O Feitiço do Sapo

Era no início do século XX, em 1915 mais ou menos. Pia e sua mãe moravam num sítio retirado da cidade. Ambas ganhavam a vida como lavadeiras, e era rotina vê-las a caminho de um arroio próximo,, levando grandes trouxas de roupas na cabeça.

Um jovem casal comprou o sítio vizinho por essa época. Eles tinham criação de galinhas e plantavam verduras. Rosa, a vizinha, era quase da mesma idade de Pia, e logo as duas ficaram amigas. Rosa estava grávida de seu primeiro filho e por osso não podia estar ajoelhada na beira do arroio lavando roupa. Então confiou a Pia e sua mãe a lavagem das roupas de sua casa.

Pia, na altura com 19 anos, era uma moça boa, modesta e pura de coração, mas também era muito bonita. Morena jambo, cabelos pretos até a cintura, olhos de jabuticaba, corpo escultural, enfim, o tipo de beleza sensual, mas sua alma era muito inocente, sem maldade. Por isso, ela nem reparava nos olhares que o marido de Rosa lhe lançava, quando ela ia buscar ou entregar a roupa.

Rosa estava longe de ser bonita, e além disso era muito ciumenta de seu marido. Com a gravidez começou a se achar gorda, feia, deformada. Percebeu os olhares de Paulo para Pia e começou a sentir por ela um ódio mortal. Achou que era culpa da moça, que ela devia estar dando trela ao Paulo, e jurou se vingar da descarada.

Exteriormente, porém, nada mudou. Ela se fez ainda mais amiga de Pia, cobria a ela e sua mãe de agrados, a fim de ficar mais perto da presa e dar o bote no momento certo. Quando o bebê nasceu convidou Pia para ser a madrinha, o que ela aceitou com muita alegria. Isso estreitou ainda mais os laços entre as duas casas. Paulo estava apaixonado pela linda comadre e já nem se preocupava em esconder isso. Quando Pia ia a sua casa, ele a abordava de mil maneiras, fazia-lhe propostas de dar-lhe uma vida melhor caso se tornasse sua amante, mas a moça sempre o repeliu. Continuou pura e fiel a sua comadre Rosa, que a odiava cada vez mais...

Certo dia, Rosa foi até a cidade e voltou com um presente para Pia, uma saia de tecido estampado leve, da qual ela gostou muito e passou a usar com frequência. Foi a partir daí que a moça, que sempre vendera saúde, começou a ficar doente. Enfraquecia, pedia peso, e em pouco tempo já não tinha mais forças para ajudar sua mãe na lavagem de roupas.

Consultou um médico na cidade, que a examinou e receitou um fortificante. Mas de nada adiantou. Pia ficava cada dia mais fraca e logo não podia mais sair da cama. Rosa se fazia de muito preocupada e ia vê-a todos os dias, levava garrafadas de ervas, enquanto no fundo vibrava com o progresso de sua maldade.

Pia foi secando, literalmente secando até a morte. Ninguém reconheceria naquele cadáver macerado a linda morena que ela fora. Os compadres providenciaram tudo para o funeral da moça e deram todo o apoio a sua desconsolada mãe, que ficara só no mundo...

Alguns dias depois da morte de Pia, Rita, sua mãe, chorando muito e toda vestida de preto, estava no quarto da filha remexendo em suas roupas. Ao pegar na saia estampada, o presente da comadre de que Pia tanto gostara, sentiu uma coisa dura dentro da bainha. Descosturou e um minúsculo sapinho mumificado caiu em suas mãos.

Quando fora à cidade, Rosa comprara a saia e levara a uma feiticeira de Quimbanda, pedindo a morte da suposta rival. E essa mulher fez o feitiço do sapo, no qual um sapo é morto, o nome da pessoa é colocado dentro de sua boca que é costurada, e a pessoa vai secando juntamente com o sapo, à medida que ele seca...

FIM

Maryrosetudor
Enviado por Maryrosetudor em 13/03/2014
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