O Espírito de vingança - Final
O ESPÍRITO DE VINGANÇA
FINAL
M. DAMER SIMAS
ESTADOS UNIDOS, NY CITY.
- Eu já disse camarada. São as vozes. São elas que mandam. Eu faço porque sou mandado. É tão difícil entender? O ventilador de teto girava lentamente na sala de interrogatórios, Michael Rudolph questionava o homem que chamava a si mesmo de Morte. Ele não estava algemado e apenas concordou em falar se tivesse cigarros e uísque. Michael perguntou ao bandido:
- Porque você matava essas pessoas seu lixo?
- Eu já disse camarada. São as vozes. São elas que mandam. Eu faço porque sou mandado. É tão difícil entender?
- Você não sabe o que é ter vozes na cabeça, amigo. Eu vou te perguntar mais uma vez! Porque você matou essas pessoas?
- Eu não vou repetir! São vozes, são elas que mandam e eu faço. Você sacou o que eu disse playboy?
- Eu vou sacar a sua cara nessa mesa, seu filho da puta!
Michael agrediu o homem. Martelou a mesa com a cabeça do bandido como se pregasse uma tábua. Sangue escorreu do nariz do interrogado e então ele gritou:
- Para com isso cara, meu rosto!
- Eu vou arrancar os seus dentes, você é como uma das pragas que queimam imensas lavouras inteiras. Você é um câncer que mata a sociedade aos poucos seu porco!
A porta trancada impedia a entrada dos outros policiais na sala de interrogatórios e foi então que Morte ouviu as vozes na cabeça de Michael.
- AGORA MICHAEL! A ALMA DELE! DÊ-NOS A ALMA DELE!
- Mas o que é isso irmão? O que são essas vozes?
Michael caminhou até a porta, destrancou-a e assim seus companheiros entraram na sala correndo. Aos gritos chefe Winstoll o chamara:
- DETETIVE CARL! EM MINHA SALA AGORA!
Era tudo o que Michael precisava. Após ouvir algumas frases e um mandato para tirar férias, Michael não se conteve:
- Tire uma semana de folga rapaz. Isso vai passar. Volte mais controlado e reze para o advogado daquele verme ser um panaca igual a ele.
- Chefe Winstoll, antes que eu vá. Responda uma pergunta se puder.
- Fale Carl.
- O que o senhor sabe sobre feitiçarias?
- Você está de chacota comigo garoto? Por que eu saberia algo sobre isso?
- Almas Michael, Almas. Mate a todos!
- Meu deus... O que é isso?
- É o que você vai me responder se quiser continuar vivo.
Winstoll foi pego em uma sinuca de bico. Sabia que sua vida dependia das respostas que daria à Michael. Aquilo não era uma hora para brincadeiras e nem para teste. Era a hora da verdade.
- Garoto, eu vou contar o que sei sobre isso na sua cabeça.
- Então se apresse. Minha vontade de matar está quase aflorando.
- Enfim, o que controla sua mente não são vozes. Apenas um demônio pode fazer isso. Controlar um corpo em busca de almas. Alguém está tentando fugir do inferno e está usando você como receptáculo para apanhar o tributo do diabo. Nada disso foi de graça meu filho, alguém lucrou vendendo seu corpo para esse demônio. Quem precisava disso em sua casa? Alguém estava doente? Alguém estava para morrer?
- Minha mãe estava doente. Meu pai disse que iria dar um jeito. Eu... Eu não acredito. Meu pai fez isso comigo?
- Provavelmente garoto. Se sua mãe está viva até hoje pode contar com isso.
- O espírito saiu dele quando eu fui prendê-lo em Londres. Eu nunca imaginei que ele mesmo tenha procurado isso e me oferecido. Mas porque o espírito saiu dele para mim.
- Ele sacrificou a si mesmo até que você estivesse pronto Carl.
- Meu nome não é Carl. É Michael. Fale logo. Como eu desfaço essa porcaria?
- Eu não sei filho.
- Então é melhor começar a lembrar, pois se não, logo eu estarei oferecendo seu coração para esse maldito demônio.
- Ok! Você deve voltar para Londres e fazer o feitiço lá! É somente isso que eu sei além do que já foi lhe dito!
- PENSA QUE EU SOU IDIOTA VELHO! EU VOU TE MATAR!
- NÃÃO! É VERDADE!
- Tem um cara no porto que pode confirmar...
- Rush já está morto. Eu espero que a história que vocês dois contaram seja realmente verdade. Se for, você nunca mais verá minha cara, se não for, minha cara será a última coisa que você vai ver!
