Mundo de Trevas

CAPÍTULO 1 – CÉU AZUL

"When darkness falls

And surrounds you

When you fall down

When you are scared

And you're lost. Be brave

I'm coming to hold you now"

Muse, "Follow Me"

CPPMA, Centro de Pesquisas para Proteção do Meio-Ambiente; em algum lugar no norte do Tocantins, futuro próximo:

Doutor Marcel Calisto estava muito ansioso, andando de um lado para o outro numa das principais salas de controle da instituição. Finalmente havia chegado o dia! Finalmente ele poderia salvar o mundo com o seu projeto genial!

Um dos seus principais assistentes se aproximou com uma prancheta em mãos e avisou que tudo corria conforme o esperado. Faltava menos de uma hora para eles ligarem os aparelhos.

– Então prepare o canhão – ele falou e riu por dentro. No fim, a maneira de salvar o mundo era com uma ferramenta levemente semelhante à da Idade Média, tanta tecnologia para depois voltarmos aos primeiros passos. – E comece a aquecer os propulsores 1, 3 e 6.

Seu auxiliar ajeitou os óculos fundo-de-garrafa e sumiu outra vez para cumprir aquelas ordens. Marcel se sentia realizado, pelo menos pela próxima hora ele seria o homem mais importante da face da Terra. Imagine só, um cientista brasileiro de escola pública que criou uma estratégia aceita pelo mundo todo, aclamada nas Nações Unidas. Ele se sentia quase um... um... Iria proferir a palavra-na-qual-não-acreditava, então ficou calado.

Foi para trás do painel de controle, onde acionaria apenas três botões e iniciaria a experiência. A sua grande experiência!

Mandou chamar o dr, Queiroz, responsável por parte indispensável do projeto como um todo. O homem baixo e gordinho chegou depressa, e Marcel perguntou como estavam os micro-organismos.

– Estão prontos e já colocados nos compartimentos do canhão.

– Ótimo.

Dr. Marcel apertou dois botões do painel, o que causou um grande ruído naquela sala do centro de pesquisas; e todos olharam para o movimento do teto que se abria como num carro esportivo; lá fora, o céu estaria azul não fosse uma fina camada de poluição acinzentada. A boca do canhão no centro da sala se moveu e apontou para cima, pronta para atirar para o alto.

Não se enganem com o arcaísmo da palavra "canhão". Aquele ali era um equipamento extremamente moderno, cercado por circuitos e placas elétricas muito complexas, parecia a arma laser de alguma nave extraterrestre num filme dos anos setenta.

Todos os cientistas pararam de ziguezaguear e ficaram olhando para o dispositivo, fascinados enquanto esperavam a hora em que ele seria acionado.

Dr Marcel aproximou sua mão do enorme botão vermelho no canto do painel. Agora faltava só pressionar aquele botão. Só isso e ele seria história. Olhou para o relógio digital numa das paredes.

Estava quase na hora de se tornar um herói.

***

Simultaneamente, há aproximadamente 150 quilômetros dali:

Como qualquer outra família feliz, voltavam os três do hipermercado pela interestadual, hoje um pouco mais movimentada do que de costume, num silêncio frio e constrangedor.

– Está quase na hora... – comentou Osmar, o pai daqueles dois jovens no banco de trás. Ele olhou para o céu pelo pára-brisa, e sua sobrancelha se ergueu um pouco de preocupação. – "As Trevas estão chegando..." – ironizou, usando a frase-feita que disseram ontem no noticiário.

Nenhum dos garotos respondeu ao comentário. Cléber, com fones no ouvido, estava com a cabeça recostada no vidro, olhando para o árido do cerrado lá fora. Adonias, o caçula, não queria conversar com o pai, os dois haviam brigado (outra vez) há menos de uma hora, na praça de alimentação, sob o olhar de dezenas de pessoas.

E novamente aquele silêncio frio e constrangedor.

Osmar tentava ultrapassar o carro vermelho que rastejava à sua frente, porém com a estrada movimentada daquele jeito isso seria impossível, então se conformou em aliviar o pé do acelerador e esperar até chegar em casa.

