Deserto das Almas - 2º Capítulo
- Talvez seja apenas um terrível pesadelo. Talvez seja uma alucinação. Talvez seja o que parece. Eu morri naquela floresta - disse Joana ao recordar terríveis momentos anteriores e que causaram sua morte.
Dois anos se passaram depois da terrível morte de Joana que logo ocasionou a de seu filho, que no presente, estaria junto a ela preso num mundo no qual não podiam explicar ou entender.
Num escuro e triste tempo nublado, alguns turistas seguiam para uma cabana perto do pequeno vilarejo de “Deserto das Almas”. Pela má orientação e informação, sua trilha seguiu em sentido oposto e logo estavam à beira daquela vila no qual muitos morriam e vagavam há anos.
Tereza, moça rica, seguiu exaustivamente com seus amigos pela vila tentando encontrar um abrigo e ajuda para chegarem ao seu destino tão esperado. Pena que o destino poderia ser bem mais sombrio do que eles jamais imaginariam. Próximo a um posto de gasolina, não havia ninguém para atender. Todos pareciam ter sumido. Numa rápida olhada pelas janelas das casas, Tereza sentiu seu corpo estremecer e esfriar instantaneamente. Ela pensou ter visto uma mulher suja e sangrando, correndo por um bosque perto de um córrego. Gritando, a mulher havia sumido de forma inacreditável como um sopro de poeira ao vento. Sem demora, Tereza avistou seus amigos de longe e correu até eles sem explicar aos companheiros o que aconteceu. Seu único pensamento era sair daquele lugar tão estranho.
As ruas do vilarejo estavam cheias de folhas queimadas e galhos secos. Por um minuto, um dos rapazes ouve um barulho. O vilarejo estava silencioso demais e tudo era escutado com precisão. Eram gritos, vozes, mas nenhuma presença evidente. Com receio, os jovens se refugiaram numa casinha humilde e antiga, um pouco assustadora na verdade. Entraram sem perguntar se havia alguém ali, apenas queriam sair da rua, daquela névoa que se propagara mais e mais a cada instante. Ao entrar, perceberam que a casa parecia estar vazia há muito tempo. Sem ao menos descansar, eles começaram a procurar algumas velas, pois parecia não haver luz elétrica. Tereza pegou um isqueiro em seu bolso e ao acendê-lo, viu uma imagem que os deixou com o coração na mão. Era uma criança em decomposição perto da janela com um papel em mãos. Eles gritaram, tentaram abrir a porta, mas de nada adiantou. Parecia estar trancada, o que não era possível, pois não haviam trancas nela. Alguns instantes depois, um dos rapazes chamado Jesse disse:
- Fiquem calmos, calmos, vamos sair dessa. Vamos procurar alguma fonte de luz, rápido!
Tereza em desespero evidente exclamou:
- Espere! Aquela criança parece ter algo em suas mãos – respondeu ela tentando mostrar firmeza e coragem, mas eram falsas.
Jesse foi até o corpo e pegou um papel na mão da criança. Era uma foto, muito empoeirada por sinal. Ao limpá-la um pouco, via-se uma jovem muito bonita, com um bebê no colo. Tereza perguntou:
- Tem algum nome nesta foto?
Jesse virou a foto e viu um nome. “Joana”.
- Quem será essa mulher? – respondeu uma das meninas.
Sem tempo de resposta, a casa começou a esfriar. Tentaram com toda a força abrir as portas e janelas, mas estavam trancadas, emperradas. A madeira velha começou a ranger, pareciam passos silenciosos, mas perceptíveis. O medo tomou conta e eles pegaram tudo o que viam pela frente e começaram a quebrar as janelas. Em meio ao desespero e esforços, felizmente conseguiram sair.
Os jovens sem ao menos perceber, estavam sem direção, sem saber o que fazer. Ao toque da noite, o breu cobriu aquele vilarejo e como ironia do destino, Deserto das Almas havia ganhado novos moradores, não vivos, mas presos no desespero que varreu aqueles dias e a vida de muitos.
A manhã chega, e seus corpos não estavam mais ali. Pela janela daquela casa, ainda existia uma criança, olhando-os pela rua. Ela sorriu e disse, como num som telepático que soou ao vento:
- Fiquem calmos! Minha mãe vai nos ajudar a sair daqui. Fiquem calmos, isso é só o princípio...
A fria noite se iniciou e nada mais houve naqueles dias...