Aflição.
Ouviu vozes tristes, sentiu calor ao seu redor, mas o frio ainda o dominava. Mal respirava, o metabolismo lento, o coração mal batia, os olhos lacrimavam.
Mais tarde, sentiu-se como se estivesse em movimento. Ventava, e água escorrer por seu corpo, gelada. Logo cessou, e então um barulho iniciou-se, não totalmente estranho.
Deitado, como estava, acordou, mas não viu nada ao abrir os olhos. Estava envolvido por um breu apertado, um casulo. A claustrofobia despertou de um canto remoto de seu cérebro, a lembrança de ter ficado oito horas preso dentro de um elevador, quando era criança, o atormentava. O mesmo aconteceu quando tentou mexer os pés.
A aflição tomou conta naquele momento, o fazendo gritar e espernear.
Rezou para que aquilo acabesse logo, lágrimas brotaram e escorreram de seus olhos à medida que os gritos continuavam. Percebeu que mal conseguia respirar: o ar dali estava abafado, quente. Não tardou para que ficasse ofegante. Gotas de suor escorriam de sua testa, e o espaço era tão pequeno que não conseguiu levar as mãos até lá, para limpar. Sentiu uma gota particularmente perturbadora descendo lentamente, vagarosamente, como se zombasse da situação.
Desista, você não vai escapar. Desista. Aceite. Desista.
Mais gotas começaram a dançar por sua face, não mais suor, mas lágrimas. Qualquer outra sensação que não aflição não existiam naquele momento: o desespero era um tirano, e ainda por cima, ciumento. Não deixava espaço para mais nada. Talvez fosse sua imaginação, mas teve a impressão de que o ar estava acabando, a falta de oxigênio o fez urrar e chorar mais ainda, por mais que tentasse bombear ar para dentro dos pulmões, falhava nessa tarefa.
O barulho se intensificou, e em meio àquele caos, conseguiu identificá-lo como chuva caindo, mas parecia distante… e então, lhe veio a primeira epifania:
Eu estou num caixão. Isso desencadeou a segunda:
Eu vou morrer, pensou, ali. Mas logo, corrigiu-se, quase sem ter consciência disso. Para todos os efeitos, já estava morto.