"A mente humana tem umas coisas bem engraçadas mesmo", refletiu, um pouco enfadado por não conseguir conversar com ninguém. "Como o medo. O medo é algo bastante peculiar."

O fim do mundo, por exemplo, isso era algo que lhe dava muito medo. E de vez em quando sempre surge um especialista em algum lugar dizendo que há alguma profecia revelando que o mundo vai acabar em poucos dias, e mesmo que todo mundo finja não acreditar nesse sujeito que parece doido falando na TV da sua grande descoberta, quando o dia da sua profecia se aproxima, todos ficam com o coração arriado de medo.

Ainda lembrava de quando tinha um pouco mais que a idade dos seus filhos e um boato semelhante se propagou. "Em 21 de dezembro de 2012 o mundo vai acabar" comentavam em todas as rodas de papo. Ele sabia que era mentira, que não fazia sentido; mas quando chegou o dia, lá estava ele olhando para o céu, nervosíssimo, com um frio na barriga.

"Acho que o medo vem antes da lógica", pensou e sorriu para seu reflexo no espelhinho, orgulhoso da bela frase criada.

21 de dezembro de 2012 foi um exemplo de dia em que Osmar ficou com medo de que o mundo fosse se findar. Hoje, é outro exemplo.

Mais precisamente daqui a catorze minutos. Pontualmente às quatro horas da tarde. O momento exato em que as trevas cobrirão o mundo. É o horário programado para o inicio da experiência Céu Azul (um nome bastante genérico, se considerarmos que os cientistas que trabalhavam nessa experiência se diziam as pessoas mais capacitadas do planeta).

Osmar estava impaciente e tentou outra vez ultrapassar o carro vermelho, talvez por querer chegar logo em casa, passar no conforto do seu lar os prováveis últimos momentos da sua vida. Cruzou para a faixa da direita e viu no carro da frente um cachorro peludo com a cabeça para fora da janela, a língua parecendo um pano velho balançando no ar.

Infelizmente um caminhão vinha em sua direção e ele foi obrigado a voltar para trás.

Assim como em 2012, Osmar lutava internamente para esquecer dessa besteira toda de fim do mundo. Ficava lembrando várias vezes dos especialistas na TV explicando que não havia perigo, seria só por alguns minutos, e então pronto, eles se veriam livres de uma vez por todas da poluição do ar. Mesmo assim, o pai de família não conseguia se acalmar, esse medo era maior que ele. Osmar não queria que o mundo acabasse hoje. Osmar não queria morrer.

Olhou para os dois filhos ali atrás, tão sossegados; irritados com o pai, é verdade, mas sossegados. Ele, Osmar, devia ser o único homem no planeta que estava realmente com medo dessa experiência.

Olhou pro relógio no pulso.

Faltavam onze minutos agora.

No banco de trás, Adonias recebeu uma mensagem de texto da sua namorada no aparelho Vphone. Embora a tecnologia tenha criado milhares de outros aplicativos e ferramentas para aqueles pequenos aparelhos móveis, a maioria dos jovens ainda preferia boas e velhas mensagens de texto apesar de essas terem sofrido várias modificações com o passar dos anos – até porque mensagens holográficas eram muito chamativas e costumavam receber interferência em países como o Brasil.

"Você falou com ele?" Patrícia perguntou, num texto cheio de abreviações.

Adonias preferiu não responder, queria conversar pessoalmente com ela, queria deixar claro que ele estava inconformado com a decisão do pai de outra vez não permitir que Patrícia viesse morar com eles.

O GPS do veículo alertou que um engarrafamento se formara a dois quilômetros dali, para desespero de Osmar, que não estava gostando nem um pouco dessa palpitação no seu peito.

Seus olhos se fixaram novamente no céu. Ainda cinza-azulado. Ainda.

Menos de cinco minutos e Osmar foi diminuindo a velocidade, encaixando o seu carro como uma pecinha de quebra-cabeça na ponta de uma minhoca quilométrica, que era o congestionamento.

O carro vermelho com o cachorro na janela parou na sua frente, e logo outro veículo apareceu atrás do da família Gritten, prendendo-os de vez ali.

