Francisco - DTRL16

"Se eu apenas pudesse lhe dizer

o quanto eu amo seu cadáver

voce ia perceber que a dor que lhe causei 

Não foi em vão, não

Foi pra lhe salvar da sua própria ingratidão"

 

Terror Gang - 666 dias de sodomia

 

 

Agora que ela está em pedaços, já não sinto o mesmo. O prazer que senti há poucos minutos se esvaiu, assim como o sangue do seu corpo. E o que restou foi apenas o desejo de segui-la. Sabe, Marinalva era minha vida, mesmo que você não acredite. Sei que, agora que você está vendo o corpo mutilado sobre o tapete e o sangue sobre mim, não vai acreditar. Não me importo com isso. Minha aparente frieza pode te espantar como já espantou a tantos. Mas, não me considero um homem frio. Como poderia, se tudo que fiz foi por amor? Os pais dela que começaram com isso. Era sempre a mesma coisa: achavam que eu não sabia do que falavam, que diziam a ela pra terminar comigo, que eu era louco. Quando bati nela, a situação se complicou e eles tentaram afastá-la de mim de toda forma. Eu não devia ter feito aquilo, mas foi incontrolável. Meu ciúme havia me tomado quando a vi com seus amigos. Eu não podia perde-la.

Mas, Marinalva entendeu, me perdoou e eu jurei nunca mais machucá-la. Cheguei a chorar ajoelhado aos seus pés. Sei, sei. Você está vendo que a matei e vai dizer que foi crueldade. Só que dessa vez foi diferente. Ela queria terminar comigo, queria me deixar. Eu não podia aceitar, tinha certeza que era outro. Comecei a segui-la em todos os lugares, precisava descobrir. Até discutimos algumas vezes quando pedi aos berros que voltasse pra mim. Tentei mostrar a ela como seria ruim não estar comigo, que doeria, que machucaria. O resultado disso? Bom, você deve imaginar. Um olho roxo em seu belo rosto e um B.O. contra mim. A Maria da Penha me pegou. Fui proibido de me aproximar. Mas a distância não desfaz um amor tão forte e eu não resisti, não aguentei. Sabia que ela passava bastante tempo sozinha porque os pais trabalham muito. E essa madrugada, bebi um pouco pra tomar coragem de me declarar uma última vez. Ela não queria me deixar entrar, mas insisti  em dizer que estava mudado e amadurecido.

Logo que entrei, a forcei a me beijar. Parece loucura, mas ela tinha que me provar mais uma vez. Sua rejeição me doía e aquela fúria me tomou novamente. Bati em seu rosto, seus gritos me trouxeram um prazer como não sentia há muito tempo. Eu senti que ela gostou, seus gemidos não eram apenas dor. Eu devia parar de falar agora e mandar você embora, mas preciso que alguém conte o que houve aqui. Não me olhe assim, eu disse que não sou louco, sou apenas um homem que amou intensamente. Tudo em Marinalva sempre me fascinou. Sente o cheiro? Sente como é doce seu sangue? Isso é o que eu queria; tê-la por completo. E eu comecei rasgando suas roupas e usando pedaços de pano pra tampar sua boa e amarrar seus braços. Ela chorava, mas eu sei que era de prazer.

Tranquei as portas e fechei as cortinas. Depois fui até a cozinha e peguei uma faca afiada que usávamos em churrascos. Tudo estava perfeito. Ela chorava e balançava a cabeça com o rosto molhado e os olhos vermelhos. Sempre maravilhosa. Passei a lâmina sobre seu corpo nu, mostrando a ela o prazer que sentia, o quanto meu corpo reagia ao dela. Aquele era nosso momento, nossa reconciliação. Com a faca apoiada em seu pescoço, a possuí com força, com vontade. Seus gritos abafados pelo pano em sua boca expressavam o prazer que eu dava a ela. Enchi suas carnes com meu sêmen, a preenchi de todas as formas. Aí você pergunta porque a matei. Será que já não está claro? Você não vê, não entende?

