Protege Moi

Aqueles horríveis gemidos animalescos me causavam arrepios, o cheiro de sangue e morte faz a minha cabeça girar e tornavam as minhas pernas bambas. Meu corpo todo tremia e minhas mãos suavam tanto que eu segurava o taco de baseball com dificuldade.

Eu não sabia o que fazer, estava com tanto medo. Eu estava em completo desespero diante daquela criatura que se alimentava com voracidade.

O infectado ainda não havia notado a minha presença, estava ocupado demais devorando o que restou dos meus ex-companheiros. Era minha chance de fugir, mas meus pés não obedeciam aos meus comandos.

Meu coração batia descontrolado, estava tão assustada que não era capaz de derramar nem ao menos uma única lágrima pelos amigos que perdi. Tudo o que eu podia fazer era assistir a refeição daquele monstro.

Retomando o controle do meu corpo, dei um passo para trás, pronta para abandonar aquele lugar, quando a infectada volta suas orbes negras na minha direção. Ainda lembro quando aqueles olhos, agora tão negros quanto à própria escuridão, eram azuis como o céu. Traziam esperança.

"Proteja-me."

O zumbi ainda usava aquelas roupas, ainda possuía aqueles cabelos castanhos, em volta de seu pescoço ainda carregava o pingente que lhe dei no último natal. Como aquele não podia ser ele?

A besta vinha na minha direção, prestes a atacar. Mas em meio aos seus rugidos, tudo o que eu podia ouvir era sua voz serena sussurrando: "Eu te protegerei!".

Então me proteja! Me salva! Por que você não esta mais aqui?! Você jurou que me protegeria para sempre!

Olhei para o bastão em minhas mãos trêmulas.

Por que eu ainda luto? Não há salvação. Não há esperança. Estou sozinha. Estou sozinha de novo. Todos morreram... Por que eu não desisto?

É melhor morrer do que viver nesse inferno!

Mal percebi o infectado avançar e fui tomada por uma fúria desconhecida, uma forte vontade tão forte há muito esquecida.

"Viva". Ecoava na minha mente.

Só me dei conta do ocorrido quando vi o cadáver no chão, com sua cabeça completamente esmagada e meu taco sujo de sangue. Caí de joelhos, lágrimas banhavam a minha face.

Eu perdi tudo! Por que eu não morri? Porque me agarro tanto à vida? Ainda há esperança?

"Viva!", foi o que você disse após um beijo de despedida. "Fique viva!", foi o que você disse ante de me salvar e correr para a morte.

Juntei todo o suprimento que pude e decidi deixar a base antes que ficasse infestada de zumbis.

Deixei a casa com a mochila nas costas, pronta para mais uma longa viagem. Num suspiro, olhei para o céu e vi uma nuvem negra anunciando uma tempestade. Ela parecia um rosto humano, transmutado numa expressão divertida. Os resquícios de um sorriso sarcástico em sua face.

Deus, se você ainda estiver ai, proteja-me. Pedi silenciosamente.

Dei o primeiro passo e sorri comigo mesma da minha idiotice. Nesse inferno, a única pessoa que poderia me proteger era eu mesma.

Amanda Nunhofer
Enviado por Amanda Nunhofer em 12/05/2014
Reeditado em 25/12/2014
Código do texto: T4804388
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