HUMANO, DEMASIADO DESUMANO.

Todos são responsáveis por suas próprias ruínas. Não há exceção. Mesmo aqueles que são livres dos pecados, puros de corpo e alma -ou sei lá em qual outra mentira se encontram- fazem parte dessa desgraça. Nem as ingênuas crianças se safam. Bem, talvez se fossem cegas perante essa pobre e ignorada paisagem, surdas o suficiente para não sentirem ao seu redor os tremendos gritos da própria natureza, e, quem sabe, se não respirassem esse fétido ar impregnado de vida, aí sim seria possível ter uma remota chance de serem salvas. Um aborto. O que há de mais cândido, mais verossímil nessa ignóbil ilusão.

Minhas maldições se resumem a uma só. Sou fraco, leitor. Fujo dessa realidade por meio desses frágeis sonhos. Meu precioso ópio. Mas há a necessidade de acordar, abrir esses inertes olhos e ver o inimaginável, o invisível. Não tenho força para erguer-me, desvincilhar-me dessas pesadas máscaras que, por elas, falsifico uma segurança. Sou um homem supérfluo. Isolado desse mundo, num escuro canto, finjo ser livre nesse contraste entre preto e branco.

Esquecer o inesquecível, libertar-me desse pesado fardo; tudo o que peço. Mas não há volta. Estou preso a essa angústia, essa fúria, desesperado para dar logo um fim a tudo. Já cansei de fugir do que é real, e fingir que ainda vivo. Não enxergo mais nenhuma lágrima, nenhuma esperança. O passado tão remoto, o presente tão efêmero e o futuro tão longínquo...

B Duarte
Enviado por B Duarte em 05/05/2014
Reeditado em 05/05/2014
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