NÃO LEIA, LEITOR.

Deviam essas armas que estão a dissecar a alma humana serem extintas. Essas desilusões que destorcem a realidade ao seu bem entender, que levam ingênuos olhos a crerem numa inverossímil visão e os fazem esquecer de como o é despertar perante uma ignóbil e efêmera vida são tão angustiantes que viv'alma nenhuma deveria conhecer tão gritante desespero.

Mas como fugir? Parece uma doença, vicia e se espalha mundo afora. Um elogio à loucura. Pois quem tenha a ousadia de ver-se livre de velhos hábitos, ir contra o senso comum, erguer-se diante das pesadas máscaras dessa sociedade, tentar fazer desse lugar um mundo melhor, tem de ter no mínimo um desequilíbrio de suas faculdades mentais.

Logo essa cândida criança dará espaço a um homem supérfluo. Alguém que tem em si os maiores sonhos do mundo, mas não é nada e nem o será. Alguém que sacrificou sua pura inocência por uma falsa liberdade, sua contagiante alegria por um taciturno isolamento. E não tardará para que essa tortuosa e melancólica vida se renda ao cansaço, e sonhos já serão extintos. Suas lembranças cairão num profundo abismo de esquecimento onde livres espíritos permanecem. Imaginem.

Não leia, leitor.

B Duarte
Enviado por B Duarte em 24/04/2014
Reeditado em 26/04/2014
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