Maria de São João
Ela simplesmente linda naquela noite de São João. Seu vestido de chita todo florido era o mais bonito da festa. E ela toda maquiada com 3 pintas pretas em toda bochecha estava um encanto. Nem a moça que seria a noiva da quadrilha estava tão bela.
A festa junina ali no sítio era sempre a melhor das redondezas e muitas pessoas eram convidadas e compareciam em peso.
A animação era total, pessoas sorrindo, crianças soltando biriba e traques, jovens flertando, e os homens conversando e tomando quentão. Pipocas. Amendoim. Doces típicos.
E claro, uma grande fogueira era o centro da festa.
Mas a vida tem seus caprichos.
E Maria não podia jamais imaginar o que estava por acontecer.
E assim circulava feliz pela festa alegrando a todos com seu sorriso branco como canjica.
Sanfona triangulo e zabumba tinham a responsabilidade de fazer as pessoas não ficar paradas.
E Maria sorria para todos e todos sorriam para ela.
Bem, nem todos.
Em um canto isolado, um moço se escondia nas sombras, sem sorriso, só com olhar triste e cansado.
E um coração machucado.
Ele não estava ali para festejar, nem para sorrir.
Havia sido rejeitado por Maria, e isso ele não aceitava.
Em sua mente doentia uma frase ecoava:
_- Se ela não vai ser minha não será de mais ninguém.
De repente, Maria se afasta das pessoas e o vê ali nas sombras.
Ela nunca imaginava o que se passava na mente dele.
Ele sorri e acena para ela.
Ela corresponde no sorriso e vai até ele.
A poucos metros a festa animada continua.
A sanfona, o triangulo e a zabumba.
Ele a arrasta para trás de um paiol mais afastado, tenta beijá-la.
Ela recua e se esquiva, tenta correr mais é tarde demais. Ela sente o punhal passando sua carne e cai ali mesmo. Mais punhaladas. O ódio nos olhos insanos do moço.
Naquele momento, a grande fogueira se apaga por completo juntamente com todas as luzes, deixando todos em uma escuridão total.
O desespero toma conta das pessoas. Crianças e mulheres gritando.
Em questão de segundo a fogueira volta a se acender com mais força ainda. E as luzes também.
As pessoas estão todas assustadas sem saber o que houve.
Aos poucos tudo volta ao normal.
E aquele moço chega para a festa, cumprimentando a todos.
De repente ele a vê, encantadora com seu vestido de chita.
Ela se aproxima sorrindo e diz:
- serei seu par essa noite, dança comigo?
O desespero toma conta de seu corpo. Mas mesmo sabendo o que havia acontecido ele a envolve em um abraço e começa a dançar.
Todos os olhares estão voltados para ele, que agora dança próxima à fogueira.
De repente rasga a noite escura: Mariaaa, não... não.
Maria está morta!!
Era mãe de Maria desesperada a gritar.
Algumas pessoas saem correndo em direção aos gritos.
O moço então percebe que Maria esta banhada em sangue e seu corpo gelado e sem vida.
Então para seu desespero percebe que está dançando sozinho.
E nesse desespero se atira no meio da fogueira, mas é resgatado por alguns homens ali presentes.
Maria foi trazida sem vida e ensanguentada.
Ele teve grande parte do corpo queimado, mas sobreviveu.
Mas sua sanidade jamais voltou.
Vive pelas ruas dançando sozinho, ou com Maria, quem sabe.
Rindo e chorando sozinho.
E há quem diga que Maria ainda é vista algumas vezes com seu vestido florido de chita sorrindo para todas as pessoas nas festas de São João do interior.
Quem sabe você já a tenha visto alguma vez...