No silêncio do interior do imóvel, era possível ouvir um murmúrio vindo do fone no ouvido de Cléber, que escutava Led Zeppelin. Osmar baixou a janela e meteu a cabeça para fora.

– Qual é? Vai demorar muito?

Ninguém lhe respondeu, primeiro porque ninguém sabia qual era a razão do engarrafamento, já que ele começara bem mais a frente; e segundo porque ninguém estava se importando com ninguém. No trânsito, como sempre, era cada um por si.

Algum tempo de silêncio depois, o pai de família fez menção de virar-se para os bancos de trás e dizer alguma aos seus filhos, mas antes de executar esse ato, ele vislumbrou ao longe o que tanto temia:

Muito além daquele congestionamento, talvez até além da estrada, quase no horizonte, uma bruma negra subia ao céu em formato cônico, como um redemoinho.

A cena fez com que todos os motoristas parassem de reclamar ao longo daquela paralisação na interestadual, e ficassem boquiabertos acompanhando a execução da experiência.

Adonias tirou os olhos de celular, Cléber apertou pause na música, Osmar desceu do carro e ficou olhando em pé do lado de fora, assim como muitos outros motoristas estavam fazendo.

A primeira coisa a que ele remeteu aquele espetáculo singular foi o gesto simples de se por café num copo com leite, só que de cabeça para baixo. O céu esbranquiçado recebia aquela torrente preta e se formava uma "poça" escura nas nuvens ao redor do tornado, e essa poça ia se expandindo, expandindo, expandindo sobre as suas cabeças numa velocidade espantosa. Em menos de um minuto a escuridão passou por cima daquele congestionamento, transformado a claridade das quatro horas num lusco-fusco de crepúsculo, e à medida que a poça se expandia ainda mais, dominando todo o céu que Osmar podia ver dali, esse lusco-fusco se enegrecia, até tudo finalmente mergulhar na escuridão plena da madrugada mais profunda.

A maioria dos motoristas ligou os faróis dos carros para amenizar o breu.

A palpitação no peito de Osmar beirava a taquicardia. Seus filhos desceram do carro também.

Aquela interestadual estava mais silenciosa que uma igreja, que um funeral. Ninguém sabia o que dizer, pra que dizer; ficavam apenas olhando para cima, esperando que se passassem logo os quatro ou cinco minutos que os cientistas previram.

Olhando assim, parecia realmente que uma nuvem densa e preta cobrira o céu, mas todos sabiam que se tratava de bilhões de micro-organismos aperfeiçoados em laboratório para devorarem noventa por cento dos gases poluentes da atmosfera. Eles serviam apenas para isso: comer sujeira. Segundo o dr. Marcel, criador do projeto, que dera uma entrevista ontem no noticiário, aquelas criaturinhas iriam subir alguns quilômetros e se estabilizar na estratosfera. Lá, elas se alimentariam e se reproduziriam (através da esporulação) numa velocidade nunca vista entre os seres vivos, espalhando-se por toda a atmosfera terrestre em poucos minutos. Porém, depois que elas devorassem a maior parte dos gases poluentes, naturalmente iriam morrer por inanição, e cairiam na superfície terrestre, como um tipo fino de neve negra.

Demorará cinco minutos no máximo, finalizara o cientista, com um sorriso presunçoso no rosto.

Osmar estava cronometrando. Sem o calor direto do sol, a temperatura caíra uns dez graus, causando-lhe uma angústia milhões de vezes maior que aquela sentida em dezembro de 2012.

Passaram-se três minutos. Faltavam dois.

O cachorro no carro da frente não estava mais com a cabeça na janela, devia ter se encolhido embaixo do banco traseiro. Cães farejam perigo, não farejam?

Adonias cutucou o irmão e apontou para alguma coisa que se movia no árido do sertão, porém, com o tempo escuro do jeito que estava, eles não puderam identificar. E nem teriam como fazê-lo, pois aquela silhueta era muito diferente de tudo o que eles conheciam.

Quatro minutos. Faltava um. Faltava um. Só um. Só mais um...

