
-Você acha que poder acabar com todo mundo, sua coisa horrenda, tente me pegar, vou fazer comer essa tocha de fogo!
Carlos estava fora de si já e em pânico, mas aquela atitude foi em vão, estávamos cansados e angustiados e novamente presenciamos aquela cena horrível, um sopro e a tocha se apagou e logo em seguida ouvimos os gritos agonizantes de Carlos, seu corpo foi quebrado e comigo dos pés até chegar a cabeça, a dor era inevitável, tentar salva-lo era mais ainda. Passaram alguns instantes e permanecemos em silêncio, nada aconteceu, mas escutamos o Barulho de varias sirenes e quando ergui a cabeça para olhar lembro-me que num segundo vi dois olhos grandes vermelhos e flamejantes com grandes dentes afiados salivando em minha direção...
O meu celular tocando e meu cão lambendo meu rosto estavam me acordando daquele terrível pesadelo eu estava atrasado, era fim de semana e como ponto positivo para meu boletim da escola tinha um acampamento como atividade extra para ir. Ufa tinha sido só um pesadelo!