LONDRES
Michael estava tenso durante o voo. Ele sabia que só teria uma chance de salvar-se do demônio. Não seria fácil. Além de ter que trazer seu pai dos mortos, teria que convencer sua mãe a apunhalar o velho Theodore. Sua mãe era a chave de tudo. Ela sabendo de tudo e confirmando os interesses de Michael, ainda teria que recusar a cura de outras épocas. Certamente apunhalar alguém não estaria nunca nos planos de Rita Rudolph, ainda mais seu pai.
Mais uma vez deixando tudo para trás, fugindo da vida que levava, Michael perseguiria o destino e o esfaquearia no peito. Sua cabeça girava e seus músculos contraiam causando-lhe câimbras horríveis. Sua mente flutuava em diversas ideias. Tudo mudava a cada instante, menos a certeza de que sua mãe não o receberia como um filho, afinal ele era um fugitivo, um assassino, um possuído.
O avião pousou as quatorze horas do dia dez de janeiro no aeroporto internacional de Londres e ele não perdeu tempo. Eram três as missões que ele deveria realizar: A primeira seria ir até o subúrbio londrino e conseguir alguém para o posto de receptáculo. Isso era fácil, pois em qualquer lugar do mundo, cinco mil euros seriam argumentos suficientes para tal. A segunda já se mostrava mais complicada, pois envolvia ir até a catedral da cidade e convencer o famoso padre Atos a realizar juntamente consigo o ritual. Bem, ele iria de qualquer jeito, por bem ou por mal. A terceira era a mais difícil de todas. Convencer sua mãe a matar seu pai. O pai que estava morto e seria trazido a vida. Isso sim seria difícil.
Ele partiu de táxi até o subúrbio londrino. Dali até o submundo da cidade ele teria que seguir a pé. Nenhum taxista se arriscaria a entrar naquele local, pois somente lá se encontrava a escória dos ingleses. Somente lá ele encontraria homens dispostos a aceitar a sua proposta. Por trinta minutos ele andou solitário, somente com seus pensamentos, e encontrou um bar chamado El Gato Negro. Pela aparência do local e das putas que perambulavam pelas ruas, aquele era o lugar certo. Sentou-se em uma cadeira na beira do balcão e Bigg’s o Barman e dono do local o atendeu.
- O que o trás até aqui mauricinho? Não vendemos drogas, só temos bebidas e putas. Qual vai ser?
- Quero uma dose tripla de uísque vagabundo.
- Aqui só tem bebida vagabunda amigo, e vagabundos como vocês não são comuns nessa área – Bigg’s falou enquanto alçava o uísque até a mão de Michael. Conte para o velho Bigg’s aqui. O que você realmente procura?
- O que eu quero é mais forte que drogas, Bigg’s. É mais do que um cara como você pode entender. Na verdade o que importa é como eu vou levar isso aqui dessa espelunca. Conte-me quem desses frequentadores desalmados aqui não tem mais amor pela vida, nada a perder e deseja cinco mil euros. Só preciso de um favor.
- O QUÊ? CINCO MIL EUROS?! O VELHO BIGG’S NEM GOSTA MAIS DESSA MERDA DE BAR! Essa porcaria me dá mais incômodos do que alegria. O que eu tenho que fazer?
- É uma viagem sem volta “VELHO BIGG’S”! Estaria disposto mesmo assim?
- Bem, que garantia eu tenho que você vai me pagar?
- O dinheiro está aqui – Disse Michael pegando as notas no bolso de seu casaco – A única coisa que você tem que fazer é assumir algo em meu lugar. Mas não se preocupe, você não vai para a cadeia.
- Espere aí! Cadeia? Não estou gostando disso! Tem mais. Você está me dando esse dinheiro. E se eu fugir?
- Se fugir, eu mato você. Estamos acertados?
- É astuto tendo em vista o seu tamanho baixinho! E mais, está sendo presunçoso demais. Olha só. Façamos assim: RAPAZES! ESSE ALMOFADINHA TEM CINCO MIL EUROS AQUI! DEEM UM TRATO NELE E QUEM O MATAR PODE FICAR COM METADE DA GRANA!
- Isso não precisava terminar assim Bigg’s!
O bar esvaziou. As putas correram para longe e apenas Bigg’s e mais três capangas ficaram observando um despreocupado Michael degustando seu velho uísque sentado. O primeiro avançou com a faca em punho e tentou golpear Michael. Michael desviou a cabeça e com um golpe forte com a mão esquerda, quebrou o copo de dose no olho esquerdo do capanga. Transpassou o peito do homem com a mão e arrancou o coração com força. Bigg’s e mais um dos bandidos correram. O outro, paralisado, teve seu crânio achatado por uma paulada com um banco de madeira. Michael foi caminhando lentamente até a frente do bar onde um desesperado Bigg’s tentava ligar sua camioneta. O outro se escondeu na parede lateral do El gato negro. Tentou matar Michael com uma punhalada no peito; em vão. Com a própria arma, teve seu pescoço esfaqueado por cinco vezes. Mais um corpo jazia ao chão.