Bebês começaram a chorar de dentro dos carros alheios. Alguns sujeitos já estavam comentando que não deveria demorar tanto. Outros se afastavam dos seus carros com os braços estendidos, tentando captar sinal de celular. Mas o cientista avisara ontem que enquanto a experiência estivesse ocorrendo, os satélites podiam não funcionar regularmente.

Mulheres choravam. Havia gente gritando que já era pra ter acabado, o céu já devia estar clareando outra vez.

E como um cão, Osmar farejou perigo. Se o céu não clareasse logo, aquele lugar se tornaria um pandemônio.

– Ei, vocês dois. Entrem no carro – ele ordenou aos filhos, que ignoraram. – ENTREM NO CARRO AGORA! – gritou, empurrando-os para dentro do automóvel.

Adonias ainda tentou relutar, resmungou algumas ofensas ao pai, mas acabou obedecendo. Já Cléber, que era mais calado, sentou-se no banco sem protestar, chegou a vasculhar sua lista de músicas, porém não teve coragem de escutar nenhuma. Osmar girou o volante para a esquerda e os pneus da frente mudaram sua rota, então ele acelerou para fora da estrada.

– O que você está fazendo? – perguntou Adonias, assustado, segurando no teto do carro.

– Nos tirando daqui.

Afastou-se apenas uns dois metros da estrada, e acelerou o carro em direção a sua casa. Alguns motoristas viram a solução que Osmar encontrara e começaram a imitá-lo.

Quando eles passaram da origem do engarrafamento – um carro com a dianteira enfiada na lateral de um ônibus –, Osmar voltou para a estrada, agora vazia, e acelerou o máximo que pôde. Já haviam se passado treze minutos do horário em que experiência tinha que acabar. Algo dera brutalmente errado.

Osmar suava. Cléber olhava assustado para o para-brisa, enquanto que Adonias tentava desesperadamente entrar em contato com a namorada. Mas tudo o que os três faziam era inútil.

– Pai, liga o rádio – o caçula pediu.

Depois de várias estações em estática, encontraram uma que pegava relativamente bem. Era um homem berrando que ninguém sabia o que estava acontecendo, que a experiência não dera certo, que a escuridão...

Com o dedo tremendo, o pai de família desligou.

Ao chegarem à cidade, encontraram a perfeita descrição de caos: algumas pessoas queimavam pneus na rua para ter alguma iluminação, embora a energia elétrica das casas funcionasse perfeitamente. Conhecidos da família Gritten estavam agora quebrando janelas e arrombando portas alheias para saquear, mesmo que ninguém estivesse sofrendo por falta de comida.

As trevas só começaram há alguns minutos!

Mas eles pareciam querer se prevenir, não se sabia quanto tempo isso ainda duraria. E como Osmar pensara minutos atrás: "o medo vem antes da lógica".

Ao menos a casa deles ainda estava intacta. Osmar desceu do carro e correu lá para dentro, Cléber fez o mesmo um pouco depois, porém mais devagar.

Encontrou o pai revirando os móveis.

– O que está procurando?

– Lanternas, lampiões, querosene...

– Pai, ainda temos energia elétrica – ele falou, apertando várias vezes no interruptor para provar o que dizia.

– Por quanto tempo?

Sim, Cléber até concordou um pouco com ele. Mas ainda assim não achava que isso era algo com que deviam se preocupar agora. No entanto, ajudou o pai na sua procura.

Adonias estava falando alto lá fora. Quando Cléber e o pai foram ver o que estava acontecendo, encontraram o filho lutando com três desconhecidos ao lado do carro.

Cléber correu até lá para ajudar o irmão, e enquanto eles socavam os sujeitos, Adonias explicou que aqueles caras estavam querendo pegar os mantimentos do porta-malas.

Dois dos desconhecidos fugiram, e o outro ficou jogado no chão, sangrando um pouco no canto da boca. Adonias levantou-o pela gola da camisa e mandou que se mandasse dali.

