Declaração de amor em sangue
Um dia desses, brigamos. Gritei para que você sumisse da minha frente. Você fez frente à minha reivindicação, ficou. Matei você, a sangue frio, um corte na jugular, cenário de horror, a parede manchada, berrando meu crime. Arrastei você até o saco preto, tentei cortei alguns pedaços, fez uma sujeira maldita, até no teto tinha sangue. Sou fraca, falta força para desmembrar. Negro, estava negro tal qual a noite, o sangue, mas quando o dia resolveu nascer, foi ficando avermelhado, apodrecido. Desespero. Tinha tanto sangue, em todo lugar, eu cuspia teu sangue, dormimos abraçadinhos. E eu agarrada em seu tórax gelado. Não me atrevi a levantar a cabeça, ver sua garganta aberta me tiraria o sono.
A campainha tocou. Imagina que eu quase atendi? Tinha esquecido nossa escaramuça. Fiz silêncio, gritaram por mim. Entrega, disseram. Qual nada, aposto que era a vizinha doida para descobrir o motivo da briga. Continuei com meu trabalho sujo, sabão, faca, saco de lixo, jornal, fita isolante. Meu plano consistia em te cortar em pedaços, congelar e aos poucos me livrar do corpo. Mas que eu não consigo cortar nada, fico mole, tenho enjoos. E se eu te enterrar no quintal. Parece uma boa ideia, mas e pá? Não tenho. E abrir um buraco assim, fundo, e se eu não conseguir sair dele? Ai, que dúvida.
O que você acha querido? Enquanto eu tomo banho e tiro o sangue do cabelo loiro, fico pensando nas opções. São tantas. Nos filmes eles não ensinar como se livrar de um corpo sem fazer alarde, ou deixar rastros. Tiro o sangue debaixo das unhas, pinto-as de vermelho. Até agora, estou sem fome. Vou pedir pizza. Jogo um lençol sobre você, ainda de olhos abertos, mirando o jato de sangue no teto, teu próprio sangue. Te amo, querido.
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