"a maldição da caixa"

Todos os dias nos reunimos no lado mais escuro do parque ambiental de nossa pequena cidade, para bebermos, fumarmos e contarmos histórias de terror. Coisas de adolescentes, ou de pessoas que não tem nada mais interessante para fazer. Em meio a risadas alcoolizadas e palavras esfumaçadas esbanjamos toda nossa falsa coragem, no fundo somos apenas pessoas vazias atras de adrenalina barata.

Marcelo se levanta interrompendo meus pensamentos profundos, um pouco tonto com uma garrafa de cerveja em sua mão e um cigarro pendurado no canto de sua boca.

- Eu desafio vocês a esperarem escurecer e ouvir uma lenda que tenho para contar. - disse ele.

Todos concordamos, acendemos uma fogueira e esperamos o sol baixar sobre os morros e levar consigo toda sua força nos deixando com a escuridão da lua.

- Muito bem - disse Marcelo - Ouvi uma historia sobre este parque, a alguns anos, uma família recebeu por correio uma pequena caixa, esta daria muita prosperidade a quem a tivesse, porem a morte trágica a quem a abrisse. Eles a mantiveram enterrada no quintal. Um certo dia o filho mais novo a abriu, e seus restos mortais foram encontrados alguns dias depois por toda a cidade, então a jogaram sobre essas matas.

- É realmente uma historia curta - disse Fernanda ainda alcoolizada .

- Eu os desafio a encontrar esta caixa e abri-la, tirar uma foto, e trazer para mim. - disse Marcelo apontando a garrafa de cerveja vazia para nós- quem o fizer, vai ter cerveja de graça por um ano.

Concordamos e adentramos no matagal, empurramos galhos, matamos insetos e eu estava certa de que esta caixa não existia. De repente um grito seguido de um profundo eco. Era Fernanda.

- Onde está a Fer... - não conclui

Ao meu redor não havia ninguém, apenas uma terrível escuridão, ruídos vindos de todos os lados, minhas mão e pernas ficaram tremulas, um frio subiu por minha espinha fazendo com que meus pelos do braço e cabelos arrepiassem. De repente um grito, ao meu lado, alto, desesperado, rasgando a garganta. Joguei meu corpo para o lado oposto e me choquei contra uma grande arvore. Meu corpo escorregou sobre seu tronco lentamente até que cheguei ao chão, apanhei o celular do bolso e iluminei diante de mim, e lá estava ela, a caixa. Me aproximei e antes que eu a abrisse Diego (amigo de Fernanda) saltou por entre os galhos e me impediu.

- Eu abro - resmungou Diego - não me atrapalha.

Ele se apossou de uma pedra e quebrou o grande cadeado enferrujado, soltou a trava e empurrou a tampa, seus olhos arregalaram, uma pequena linha de sangue desceu de seu nariz e explodiu na caixa, seus olhos se arrastaram até mim. Eu não pude ver o que tinha na caixa, e não entendia o que estava acontecendo com Diego. Ele soltou a caixa e se aproximou de mim espumando uma substancia amarelada, movendo o pescoço de um lado para outro forçando sons de ossos sendo trincados. Eu saltei sobre a mata e corri o mais rápido que pude atropelando galhos e trombando com troncos de arvore, até que finalmente alcancei o topo do morro onde Marcelo ria ainda sobre o efeito do álcool. Passei por ele, abri a porta do carro e me lancei dentro dele. Vi Diego sair da mata, agarrar Marcelo, arrancar seus olhos com os dedos, enfiou seu braço dentro da boca de Marcelo e arrancou a língua junto com alguns órgãos, depois Diego o segurou através de sua mandíbula e o rasgou no meio jogando sangue sobre o vidro do carro. Então Diego abaixou e agarrou alguns pedaços do corpo de Marcelo e o lançou sobre o carro. Desesperadamente tentei dar a partida, porem o veiculo não respondia a meus estímulos.

- Liga desgraçado - gritei - inútil.

Depois de muitas tentativas consegui dar ré no carro e me dirigi a cidade, não fui a delegacia se é o que você imaginou que eu faria, como eu poderia explicar isso a alguém?

Apenas fui para casa e deixei a noite terminar, no dia seguinte levantei cedo, evitei comer pois a cenas sanguinárias não saiam de minha mente, e fui para o colégio. Depois da aula voltei a mata onde encontrei a caixa no mesmo lugar, cavei um profundo buraco e a lancei dentro, depois a cobri com terra.

A partir desse dia, quando tenho pesadelos de que estou partindo alguém no meio, acordo na mata ao lado de onde enterrei a caixa, e no chão sempre está escrito com sangue: " A caixa trás muita prosperidade a quem a tiver, porem a morte trágica a quem a abrir".

Ashira
Enviado por Ashira em 05/07/2014
Reeditado em 05/08/2014
Código do texto: T4870188
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