- Não corra Bigg’s! Você vai comigo até o cemitério municipal. Ou por bem ou amarrado!
- Você vai me matar seu monstro!
- Não, eu não vou te matar. Se o quisesse morto, você já estaria.
Não havia mais hipóteses para o velho. O plano começara a dar certo. Agora Michael era o motorista e Bigg’s o passageiro. Guiou até a catedral de Londres onde estacionou o carro de frente ao portal de entrada.
- Não fuja! Se o fizer eu matarei você e sua filha. Entendeu?
- Como sabe que eu tenho uma filha?
- Não importa! Agora espere aqui enquanto eu busco o padre Atos.
Padre Atos preparava o altar quando Michael entrou pela porta lateral. Para surpresa de Michael, o homem lhe falou:
- Você demorou garoto! Achei que seu pai estava errado e você não viria mais.
Michael ficou assustado com aquilo. Respondeu ao padre:
- Padre Atos. Eu não entendo, você estava me esperando? Meu pai falou o que com o senhor?
- Eu sei de tudo Michael. Sei do pacto, sei que você foi prometido em troca da cura de sua mãe. Chegou a hora de desfazer isso. Teodore era um homem bom filho, ele fez o que fez para que você e sua mãe tivessem mais dias juntos. Pediu que eu o ajudasse caso voltasse até esse templo. Ele tinha certeza de que você seria mais forte do que ele e conseguiria controlar esse demônio. Isso tudo foi em nome do amor dele por você e sua mãe garoto. Vocês ganharam dez anos a mais.
- Eu estou confuso. E minha mãe? Ela sabe disso tudo?
- Agora sabe meu filho. Tive que contar a ela quando você sumiu. Alias, ela esta aqui.
- Meu filho. Como eu senti sua falta!
- Mãe?! Meu deus... Ah... Minha cabeça... Está doendo muito! Ajude-me!
- Tem tomado seus remédios meu filho? Ajude-me aqui Atos!
- Que remédios? Eu nunca tomei remédios!
- Michael, você precisa tomar os remédios!
- Vocês devem estar mais perturbados que eu! Já chega disso, eu preciso tirar isso de mim. Vão me ajudar ou não?
- Sim filho!
- Então vamos!
Saíram correndo pela porta da frente da Catedral. Uma forte chuva torturava Londres. O vento uivava e os trovões faziam com que as paredes tremessem. Michael avistou as brancas paredes com faixas cinza... Seus olhos ardiam... Uma fraca luz o torturava. Um relógio fazia um tic-tac infinito enquanto alguma voz martelava seu ouvido. – Michael, Michael você...
HOSPITAL GERAL DE LONDRES - OUTUBRO DE 1996
- Eu rezei tanto meu filho, eu pedi tanto a Deus que você acordasse desse coma.
- Mãe? Pai? Onde eu estou? O que aconteceu?
- Filho, esse é o hospital geral de Londres. Não se preocupe, pois tudo vai ficar bem. – Disse Teodore Rudolph
- O que eu estou fazendo aqui? Que aparelhos são esses? Mãe, que roupa é essa que você está? O Que você tem?
- Acalme-se filho! – Disse Teodore – Você bateu a cabeça quando caiu de uma árvore. Você estava brincando com seu amigo Winstoll. Tiveram que operar você meu filho. Mas agora tudo passou, graças a Deus. O doutor Atos cuidou muito bem de você.
- Não! Quantos anos eu tenho mãe? Pai? Tudo não passou de um sonho?
- Do que você está falando Michael, você tem dez anos e sua mãe não pode fazer força filho, ela também esteve doente.
- Minha mãe doente? O que ela tem? Conhecem alguém chamado Biggs?
- Sim, o enfermeiro Bigg’s você quis dizer? Eu preciso falar algo sobre sua mãe Michael.
- Fale pai, por favor.
- Sua mãe descobriu uma doença quando fez o exame de sangue para doar a você. Mas ela vai ficar bem.
- Minha mãe está doente? Como assim?! Mae!
- Pai, o que a mamãe tem? – Perguntou Michael Rudolph
- Ela... Você é jovem demais para entender Michael. Ela ficará bem custe o que custar, entretanto você tem que saber que certas coisas custam um preço muito caro.
- Tudo bem papai, eu só quero que a mamãe fique bem.
- Você é forte o suficiente filho?
- Porque forte? Ela irá morrer pai? Fale a verdade!
- Não! Sua mãe não vai morrer. Eu vou cuidar disso essa noite. Eu prometo Michael.
- Obrigado papai. Você é meu herói.
- Michael, você está PREPARADO?