Uma Noite Alucinante
Terminou. Ele olhou para espelho. Analisou seus olhos, seu cabelo, a barba perfeitamente feita. O traje combinando com seu corpo. A noite seria daquelas. Estava pronto para arrasar. Já havia ligado para aquela mina, de quem falava a todos: “Essa eu pego!” Sua fama de pegador era conhecida. Porém ninguém entendia porque ele nunca permanecia num relacionamento por muito tempo. Ele tentava explicar, falando que as mulheres eram exigentes demais. E que não suportava pressão. O relógio marcava onze e trinta, hora de sair, pegar seu carango e curtir a noite com a gata. Saiu do apartamento, trancando a porta, sentiu um arrepio percorrer-lhe a espinha. “Nossa! Parece que a morte passou por mim.” Pensou ele. Desceu as escadas, não gostava de elevadores.
No estacionamento, abriu a porta do seu possante, entrou, engatou a chave na ignição e a girou, fazendo o motor funcionar. Subiu a rampa do estacionamento e novamente aquele calafrio assombroso. Dessa vez fazendo com que até seus pés erigissem de medo. Não ligou, continuou sua trajetória. Iria pegar sua presa, bem próximo a marquise da avenida central. Quando ia cortar uma encruzilhada, um gato preto passou enfrente a seu veículo, fazendo com que ele quase perdesse a direção. Resmungou alguns palavrões, mas seguiu seu destino. A lua no céu estava encoberta, as estrelas não apareciam. As nuvens num tom cinza glacial. Olhando para o céu, ele não percebeu que o semáforo estava fechado para ele, e quase bateu em outro automóvel que passava na luz verde. Novamente aquele gélido sentido. Seu coração parecia querer saltar da boca. Rodou mais alguns quilometro e encontrou a garota, a gostosa da noite. Moça atraente, cabelo caído nos ombros, um vestido colado no corpo. Boca carnuda, um prato cheio para os famintos sexuais.
Ele parou seu carro, todo galante abriu a porta para era entrar, sentar e num gesto sensual, cruzar as pernas, deixando amostra do que seria aquela noite. Sua voz, gostosa de ouvir, fazia com que ele flutuasse. Outra vez ele ligou o carro e o fez deslizar pelo asfalto. Entre uma curva e outra, ele se perdia olhando aquelas curvas magistrais, seu pensamento fervilhava, seu desejo aumentava a cada instante. E ela, insinuante. Pediu que lhe comprasse uma bebida, uma cigarrilha. Ele parou na primeira distribuidora e comprou, aproveitou também e comprou uma cerveja preta para ele. Seu cérebro maquinava onde levaria aquela beldade? Em que motel seria o abatedouro, e como seria desfrutar daquele tanto de carne.
Voltou para o carro, entregou as encomendas para ela, que num gesto provocante, abriu a bebida, virou num só gole quase toda, e depois ascendeu uma cigarrilha, dando uma tragada longa e profunda, infestando o interior do carro com aquela fumaça adocicada. Rodaram pela cidade, de vez em quando parando, trocando alguns amassos. Dirigiram-se para um motelzinho a beira da estrada, entraram, e no quarto como dois animais no cio se entregaram ao violento coito. A noite estava sendo alucinante, repetiram o feito por mais de quatro vezes, e ela sedenta querendo mais, e ele já exausto, arregando. Outra vez, o assombro do calafrio, o medo se apossou dele, quando na penumbra do quarto olhou para ela. Aqueles olhos antes verdes estavam enegrecidos, aquele corpo escultural e cheio de formas, estava esquelético. Os cabelos caídos estavam para cima queimando, e as labaredas transformavam em fumaça sinistra.
Ele gritava se debatia em baixo daquela caveira, esperneava tentando se soltar, mas a força dela era mais forte, e ele não se soltava. Permaneceram assim por longas horas. Até que os primeiros raios de sol começaram a atravessar a vidraça da janela. Aquela forma sinistra se desfez como que por encanto, enquanto que ele tombava para o lado esquerdo da cama, sem vida. Quando a empregada da família entra para arrumar seu quarto, se depara com aquele corpo nu, entre, uma lata de cerveja preta, uma carteira de cigarrilha, uma garrafa de uísque, um par de velas queimadas e um incenso recendendo em todo o quarto. Seringas e comprimidos por toda a cama.