Osmar, que observara a tudo da porta, voltou para dentro e pegou todas as lanternas que havia encontrado pela casa, levou-as até o carro e as despejou no banco de trás, junto com algumas latas de querosene e alguns enlatados que eles ainda tinham na cozinha.

– Vamos, entrem no carro – mandou, já indo para o volante.

– Para onde vamos? E a nossa casa, vai deixar a porta aberta? – Cléber perguntou, e pela voz, foi a primeira vez que ele se mostrou realmente apavorado desde o inicio dessa confusão toda.

– Nós temos que ir embora. Pelo menos por enquanto, se ficarmos aqui com comida seremos roubados. Entrem!

Adonias, ainda falando com o pai pelo lado de fora do carro, avisou:

– Eu não vou. Tenho que ir ver a Patrícia.

– O quê? Adonias, isso não é hora de discu...

– Pai, eu vou ficar aqui com ela! Não a deixarei sozinha! – fez menção de começar a correr em direção à casa da namorada, mas Osmar o impediu dizendo:

– Entre no carro, no caminho nós passamos na casa dela.

Os dois se entreolharam por um instante. E Adonias fez o que seu pai pedira. O carro disparou em direção a casa da garota, de onde seguiria direto para longe daquela cidade.

Em certo momento do trajeto, eles viram uma mulher ajoelhada no meio da rua, chorando, desesperada, enquanto dramaticamente gritava:

– É o fim do mundo! O Apocalipse!

Osmar conduziu o carro para que não batesse nela e rodeou-a. Nesse instante, Adonias, da sua janela, viu de muito perto o rosto daquela mulher. As duas trilhas que as lágrimas percorriam pela sua face, como riachos, córregos. E ali, naquele segundo, ele teve certeza de que ela tinha toda a razão.

***

Patrícia chorava escondida em baixo da sua cama. Ela não sabia o que fazer. Quando viu a escuridão dominando as nuvens, sentiu-se tão em perigo que lágrimas começaram a rolar sem que ela sequer notasse. Sua mãe havia saído, estava sozinha, e não conseguiu pensar em nada melhor do que se esconder.

A mão direita sobre a barriga, o queixo contra o piso, os olhos focados na porta fechada do seu quarto. Não fazia a menor idéia de quanto tempo passou ali.

Ouviu alguém abrir a porta da frente, pensou em gritar avisando que estava ali, mas ela ouvia os gritos do lado de fora, sabia que muita gente já estava a beira da loucura diante da escuridão, e podia não ser nem a sua mãe nem Adonias a pessoa que entrou. Preferiu se calar e esperar mais um pouco.

E quando a porta do quarto também se abriu, ela teve certeza de que não era nenhum dos dois. Calçava um sapato preto lustrado. O invasor se aproximou da cama. Patrícia tapou a boca e o nariz, com medo que ele ouvisse a sua respiração. Mas foi inútil.

Com um golpe único, aquele alguém lançou a cama dali para longe, como se não pesasse um quilo. Voltou à cabeça para a garota no chão, fazendo com que Patrícia chorasse ainda mais.

Ela tentou se arrastar pelo piso para fugir, mas aquele alguém a segurou pela blusa e a levantou no ar, pressionando-a contra uma parede. Patrícia se debatia, mas não surtia o menor efeito, ele tinha uma força descomunal.

Então aquele alguém entortou um pouco a cabeça com o rosto voltado para o ventre da moça, mostrando-se como um cachorro curioso. Aproximou os seus dedos da barriga de Patrícia e tocou-os de leve nela. Seus dedos estavam melecados com uma gosma viscosa incolor, como um bicho hediondo.

Depois de tocar na barriga da moça, aquele alguém voltou a sua cabeça para o rosto dela, que chorava e chorava e chorava, pois nunca antes vira um homem sem os olhos. Não havia nem os orifícios, era apenas pele normal, evidenciando que desde seu nascimento ele era assim.

Aquele alguém a pegou pelo pescoço, aproximou o seu rosto monstruoso do dela, e sorriu.

FIM DO CAPÍTULO 1 (de um total de 7).

J Sant Ana
Enviado por J Sant Ana em 14/04/2014
Código do texto: T4768719
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