Quando esauri minhas energias tentando mostrar meu amor, deitei ao seu lado e tirei o pano de sua boca. A beijei e me desculpei pelo pequeno corte que a faca fez em  seu pescoço. Mas Marinalva não dizia nada, só chorava. Perguntei se não dei provas suficientes do meu amor e ela começou um surto de choro. Dizia não me amar, disse que me odiava. Depois de tanto esforço aquela ingrata me rejeitou. Diz que você não faria o mesmo! Diz que não ficaria furioso! A faca estava ao meu lado. Eu disse que ela me amaria, subi em seu corpo e enfiei a faca em seu peito várias vezes até minha raiva passar. Em seguida, a abracei e a beijei. Já não havia rejeição. Enfim a fiz me amar. Seu sangue molhou meu corpo, seus lábios estavam quentes e molhados. Abri suas pernas e fui recebido de forma suave. Fizemos amor lentamente, amenamente. Agora, Marinalva era toda minha. Eu bebi seu sangue, comi sua carne.

Agora, como pode ver, ela está morta e fria. Já não sinto mais nada. Não sou nada. Tenho apenas as lembranças desses bons momentos que passamos. E, enquanto eu contava minha história de amor pra você, decidi o que fazer. Vou me unir a Marinalva do outro lado. Seremos felizes pra sempre. Vem comigo, no fim do corredor fica o banheiro. Viu? A banheira é grande o suficiente e está até cheia. Tem um ventilador ligado aqui. Acho que minha amada estava se preparando pra tomar banho quando cheguei. Bom, será útil. Entro lentamente; a água fresca começa a ficar rosada pelo sangue em meu corpo. Me acomodo e olho pra você uma última vez. Isso é um adeus. Por favor, chame a policia assim que eu estiver morto, não nos deixe apodrecer aqui.

Fecho os olhos e respiro fundo sem fazer questão de juntar ar. Sinto a água em minha pele e tento não me mexer. Aos poucos, a falta de ar começa a incomodar, abro os olhos segurando firme nas laterais da banheira. Meus pulmões ardem na ânsia por ar. Não consigo manter os olhos fechados. Com um impulso involuntário, inalo um pouco d’água e o susto me faz erguer o corpo. Busco avidamente por ar como um recém-nascido. Frustrado, passo as mãos no rosto e olho a água avermelhada. Sinto seu gosto em minha boca.

Eu devia saber que não seria tão fácil. Tento novamente. Posso ver você através da água turva e vejo o ventilador girando preso na parede ao lado. Isso está demorando demais. Outra vez, meus pulmões ardem e minha força de vontade nçao é suficiente para me manter debaixo d’água. Me sento, tossindo um pouco; a água conseguiu entrar um pouco em meus pulmões. Quer saber? Desisto. Vou voltar pra sala e me matar com aquela faca. Me levanto, talvez rápido demais para quem está na água. A porcelana da banheira está escoregadia por causa do sangue e acabo perdendo o equilíbrio. Por instinto, me seguro na primeira coisa que minhas mãos tocam antes de cair: o ventilador. É tudo muito rápido enquanto caio, sinto-o bater contra a água. No mesmo instante, a corrente elétrica toma meu corpo. A dor lancinante das descargas amplificada pela água faz meus olhos arderem. Parecem que vão explodir. Estremeço convulsivamente, meu coração dói muito. Eu já devia estar morto. Eu quero morrer! Eu quero morrer!

O sangue quente e grosso começa a sair pela minha boca e pelo nariz pouco depois de sentir algo estourando dentro de mim. Não sei porque ainda estou consciente. A dor agora está sendo substituída por uma dormência repentina. Mas isso está longe de ser bom, pois meus olhos explodem em uma onda de calor infernal. Somente depois disso começo a perder a consciência.

 

Fim

Tema: Suicdio

Aureus Mortem
Enviado por Aureus Mortem em 17/05/2014
Reeditado em 17/05/2014
Código do texto: T4809295
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