“Todos os personagens e lugares contidos neste conto são frutos da imaginação do autor e não tem qualquer relação com nomes e/ou personalidades da vida real. Qualquer semelhança terá sido mera coincidência.”
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A catástrofe começou antes das três horas da manhã.

Bela Vista, pacata cidade ao norte do estado do Paraná, dormia profundamente, imersa na calma típica das pequenas cidades.

Jorge Santino, prefeito de Bela Vista, tentava em vão adormecer, com a mente absorvida por um problema que estava quase se tornando uma obsessão. O norte do Paraná atravessava a pior época de seca que se tem registro. Em algumas regiões, a situação se tornara crítica, caótica ao ponto de os meios de comunicações atualizarem os números de pessoas e animais mortos, várias vezes ao dia.

O medo de Santino era ter de enfrentar, diretamente, no seu município, a assustadora seca que vinha assolando grande parte do estado. Bela Vista, com pouco mais de quatro mil habitantes não aguentaria tamanha punição. A população teria de migrar para outra região, mas talvez muitos ali morreriam. A cidade vivia exclusivamente da agricultura e o prejuízo seria irremediável.

Jorge esteve pensando em todos esses perigos, nas consequências que a demorada estiagem trariam para a cidade e que medidas ele poderia tomar eventualmente.

Ao seu lado, na grande cama estilo colonial, Marta, sua esposa, já havia mergulhado há muito tempo no sono dos inocentes.

Era uma bela mulher, peitos abundantes e olhos azuis como as safiras mais lindas. O cabelo amarrado na base da nuca pendia-lhe até a cintura. Agora espalhado no travesseiro, emoldurava um rosto sereno, onde seus lábios carnudos e sensuais se destacavam sob a parca luz emitida pela linda lua que insistia em entrar pela grande janela que permanecia aberta.

Jorge Santino franziu a testa quando sentiu a casa tremer. Eles viviam num belo e aconchegante sobrado bem perto da prefeitura, no centro da cidade.

A casa foi violentamente sacudida, uma vez mais. Quadros e utensílios que enfeitavam a sala no andar de baixo foram arremessados, as louças espatifaram-se no chão de pedra da cozinha. O Prefeito deu um salto, levantando-se, chegou a janela. Lançou seu olhar para a rua e o que viu foi deveras aterrador. A terra parecia mover seu ventre, agitando novamente todos os prédios da cidade como um monstro adormecido que havia despertado nas entranhas de Bela Vista, rugindo e destruindo tudo...

- Minha Nossa! Um terremoto! – exclamou Santino, levando as mãos à cabeça.

Nesse instante, a terra tremeu ainda com mais intensidade e uma das paredes da casa rachou-se com estrepito.
Marta acordou e ergueu-se na cama, com os olhos injetados de pavor.

- Que está acontecendo? – conseguiu dizer em gritos.

Um novo tremor fez a pesada cama agitar como se fosse uma folha seca, solta ao capricho de uma brisa.
Marta que estava se pondo de pé. Foi jogada, com tamanha violência contra a parede que rachara instantes antes, soltou um grito. O Prefeito correu para ela e colocou um braço protetor em volta de seus ombros.

- Vamos sair daqui! A casa não vai aguentar mais. É um terremoto Martinha! Corra!

- Mas...mas... – Marta recusava a aceitar a gravidade da situação, seus sentidos estavam confusos.

Olhava para sua camisola de dormir, suja de reboco que se desprendia das paredes e se perguntava como iria sair daquele estado de desespero...

- Corra, amor! Por favor! – Santino gritou, arrastando-a em direção à porta.

A grande porta de madeira maciça foi aberta com um estrondo, batendo violentamente contra a parede, soltando das dobradiças. Como se fosse lançada por uma catapulta, voou na direção do casal. Mais ágil, Jorge viu o perigo e jogou-se ao chão, tentando arrastar Marta com ele.
Conseguiu segurá-la pela fina camisola que rasgou.

Com um pedaço do tecido azul nas mãos, Jorge Santino ficou paralisado, vendo como o pesado objeto de madeira atingia Marta em pleno rosto, jogando-a para trás como se fosse uma pena.

O Prefeito levantou-se com o horror destilando de seus olhos, cambaleou em direção à sua esposa.

- Marta! Marta! Não! Não!

Marta não o ouvia mais.

Quando ele abaixou-se junto dela, gritando seu nome, uma grande parte do teto rachou com estrondo, abatendo-se pouco depois, sepultando entre pedaços de concreto e poeira, os corpos do Prefeito de Bela Vista e sua exuberante esposa.

Na rua, o pânico reinava absoluto.

(continua)

 

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Paulo Moreno
Enviado por Paulo Moreno em 21/04/2014
Reeditado em 13/05/2014
Código do texto: T4777684
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